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Mesmo Sendo Muito Fofo, o Pika-de-Ili Está Perto da Extinção

Novas fotos do Pika-de-Ili – um pequeno mamífero sem cauda nativo do noroeste chinês – surgiram pela primeira vez em duas décadas. Dada a empolgação causada pelas fotos da criatura fofa e de orelhas arredondadas, talvez finalmente as pessoas comecem a se importar o suficiente para apoiar esforços para a preservação deste animal quase extinto.

O conservacionista Weidong Li descobriu o Pika-de-Ili em 1983 durante uma expedição para estudar os recursos naturais na Serra de Tianshan, na China, de acordo com Andrew Smith, conservacionista e biólogo que trabalhou com Li durante décadas. Li conseguiu capturar a pequena criatura – que só cresce até uns 20 cm de altura – e levou-a à Academia Chinesa de Ciências. Em 1985, ele capturou mais dois espécimes para confirmar que o Pika-de-Ili era uma espécie única de pika (ou Ochotona, seu nome científico), publicando então suas descobertas no periódico Acta Zoologica Sinica, batizando ele mesmo a espécie.

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Até mesmo atualmente, Li é o único pesquisador a estudar o mamífero.

“Ele é a única pessoa. A única referência”, disse Smith. “O único, com exceção de alguns de seus assistentes neste ano, a ver um Pika-de-Ili vivo.”

Crédito: Weidong Li

Crédito: Weidong Li

Li conduziu alguns estudos preliminares no começo dos anos 90, estimando a população dos Pikas-de-Ili nas montanhas em 2 mil animais, mas não pôde voltar a observá-los até, 2002. Smith, que também é membro da União Internacional Para a Conservação de Espécies na Natureza, explicou que é complicado para Li acompanhar a população destes bichos por conta de seu habitat remoto nas montanhas e a falta de financiamento para realização de seu trabalho.

“Ele desempenhava outras tarefas em seu emprego diário, algo que todos nós temos, e basicamente não teve como trabalhar em cima da espécie por cerca de 10 anos”, disse-me Smith. “Quando ele voltou, deu duro e só conseguiu encontrar evidências dos Pikas em cerca de metade dos locais onde haviam sido vistos anteriormente”.

Smith disse que os animais deixam sinais óbvios de onde estão morando, tais como fezes facilmente identificáveis e rastros na neve. Mas Li e seus voluntários só conseguiram encontrar evidências em seis dos 14 pontos onde os bichinhos haviam sido encontrados uma década antes, e eles não mais moravam na região onde Li os descobriu pela primeira vez. A equipe não encontrou nenhum espécime vivo.

Smith e Li publicaram os resultados destas pesquisas no periódico Oryx e, com base no declínio acentuado, recomendaram que o status atual do pika na Lista Vermelha da IUCN fosse alterado de vulnerável para ameaçado. Em 2008, a mudança foi feita.

No verão passado, Li reuniu voluntários para retornar à montanha para uma nova pesquisa, e ao arrumarem as armadilhas com câmeras, avistaram um Pika-de-Ili. Li conseguiu fazer as fotos, as mesmas que estão sendo espalhadas na internet – as primeiras imagens da espécie em mais de 20 anos. Mas ao passo em que Smith afirma que Li tenha ficado empolgado em ver o animal vivo mais uma vez, os resultados da pesquisa não foram nada animadores: Li estima que existam menos de 1.000 exemplares vivos na natureza.

Smith – que trabalha junto de Li, mas não participou de nenhuma expedição destas – disse-me que ao perceberem que a população estava em declínio, haviam cogitado a possibilidade de um fator doença, mas não foi encontrada nenhuma evidência disso.

“Acho que é uma combinação de mudanças climáticas e pessoas”, explicou Smith, adicionando que era só uma hipótese. “Os pikas sobem aos topos dos platôs e forragens. Estes platôs não eram ocupados há 20 ou 30 anos atrás. Agora, com a superpopulação, os pecuaristas se mudaram para esses locais.”

E junto das pessoas, vem os cães, disse Smith, que talvez estejam caçando os pikas e contribuindo para a queda em seus números.

A mudança climática também afetou o habitat dos bichinhos. Temperaturas crescentes fizeram com que a neve na montanha, outrora permanente, derretesse, forçando os animais a buscarem altitudes maiores, disse Li à CNN. Ele espera conseguir algum apoio financeiro e atenção para estabelecer um diálogo na região do habitat dos Pika-de-Ili para proteger os poucos animais que restam, antes que desapareçam por completo. Smith disse torcer para que as tocantes imagens colaborem com a causa.

“É um bicho absolutamente adorável. É um dos pikas mais impressionantes”, disse Smith. “É um animal incrível.”

Tradução: Thiago “Índio” Silva