Música

A Julia Holter não está nem aí pra jornalistas

Se você, como eu, é viciado em listinhas de melhores discos do ano (é, eu sei, eu não me orgulho disso), você com certeza não escapou do Have in My Wilderness da americana Julia Holter. Classificado por muitos e muitos sites, revistas e blogs (inclusive aqui no Noisey) como um dos álbuns imperdíveis de 2015, o quarto disco de estúdio da artista foi aclamado por seu pop estranho, seus instrumentais elaborados e, claro, as letras metafóricas de Julia.

As comparações com outras artistas também não demoraram a surgir. Por entre os textos apaixonados, alguns críticos tentavam desmerecer o talento de Julia, atribuindo-o a compositoras e intérpretes anteriores a ela: Nico, Kate Bush, Laurie Anderson e a lista segue.

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Mas Julia parece não estar nem aí para a opinião dos jornalistas — nem para as críticas, nem para os elogios. Em entrevista por telefone sobre sua apresentação no Brasil, a americana me disse que considera o que os repórteres e críticos escrevem sobre ela indiferente: “Eu acho que os jornalistas vão sempre comparar músicos com outros músicos — artistas com outros artistas —, é assim que é. Não é meu trabalho prestar atenção em jornalistas, então acho que eles podem fazer o que quiserem (risos)”.

Julia se apresenta em São Paulo nesta quinta (13), junto das irmãs franco-cubanas Ibeyi, pela primeira vez no Brasil. A turnê de Have You My Wilderness levou a artista a muitos lugares novos, segundo ela: China, Japão, Singapura e outros cantos em que seus discos anteriores não haviam chegado antes.

Não é à toa que a artista não preste atenção no que os jornalistas escrevem sobre seu trabalho: por muito tempo, foi o contrário. Apesar de só ter chamado atenção da mídia no ano passado, Julia vem lançando álbuns há quase uma década. Seus discos de estreia, Small Songs (2007) e Cookbook (2008) são compostos por gravações de campo e palavra falada (embora a artista rejeite a noção de que sua música já tenha sido “experimental”).

Julia só viria a abandonar seu formato de composição abstrato em Loud City Songs, de 2013: apesar de o disco ainda trabalhar com o ruído e uma sonoridade ambiente, a canção já se fazia presente. A artista não vê a mudança, porém, como um processo de aperfeiçoamento. “Eu penso em todos os meus álbuns como diferentes projetos, mas não como um ‘desenvolvimento’ ou ‘evolução’ clara, apesar de outras pessoas talvez ouvirem desse jeito — e eu entendo isso totalmente”, conta. “Meus dois últimos álbuns foram diferentes dos anteriores porque eles foram gravados primeiro em casa, e depois regravados e produzidos em estúdio; em colaboração com Cole MGN — ao invés de majoritariamente sozinha —, com músicos tocando, mas isso não significa que eu sempre quero gravar no estúdio, com outras pessoas.”

Por tratarem de assuntos pertinentes a relações afetivas (Julia definiu Have You In My Wilderness como “um álbum de canções de amor”), as canções da artista podem ser tidas como excessivamente pessoais. Julia argumenta que isso aconteça porque ela tem uma “personalidade forte”, mas que não é bem o caso: em “Sea Calls Me Home”, por exemplo, a compositora escreve baseando-se no romance Chance Acquaintances; na faixa-título, ela fala sob o ponto de vista de um homem.

“[Minhas músicas] nunca são sobre mim diretamente. É sempre uma história maior. Mas pra mim tanto faz, que as pessoas acreditem no que as deixa felizes”, conclui.

A Julia Holter se apresenta com o Ibeyi no Audio Club de São Paulo, nesta quinta (13), a partir das 21h. Ingressos​ aqui​.