Nunca esquecerei o dia em que REALMENTE entendi a utilidade de uma boa música de transa. Era o ano de 1998 e o amor da minha vida (naquela semana) tinha me traído com uma piranha que ele conheceu numa festa de fraternidade para a qual, pra começo de conversa, ele era muito novo pra ir. Liguei para minha prima Jenn, que apareceu com seu Geo Tracker azul-pólvora e me levou de Nova Jersey até o Queens para conhecer o meu amor secreto do bate-papo da AOL (era capaz de ele ter 65 anos, mas ainda bem que ele não mentiu pra mim). Chegamos lá e eu e ele subimos para seu quarto na casa de sua mãe, que estava arrumado de forma romântica com mantas cobrindo as janelas e lençóis do Naughty By Nature cobrindo a cama de baixo do beliche. Enquanto ele tirava as meias Nike com seus dedos dos pés, colocou para tocar uma música pra dar um clima: “Doo Wop (That Thing)”, da Lauryn Hill.
Por que você se importaria com isso? Porque sim. Quem, em sua lucidez, colocaria o primeiro e último hino feminista de auto-amor da Lauryn Hill enquanto estou sentada lá tentando fazer sexo por vingança? Fiquei dominada pelo sentimento “don’t be a hard rock when you really are a gem” (“não seja uma pedra dura quando você é uma pedra preciosa”) e me sentei rapidamente (batendo minha cabeça no estrado de madeira da cama de cima do beliche). Então dei o fora dali, deixando uma boa dose de dor nas bolas como presente de partida para ele. Então veja, se suas músicas de transa são um saco, elas serão os únicos sacos que terão atenção na noite. Marsha Ambrosius, Rainha da Música de Transa, deu-nos talvez o melhor guia passo-a-passo de como cria suas músicas para transar. Seu EP FVCK & LOVE, recentemente lançado, é cheio delas (sem mencionar o álbum no forno,Friends & Lovers, que sai em julho), mas a Srta. Ambrosius também lançou inúmeras faixas de rappers com suas insinuações, trabalhando com tipos como Game, Nas, Common, Outkast, Kanye West, Fabolous e a lista continua. Ela analisa sua estratégia abaixo. Agora que você conhece seus segredos, o que você vai fazer com eles? Continue trepando sem parar.
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OS MANDAMENTOS DAS MÚSICAS DE TRANSA
ESTEJA NO CLIMA
Estou sempre no clima, então isso não é um problema. Você tem que estar no clima para criar uma música para transar. Meu pensamento sempre vai para aquele lugar de qualquer forma. Isso nunca é uma questão.
TENHA UM ALVO
É mais que provável que eu tenha uma pessoa em particular em mente para quem estou pensando em dar naquela noite, o que centelha minha abordagem de como vou criar essa música. Seja alguém com quem eu ainda não fiz sexo ou um pênis de que estou sentindo falta e desejando mais uma vez. Isso entrega o ângulo da música. Pode ser “sinto saudades desse pênis” ou “eu quero muito aquele lá”.
TENSÃO SEXUAL É ESSENCIAL
Dependendo do produtor com quem estou trabalhando tem que ter algum nível de tensão sexual para eu entrar e extrair deles o que eu preciso. Por exemplo, quando eu criei “69”, tem um excerto vocal que um dos produtores usa, Kosine (do Da Internz). É quase como uma respiração… ele inalou meu corpo inteiro, cuspiu em mim, me deu um tapa na cara e enfiou bem, mas bem fundo. E isso acendeu a forma como abordei a música. Então quando você a escuta, parece que isso está acontecendo com seu corpo. Então não é apenas uma música. É uma experiência sexual.
CLIMA PARA ESSA TRANSA
É aqui que começo a ficar metida a besta. Se estou na cabine preciso que apaguem todas as luzes. Por algum motivo não consigo me concentrar com as luzes acesas. As luzes se acendem depois, quando quero realmente ver com quem estou fazendo sexo ao ouvir essa música. Mas durante o momento, diminua as luzes. Isso definitivamente cria um clima. Então quando estou cantando, sinto como se estivesse envolvida em lençóis de seda suados ou deitada numa praia à meia-noite sendo mordida por todos os mosquitos, mas você não se importa, porque está tendo o melhor sexo da sua vida.
SEJA EXPLÍCITO COM SEUS DESEJOS
“Say Yes”(do Floetry), por exemplo, levou-me dois minutos para fazer. A razão de ter levado dois minutos é porque eu estava tão certa e era tão claro que tudo que eu queria fazer era transar com essa pessoa, que minha caneta não me deixava mentir. Então quando eu ouvi a música que o Andre Harris estava surgindo – ele tocou as notas – pareceu como se aqueles dois últimos momentos fossem um golpe fundo de paixão do qual você não pode escapar dentro daquele gozo. Então tudo o que você tem que fazer é “Gozar! Gozar!”. Foi isso que ouvi na música. Então você só tem que dizer sim, não negar o que você sente. Deixe-me te despir, gato. Não me dei conta de que eu estava sendo tão direta na minha abordagem. Algumas mulheres deveriam ser submissas, e eu deveria deixar que ele abordasse a situação, deixá-lo iniciar a coisa toda. Nem. Eu quero você e vou te dizer isso.
SEXO NOVO, MATERIAL NOVO
“Freaking Me”(Jamie Foxx com Marsha Ambrosius) foi sexo novinho em folha. Eu nunca tinha transado com essa pessoa antes, e a abordagem foi que uma parte de mim queria uma parte de você. Então foi meu jeito convencido de dizer que eu na verdade não quero te conhecer. Meu corpo quer seu corpo e pronto. Sem compromisso. Nós começamos a flertar um com o outro, então o que estamos esperando? Seus lábios já estão pressionados nos meus. Não me provoque. Vamos fazer logo de uma vez e nos preocupar com as consequências amanhã. Se for preciso. Simplesmente transe comigo e pronto. Então quando você chega no fim da música é quase como se você encontrasse esse nível de paixão em que, por aquele décimo de segundo, você estava apaixonado. No entanto, não é amor, e é como eu acho que muitas situações são construídas de forma errônea, porque você está completamente envolvidaem seus sentimentos por causa de um bompênis. E eu entendo isso. Entendo completamente, mas há outras músicas para tais momentos.“Freaking Me” foi um desses momentos, então obrigada, Jamie Foxx, por ter aquele nível de intensidade sexual durante a música, quando as pessoas acreditavam que era isso que estava acontecendo. Quando aquela música começa, você sabe o que está prestes a acontecer.
SEJA ASSERTIVO
Uma música que vem à mente é “With You”. Estou a caminho da sua casa. Eu não sei quem está lá e não me importo se você está com outra mina. Nesse momento não me importo com todos esses sentimentos e emoções. Só quero estar com você, e o que custar para isso é o que estou disposta a fazer. Inicialmente era realmente apenas uma conexão física, mas agora tudo o que faço é pensar nessa pessoa – seja no sexo, seja nas conversas. Agora é tudo. Agora ultrapassamos uma outra linha do que estamos prestes a fazer. Então no refrão da música, quando estou [canta gemendo], pode ser sobre sexo ou sobre entrar nesse jatinho particular e nos mandar para Paris rapidinho. Era qualquer coisa que eu queria fazer com aquela pessoa, porque ela era tão incrível, e o sexo era tão incrível que tínhamos que nos levar a esseponto.
“SIMPLESMENTE ME COMA NA MÚSICA”.
Para eu poder criar essa chama, musicalmente tem que ter uma conexão sexual entre a música e minha abordagem de tornar o som em um som de transa. Quando você escuta a música, ela meio que explica a parte em que tem a ver com sexo. Tipo, às vezes pode ser um som muito profundo e emocional demais, e não ter mais nada a ver com transas. Agora você está envolvido em seus sentimentos porque os acordes são muito melancólicos, e não tem sedução nenhuma ali. É tudo sentimento. Encorajoqualquer produtor com quem estou trabalhando a apenas me comer na música. E o que quer que isso signifique é o que a música apresenta.
INIBIÇÕES FICAM DO LADO DE FORA
“So Good” liricamente, do início ao fim, é tudo o que inicia um sexo ótimo. Não um sexo bom – um sexo ótimo. A partir do primeiro verso, “I can tell by looking at you, that thing is good” (“só de olhar pra você dá pra saber que o lance é bom”). Isso é qualquer coisa que você pode curtir. Deixo aberto para sua imaginação, parabrincar com isso da forma que você queira. Algumas pessoas curtem umas paradas bem depravadas. Simplesmente não dá para saber. Tipo, olhando na superfície você pensa algo como “Eles provavelmente são baunilha”. Nada. Eles curtem umas paradas pesadas. Então eu não quis ir muito fundo graficamente e entregar os segredos das pessoas, mas na minha abordagem eu estava tipo: “hmmm, só de olhar para ele eu sei com que ele está trabalhando. E se ele não estiver, posso ensiná-lo, porque estou tão afim dele que o quero agora”. Então quando você chegar no meio da música, você está puxando meus cabelos, você está no meio das minhas pernas, beijando meu pescoço e eu arranhando suas costas, eu digo “gato, vai em frente, vai fundo”. Faça. Faça como queira comigo nesse ponto, porque já estou no ponto em que meu corpo está para explodir, então você pode muito bem explodir comigo.
SAIBA A DIFERENÇA ENTRA UMA MÚSICA DE TRANSA E UMA MÚSICA DE FAZER AMORZINHO
Realmente começa com a música. Ao fazer músicas para fazer amor, a música tem um nível de sinceridade e de quão melódica ela me parece. Esse exemplo pra mim seria “Your Hands”. É uma música de fazer amor; definitivamente não é uma música para transar. Com aquele a quem você se entregou, a quem você admitiu seus sentimentos e basicamente entregou seu coração. Estou colocando meu coração em suas mãos, não me parta ao meio. Sei o que sinto por ele. Nos deitamos nessa cama, e quando gozamos juntos é real. Não é forçado e instável como “acabamos de sair da balada e estamos prestes a transar. Vou acordar e pensar tipo ‘cadê meus sapatos e qual é seu nome mesmo?”. Tem uma diferença.
TENHA SUA MÚSICA PARA TRANSAR FAVORITA
Eu tenho até demais. “Come Live With Me Angel”, do Marvin Gaye (acima), é na verdade ótima. “Fool Of Me” da Me’Shell Ndegeocello é uma ótima música para se ouvir durante o sexo. “Feel All My Love Inside” do Marvin Gaye também é outra bem louca. “Make Sure You’re Sure”, do Stevie Wonder, “Crazy You”, do Prince. O álbum Purple Rain inteiro do Prince pode ser uma experiência incrível. “Sensuality Parts 1 & 2” dos Isley Brothers, uau!
Tem uma outra do Prince, do álbum 3121, uma música chamada “The Dance”. Ai. Meu. Deus. Estou falando de um tipo de sexo de explodir a mente. Escrevi a música mais triste já feita depois de experienciar esse tipo de sexo. Foi o tipo de sexo de correr para o banheiro. Eu estava com meu celular porque liguei para minha mãe logo depois do sexo. Estava convencida de que eu estava tendo um infarto. Foi a parada mais engraçada da história. Não é segredo, meus amigos podem te contar. É por isso que eu crio a música que crio: porque esse tipo de coisa acontece comigo. Pensei que estivesse tendo um ataque. [Minha mãe] falou tipo “Calma, você simplesmente teve o orgasmo mais real que você já teve na vida”. E eu falei tipo “Não. Não consigo me mexer”. Eu tive um orgasmo “Ligue Para Sua Mãe”. Se “The Dance” estava tocando? Na verdade talvez tinha uma TV ligada ou um barulho defundo. Mas eu ouvi música, isso eu posso dizer com certeza.
O segundo LP solo da Marsha, Friends & Lovers, será lançado no dia 15.07 pela RCA Records.
Kathy Iandoli deixou um rastro de dor nas bolas na sua época. Sigasua destruição testicular no Twitter – @kath3000
Traduzido por: Julia Barreiro