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Os melhores tatuadores de Nova Iorque baixam as calças e mostram-nos as suas primeiras auto-tatuagens

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

Para aprender a tatuar é preciso pele. Sim, pele falsa e outros tipos de materiais sintéticos estão à disposição dos artistas para praticarem, mas a opinião geral dentro desta indústria é que as peles alternativas são uma porcaria. Só podes realmente aprender a tatuar se tatuares a sério e os tatuadores tendem a usar a pele que está mais à mão: a pele das suas próprias pernas.

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Alguns dos mais prolíficos tatuadores – que estão frequentemente cobertos de tatuagens brutais dos pés à cabeça – mantêm os seus primeiros trabalhos escondidos dentro das calças. Fui falar com os artistas dos estúdios Saved Tattoo, New York Adorned, Greenpoint Tattoo Company, e o Kings Avenue Tattoo para saber como começaram a dominar técnica e estilo ao tatuarem-se a eles próprios.

John Reardon, PROPRIETÁRIO da Greenpoint Tattoo Company

Tatuagens próprias: dragão, prova de cinzentos. Todas as fotografias por Graham Hiemstra.

VICE: Quando é que fizeste a tua primeira tatuagem? E quanto tempo passou até te auto-tatuares pela primeira vez?
John Reardon: Eu fiz a minha primeira auto-tatuagem caseira no 11º ano. Foi um círculo ridículo e as barras dos Black Flag. Depois fizeram-me a primeira tatuagem profissional em Janeiro de 1996, no meu último ano de escola. Tinha 18 anos. No primeiro ano da Universidade fiz a minha primeira auto-tatuagem a sério – um delineado que acabou por cair – e, depois, no ano a seguir fiz o dragão.

Fala-me mais sobre essa primeira auto-tatuagem?
Delineei com tinta Pelican um ornamento celta por cima do joelho, que acabou por cair. Usei a tinta errada. Ainda bem que a minha perna ficou no sítio. Essa foi a minha primeira vez e não conseguem imaginar o quanto me ardeu pelo joelho abaixo. Mas, ao cair completamente, deixou-me uma cicatriz e foi nesse sítio que um ano depois fiz o dragão.

Estava em casa dos meus pais e o meu pai começou a mandar vir, porque era suposto desenhar-lhe um dragão igual e ainda não tinha feito nada. Eu estava ali a tatuar-me e ele fulo da vida. Só me dizia: ” Mas onde está o meu dragão?”. Desculpa pai. Eventualmente acabei por desenhá-lo.

Depois de te auto-tatuares quanto tempo esperaste para tatuar outra pessoa?
Oh, atirei-me logo de cabeça. A primeira tatuagem que fiz foi no joelho de um amigo. Depois apareceu montes de gente com vontade de ser tatuada. Realmente não precisei de me tatuar assim tanto. E não pensei duas vezes, porque sabia que o tinha de fazer. Eu sempre precisei de praticar mas, de todas as formas, todos temos de tatuar-nos alguma vez. É simplesmente algo que temos de fazer.

Will Sheldon, Saved Tattoo

Tatuagens próprias: palmeira e pirâmides, punhal, cobra negra, rato, tubarão, globo, borboleta.

VICE: Quando é que fizeste a tua primeira tatuagem? E quanto tempo passou até te auto-tatuares pela primeira vez?
Will Sheldon: Eu comecei a ser tatuado regularmente há cinco anos atrás, com 17 anos. E comprei a minha primeira máquina em 2011.

Qual foi a tua primeira auto-tatuagem?
A pirâmide com a palmeira e o punhal foram as primeiras. Fiz as duas no mesmo dia. Tinha um livro de esboços do Sailor Jerry onde estavam esses desenhos e pensei que seriam umas tatuagens bastante simples e divertidas de ter.

As tuas pernas foram a principal inspiração para esta reportagem. Porque é que te auto-tatuaste tanto?
Estava a queimar tantos, mas tantos amigos, que pensei que era hora de fazer isso a mim próprio. Depois de ver todas as tatuagens horríveis que fiz já curadas, pensei, “Meu Deus”. Este foi o momento em que me apercebi que tinha de continuar a tatuar-me para praticar. São essas tatuagens que todos os dias me recordam como era um péssimo tatuador na minha fase de aprendizagem. Mas é muito importante. Ter feito tatuagens péssimas faz parte do processo. Estão aí para te lembrar de onde vieste.

Frankie Caraccioli, Kings Avenue Tattoo

Tatuagens próprias: caixão com teia de aranha, estrela, e rádio.

VICE: Qual foi a tua primeira auto-tatuagem?
Frankie Caraccioli: Uma estrela. Foi para praticar as linhas rectas. Parecia suficientemente simples, mas era demasiado simples – cada erro via-se com muita facilidade. Devia ter feito algo com menos detalhes, como um esboço. Qualquer desvio ou movimento em falso já se notava.

Depois de te auto-tatuares quanto tempo esperaste para tatuar outra pessoa?
Foi exactamente na mesma noite em que fiz a estrela – numa festa de máquinas de tatuar. Tatuei a estrela, depois tatuei um amigo e voltei a tatuar-me, desta vez o rádio que tenho no meu tornozelo direito.


Bart Bingham, New York Adorned

Tatuagens próprias: rosa verde, isqueiro bic, caveira

VICE: Quando é que fizeste a tua primeira tatuagem? E quanto tempo passou até te auto-tatuares pela primeira vez?
Bart Bingham: Tatuei-me antes de ser legal ter uma tatuagem. Fiz a minha primeira tatuagem legal com 18 anos e tatuei-me a primeira vez com 16, mais ou menos. O meu amigo James, da Escola Secundária, trabalhava num estúdio de tatuagens e como eu sabia desenhar estava sempre a encher-lhe a cabeça tipo, “Oh, isso é fácil, eu conseguia fazer isso”. Um dia ele fartou-se, preparou todo o material, agarrou numa máquina e carregou no pedal. A máquina começou a funcionar e ele disse: “É assim que funciona. Vá, tatua-te”. Tatuei-me e foi um desastre. Era muito mais difícil do que pensava.

Depois de te auto-tatuares, quanto tempo esperaste para tatuar outra pessoa?
Eu comecei a tatuar assim que sai do Liceu, com 17 anos. Fartei-me de fazer tatuagens horríveis. É possível que só tenha tatuado porcaria entre 1993 e o ano 2000. Até entrar num estúdio de jeito e começar a aprender a sério.

Nunca tinha planeado ser um tatuador. Pensava que as tatuagens eram ridículas. Ainda penso assim. Estava a estudar, tinha um trabalho a tempo inteiro e vivia no banco de trás do meu carro, por isso precisava daquilo que me parecia ser um simples segundo trabalho.

Assim, resolvi entrar num estúdio e dizer-lhes que já tatuava há anos. Estava a mentir. Isto foi em 1993. O Mundo era um sítio muito diferente nessa altura. Não havia Instagram, as pessoas não tinham portefólios. Eles não me davam o trabalho assim sem mais nem menos, então fui a casa de um amigo e desenhei as mesmas coisas que eles tinham penduradas nas paredes e voltei para mostrar-lhes o que tinha feito. Contrataram-me e comecei a tatuar pessoas no dia seguinte sem nenhuma experiência, nenhuma aprendizagem, nenhuma educação. Não podia pedir ajuda, porque eles pensavam que eu tinha tudo controlado. Então fui inventando pelo caminho.

Qual é a história por trás do gelado tatuado no teu gémeo?
Essa é a minha tatuagem favorita, mas só porque cada vez que a vejo lembro-me dos momentos maravilhosos que estava a viver. É uma tatuagem tão ridícula – um gelado vampiro. Os meus amigos e eu estávamos todos bêbados num quarto de hotel, a fazer tatuagens uns aos outros com a porta aberta e uma miúda passou por nós e eu disse-lhe: “Anda cá. Tens de fazer parte deste momento, queres fazer-nos umas tatuagens?”. E ela respondeu: “Claro que sim!!”. Ela nunca tinha tocado numa máquina de tatuar na vida. Tenho algures por aí fotografias da minha perna toda ensanguentada, enquanto a sua mão esfregava tinta na minha tatuagem.

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