Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.
Toñi tem 84 anos, é de Balmaseda, Espanha, e com a sua neta faz parte do projecto We Slay, uma plataforma de difusão do feminismo criativo, na qual se dá visibilidade a projectos de mulheres de qualquer âmbito da criatividade com um fim reivindicativo.
Videos by VICE
Ainda esta semana, um dos vídeos que difundiram juntas tornou-se viral. Tratava-se de uma gravação na qual avó e neta falam abertamente de como o sexo mudou entre as duas gerações.
Hoje, Toñi dá-nos melhores conselhos sobre as coisas que aprendeu ao longo da vida.
VICE: Olá Toñi, o que te parece ser o mais importante para uma boa sessão de sexo?
Toñi: Para mim o mais importante são os preliminares. Há que pré-aquecer o forno para fazer um bom biscoito. Muitos homens prestam demasiada atenção à penetração, quando na realidade os beijinhos e o jogo prévio é o que verdadeiramente nos excita. A preparação é o que te põe no ponto.
A hora também é importante para fazer sexo?
Claro. Antes faziam-te um “apanho-te agora e é já aqui”, quando lhes apetecia a eles. Ao meu marido dava-lhe a vontade às três da manhã e queria festa, podem imaginar a minha preguiça.
O que mudou no sexo quando eras jovem para agora?
Antigamente, os homens quando chegavam a casa metiam-na e eram muito brutos. Para eles só existia o mete-tira e não pensavam na mulher. A maioria não fazia ideia, porque ninguém lhes tinha ensinado e muitas mulheres não sentiam prazer quando faziam sexo. Havia quem não soubesse sequer o que era um orgasmo. Entre mulheres, dávamos alguns conselhos umas às outras, mas pouca coisa. Não era bem visto falar do tema. Agora, tem-se muito mais em conta o desejo das mulheres e há mais informação, mas ainda há muito por fazer.
Era melhor antes ou é melhor agora?
Se tivesse que escolher, escolhia o de agora. Agora, a juventude é muito mais experiente. Antes, a maioria das pessoas chegava virgem ao casamento, ou pelo menos era o que faziam crer. E, com o que quer que fosse que se deparassem, era o que iriam ter para toda a vida. A mulher limitava-se a fazer o frete e a fingir orgasmos na cama. Muitas mulheres aguentavam a situação, porque estavam apaixonadas, mas outras nem isso.
Vê: “O que é que se passa com o amor?“
O que achas da ideia de fazer sexo só para procriar?
Bem, acho que devia ser para ser divertido. No sexo tudo é permitido. Antigamente, se não engravidassem uma mulher depois de se casarem, os homens sentiam-se como se tivessem perdido a sua virilidade. Também havia quem fizesse a “marcha atrás” e tirasse antes do orgasmo. Mas, para mim isso da marcha-atrás estraga um bocado a coisa, é terrível. No momento em que estás perto tiram-na. Realmente faziam-nos ignorantes, ninguém nos explicava nada.
O sexo é importante numa relação?
Com os anos fui-me apercebendo de que sim, é importante. Nós não conhecíamos muitas alternativas. Não me teria importado que o meu marido tivesse tido os seus casos de solteiro, para que tivesse aprendido mais coisas.
Qual é a pior maneira de mostrar a alguém que queres fazer sexo com ela?
Ser bruto. Por exemplo, havia um rapaz da minha terra de quem eu gostava muito, mas só à distância. Quando se aproximava, tirava-te logo as cuecas. Estas coisas assim brutas a mim não me caiem bem.
É preciso estar apaixonada para que o sexo seja melhor?
Não é necessário. Se é um homem giro e de quem gostas, também serve, ainda que seja sempre uma experiência mais completa quando há aquelas borboletas no estômago. Eu, pelo que vivi, sou mais pessoa de me apaixonar.
Fazer amor e fazer sexo é igual?
Vai tudo junto, o que não é necessário é estar apaixonada para fazer amor.
Vê: “A indústria do amor na era dos smartphones“
Se tivesses nascido há 20 anos, terias tido vários casos antes de te casares?
Claro que sim. Isso nem se pergunta. Com homens de qualidade, isso sim, que tivessem em conta o que eu gosto. Antigamente era impensável fazer isso. Não imaginam a fama que tinham as mulheres que iam com uns e outros… Chamavam-lhes de puta para cima. Se fossem eles a fazer o mesmo ninguém lhes dizia nada.
O que é melhor, quantidade ou qualidade?
Qualidade, obviamente. Quanto mais desfrutes melhor. Também é verdade que as que têm mais experiência, desfrutam mais.
Há quem pense que os jovens agora começam a fazer sexo mais cedo. Há uma idade para começar?
Quando o corpo te o peça. É algo muito bonito se for bem feito e com respeito.
O que pensas das pessoas que não desfrutam da sua sexualidade?
Dá-me pena, na verdade. Há gente que foi enterrada sem sequer saber o que é um orgasmo. Na minha época, dir-te-ia que eram um 80 ou 90 por cento das mulheres. Muitas amigas minhas comentavam-me que não sentiam absolutamente nada – e fingir não serve de nada.
Qual é a melhor maneira de aprender a ter melhores orgasmos?
Tocar-se a si própria é uma boa maneira. Quando tive namorado pela primeira vez, soube que se podia fazer isso. Também podes praticar com alguém e, sobretudo, dizer-lhe do que é que gostas.
Que conselho darias aos jovens sobre amor e sobre sexo?
Que façam tudo o que sabem e também o que não sabem. Que, se vêem que gostam de algo, não se cortem, porque isso é o mais bonito da vida.
Podes seguir a Toñi e a sua neta em We Slay.
Segue a VICE Portugal no Facebook , no Twitter e no Instagram .
Vê mais vídeos , documentários e reportagens em VICE VÍDEO.