Música

Não deixaremos o atentado em Manchester abalar nossos espíritos

Texto originalmente publicado no Noisey UK.

Não era pra ser assim. O que deveria ter sido uma enorme festa durante a apresentação de Ariana Grande em Manchester na segunda-feira (22) tornou-se palco de um atentado suicida cujo alvo era crianças, jovens, LGBTs — o grosso dos fãs de Ariana — bem como seus pais e companheiros. Deixarei as especulações para quem está aí nas redes sociais irresponsavelmente não seguindo os conselhos das autoridades. Não é hora de apontar dedos. Resta o silêncio enquanto processamos o ocorrido, desejando não ter assistido aos vídeos trêmulos gravados naquela noite e pensando naqueles cujos entes queridos eles nunca mais verão.

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Não é hora de transformar o luto em ferramenta de manipulação. O melhor que podemos fazer é nos conceder o espaço necessário para entender o impacto de mais de 20 mortos e mais de 50 feridos, incluindo aí crianças. É hora de ouvir e não criar hipóteses, nos prender ao conforto e alegria que qualquer um que já economizou pra ir a um show na adolescência, ouvindo o artista favorito repetidas vezes, lembrará.

Este foi um ataque à alegria de ser jovem num show, no final das contas. Tinha gente ali que muito provavelmente estava em seu primeiro grande show, o primeiro contato com uma estrela pop na sua cidade. Suas memórias certamente serão permeadas pelo trauma para sempre. Na imprensa em geral, temos uma responsabilidade de tentar minimizar este trauma ao abordar o tema com sensibilidade e mantendo distância de quem esteve ali e não quer contato com a imprensa. Como veículo voltado à música em especial, estamos do lado de Manchester. Não baixaremos a cabeça para quem quer nos amedrontar, quem espera estragar nossas vidas de vez, quem deseja que nem puséssemos os pés ali naquela noite para cantar junto algumas canções pop direto do coração sem se preocupar se cantamos bem ou não. Não recuaremos diante daqueles que usam o terror como arma contra sermos nós mesmos.

Após cada ato de horror, nossa imprensa entra no modo turbo em um ciclo de 24 horas para falar sobre tudo que não sabemos. Se você está sentindo aquela tristeza no fundo da alma hoje, aconselhamos que converse sobre tudo que está sentindo com alguém que você conhece e confia. Pedimos ainda que acompanhe veículos que fornecem informação de confiança — como a polícia de Manchester, o serviço de doação de sangue da NHS — evitando assim imagens enganosas que podem levar a ainda mais dor. Escute quem precisa ser escutado. Se você conhece algum jovem que está particularmente preocupado após o ataque, órgãos como a Childline e a NSPCC dão orientações de como você pode lidar com eles.

A noite de segunda-feira representa o pior ataque terrorista já sofrido por Manchester, mas a caminhada rumo à recuperação já teve início. Ariana Grande construiu sua carreira com base em mensagens de amor e aceitação. No papel de artista que ensinou garotas a se defenderem, encorajou LGBTs a terem orgulho de seu amor e afastou misóginos de seu caminho, Ariana ajudou a forjar uma comunidade que seguirá verdadeira ao que significa amar música: a euforia que se sente ao ouvir os acordes iniciais daquele som; o elo entre você, seus amigos e a música que serve de trilha para o tempo em que passam juntos.

O show de ontem não deveria ter sido assim, mas o poder transcendental da música e a resiliência de Manchester ajudarão a lidar com o que restou. Vá a shows pequenos, vá a shows grandes, não permita que um medo inominável restrinja sua vida. Me peguei ouvindo a versão a capela de “Dangerous Woman” cantada por Grande nesta manhã, encontrado conforto em seus contornos. Em momentos onde é fácil se sentir impotente, retornar à santidade da música que te levanta pode — ao menos agora — oferecer algum consolo. Isto não pode abalar nossos espíritos.

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