Os jovens do Woodstock de 1969 eram assim

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha

Baron Wolman é considerado um autêntico guru da fotografia musical. E mérito não lhe falta. Foi o primeiro editor gráfico da Rolling Stone. Pela sua objectiva passaram nomes como Bob Dylan, Jim Morrison, Janis Joplin, Rolling Stones, ou Grateful Dead. Ainda que o seu preferido seja, e sempre será, Jimmy Hendrix.

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Durante três anos ocupou o cargo na revista e coube-lhe documentar o primeiro Festival de Woodstock, talvez o primeiro mega evento de sempre, que durante quatro dias decorreu numa quinta dos arredores de Nova Iorque e que é considerado o marco fundador da música moderna. Isso entre muitas outras coisas, tanto a nível sociológico, como político, sexual e das liberdades.

Todas as fotografias cortesia Baron Wolman

Tudo isto está tremendamente bem reflectido nas fotografias de Wolman. Imagens a preto e branco daquele Verão de amor, “de paz e música”, como anunciava o cartaz promocional do evento, que são o melhor testemunho que temos hoje de um Festival que reuniu 40 bandas, mas que, sobretudo, foi o momento em que “nasceu e morreu o movimento” hippie, como recorda o fotógrafo.

Antes de uma visita a Madrid, juntamente com Michael Lang, fundador de Woodstock, para uma masterclass na academia “Atomic Garden” e para a inauguração de uma exposição fotográfica que estará patente na “Caja Mágica de Madrid”, no âmbito do evento “Mad Cool”, falámos com Wolman sobre música, estrelas rock, drogas, álcool, Hendrix, o rei do Festival e sobre muita paz entre todos.

VICE: Que recordações tens daquele primeiro Woodstock?

Baron Wolman: As minhas recordações? Bem, a vida era mais divertida, menos complicada e o Festival era um reflexo desse espírito de “vive e deixa viver”. Um espírito autêntico. No que diz respeito ao evento em si, para alguém que gostava de música foi algo irrepetível, repleto de momentos memoráveis, logo desde o momento em que Richie Valens começou a tocar para 300 mil pessoas.

Como é que foi o teu trabalho naquele cenário?

Tirei fotografias, centenas de fotografias, não me lembro de quantos rolos, mas foram dezenas. Naquela altura era tudo mais espontâneo, as bandas não tinham 500 managers e 300 relações públicas e podias aproximar-te deles como querias. O meu trabalho foi, por isso, bastante simples: fiz o que me deu na real gana.


Vê: “Viagem ao ‘Woodstock Cristão’


Que grupo ou artista recordas com especial carinho?

Jimmy Hendrix. Jimmy Hendrix foi rei em Woodstock.

E quem foi melhor, no que respeita a tirares as tuas fotografias?

Jimmy Hendrix, sem dúvida. Manuseava a guitarra como se fosse uma serpente. Mas devo reconhecer que o mais divertido foi tirar fotos ao público. nunca se tinha visto, nem sei se alguma vez se verá outra vez, algo assim.

Em relação ao público, como eram aqueles jovens de finais da década de 60?

Eram geniais. Só pensavam em beber, fumar e fazer amor. Não houve uma única briga durante aqueles dias e, se alguma vez existiu uma representação do espírito livre, foram, certamente, aqueles dias em Woodstock. O autêntico movimento hippie nasceu e morreu ali.

Como é que o universo da fotografia mudou desde Woodstock até hoje?

É um universo distinto. Sempre gostei da fotografia crua, sem manipulações, o que vês é o que é. Agora, tudo leva toneladas de photoshop e não sei mais quantas coisas. não quero saber de nada disso, porque não é fotografia, mas sim ficção científica. É por isso que há anos que não estou interessado em nada que tenha a ver com esse universo.

E o que pensas da música que se produz hoje em dia?

Na verdade, também não me interessa por ai além. Cresci com bandas verdadeiras, que tocavam música. O que existe agora é outra coisa e as excepções – que as há – podem contar-se pelos dedos de uma mão.

Na tua opinião, os Estados Unidos da América são agora um país com menos liberdades que nos anos 60?

Não sei responder a essa pergunta. Eu vivo de uma forma muito simples em Santa Fé, Novo México, e não faço ideia de como vivem os outros.

Tens algum segredo para sacar boas fotos para a capa de uma revista?

O segredo é comunicar alguma coisa: um momento, um flash, uma centelha. acho que é algo bastante intuitivo. De repente acontece alguma coisa que faz com que carregues no botão e essa é a foto que vai sair na capa. Nunca fui demasiado adepto de preparar uma foto, acredito mais na espontaneidade do momento e na minha capacidade para captar algo especial sem ter de me meter a dar instruções.

Obrigado, Baron.


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