Este artigo foi originalmente publicado na VICE México.
Em 1987, desafiado pela estação de televisão britânica BBC, o realizador David Lynch apresentou no programa “Arena”, uma série de obras cinematográficas surrealistas. Enquanto navega por excertos de filmes de Luís Buñuel, Man Ray e Fernand Léger, entre outros, Lynch contextualiza o momento histórico da criação das obras e, para além disso, realça a influência das mesmas no seu próprio trabalho criativo.
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Tanto nas obras que apresenta, como na filmografia de Lynch, há uma constante, que passa pelo desenvolvimento da história sem um fio condutor definido. Este documentário, no entanto, não tem nada a ver com isso. Está estruturado e é conduzido de forma determinada pelo anfitrião. Lynch apresenta os excertos, reveal pormenores e situações engraçadas, contextualiza, relaciona as repercussões de cada um e sublinha o impacto que lhe causaram.
O realizador norte-americano afirma que o surrealismo é o inconsciente a falar e salienta que se identifica com isso de uma forma muito particular.
E, pelo meio, como se estivesse a descrever-nos uma receita de massa caseira, Lynch explica o conceito surrealista da sua arte: “Acredito que os filmes devem ter uma história à superfície. Mais abaixo, no entanto, acontecem coisas abstractas, que vivem em zonas onde as palavras não podem ajudar a exploração. Zonas inconscientes”.
Comenta ainda que a sua maior influência foi a cidade de Filadélfia, onde nasceu Man Ray, e descreve-a como uma das metrópoles mais doentes, corruptas e decadentes que existem. O cineasta dá mostras de estar preparado para falar do tema de forma bastante erudita. Não só sabe tudo sobre cada artista, como conhece a situação histórica e o contexto da criação em que cada obra se manifesta. Explana ideias com segurança e fluência. Um ano antes, Lynch tinha sido nomeado para o Óscar pela realização de Blue Velvet.
Aparentemente, neste documentário da BBC Lynch está numa sala de cinema, com um projeccionista chamado Paul e um cameraman, invisível, enquanto nos leva numa viagem pela vertente cinematográfica de uma das vanguardas artísticas mais experimentais so século passado. E acaba mesmo por elencar nove obras que considera fundamentais para entrarmos no cinema surrealista. Entre elas, Un perro andaluz, de Luis Buñuel e Salvador Dalí, e Discs, de Marcel Duchamp.
No cinema, o surrealismo econtrou uma forma de explorar novas possibilidades de expressão. A capacidade de reproduzir o movimento era algo mais ou menos recente. A exploração levada a cabo por estes artistas iluminou caminhos que viriam a ser percorridos por vários criadores que vieram depois.
A dada altura, Lynch avisa que na obra de Renny Claire aparecem Marcel Duchamp e Man Ray. Noutro momento, apesar de lembrar que a calhandrice não é o estilo da BBC, revela um alegado caso amoroso entre a actriz e cantora Libby Holman e o actor Montgomery Clift. Realça ainda as maravilhas da união Buñuel/Dalí, entre muitas outras coisas igualmente magníficas.
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