Marcelo e Costa. A fanfarronice do Bloco Central versão “espírito de equipa”

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A novela política da semana passada, que teve como protagonistas três das principais figuras do Estado, fez-nos confirmar o seguinte.

MARCELO REBELO DE SOUSA (presidente da República): Uma coisa é cooperação institucional, outra é imiscuir-se na querela entre elementos do executivo – ao defender o dirigente máximo de São Bento e deixar Centeno numa posição frágil. Marcelo parece ter perdido a noção do cargo que ocupa e retoma o papel de comentador. Será que o professor (e antigo líder social-democrata) quer ser militante do PS?

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ANTÓNIO COSTA (primeiro-ministro): Foi igual a si próprio. Quando há problemas, a culpa é dos outros ou atira areia para os olhos dos portugueses. Para evitar adensar a polémica de não estar alegadamente ao corrente da transferência dos 800 milhões de euros para o Novo Banco, lançou a recandidatura de Marcelo. A sua “política de oficina” chocou os socialistas que preferem um candidato próprio. O momento da comunhão com o presidente deu-se na Auto-Europa.

MÁRIO CENTENO (ministro das Finanças): Deve ser o senhor que se segue no comando do Banco de Portugal. Se não houver ninguém que o queira para “mordomo” no estrangeiro (ele que é presidente do Eurogrupo), Centeno sabe que o papel de regulador doméstico passa por ser “cego, surdo e ingénuo”. Por cá, é escandaloso que não se toque – ou mande para a choldra – os devedores ou sacadores do Estado. Queres ser o maior entre os burlões? Cria uma imparidade do tamanho do planeta, que haverá governantes e tribunais a dar benesses e palmadinhas nas costas. Quem fiscaliza só tem de fazer figura de corpo presente.

De certa maneira, este episódio com o trio Marcelo-Costa-Centeno foi mais uma fanfarronice made in Bloco Central.

Embora seja inegável o contributo para a estabilização da democracia (com o auxílio prec$oso da União Europeia), aparentemente ao longo das últimas décadas, PS e PSD – sem esquecer o CDS como cúmplice privilegiado – normalizaram a troca de lugares nas administrações de empresas públicas ou privadas; agacharam-se à elite desportiva; deram a anuência a estranhos ajustes directos para agradar os seus boys e girls; “apropriaram-se” quase sempre da justiça como forma de proteger os seus interesses ou, para fechar com logro de ouro, fizeram contratos e acordos ruinosos com a banca – caso do Novo Banco.

E como se têm comportado Marcelo e Costa?

São diversas as vezes em que o PR deu a mão ao PM, tendo ambos ficado satisfeitos com o afastamento da antiga Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal. Terá sido por causa da Operação Marquês e do Caso Tancos que o “espírito de equipa” entre os dois se solidificou?

Se a novela das armas roubadas-devolvidas inclui capítulos rocambolescos, Sócrates e Salgado são fantasmas que pairam em cima de um regime há muito em crise. O primeiro deixou a credibilidade do PS de rastos e, ao que tudo indica, o ex-banqueiro meteu “galácticos” da política e da comunicação social no bolso.

As brumas do tempo fizeram menorizar o facto de termos tido jornalistas avençados pelo saco azul do BES. Como a lista dos profissionais envolvidos continua a ser desconhecida desde o aparecimento dos Panama Papers (escândalo bem explicado no filme The Laundromat, na Netflix), é assustadora a possibilidade de algumas dessas vozes ainda influenciarem os media de maior gabarito.

Num ano incaracterístico, só os políticos para devolverem a normalidade com as suas manobras de diversão. Não é esta a rotina de que temos saudades, muito menos que nos relembrem de que os custos do Fundo de Resolução com o Novo Banco têm o carimbo do Bloco Central. A pobreza do país real não merece estas constantes (e medonhas) injecções financeiras.

Até quando vão durar as juras de amor à banca?

Adenda a 20 de Maio: Nesta quarta, o jornal Público noticia que “Remuneração dos gestores do Novo Banco disparou 75% com Lone Star”. Ao que parece, quanto mais prejuízo houver, distribuem-se mais prémios. Se a isto juntarmos ao que se passa na TAP, o descaramento atinge níveis bíblicos.


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