“Eu toco imagens”. Foi assim que Cauê Ueda, aka U-RSO, definiu o seu trabalho como produtor visual na Metanol FM, núcleo audiovisual paulistano de experimentações eletrônicas. Desde a sua formação, em 2009, quando deixou de ser só uma rádio online, comandada pelo DJ e músico experimental de 39 anos Akin, para se tornar um coletivo de festas e intervenções artísticas com cinco produtores, a Metanol tinha como objetivo disseminar novos caminhos da música eletrônica.
“Por isso que desde o início chamei o U-RSO, para podermos investir na parte visual do projeto. Isso [o trabalho visual] abre mais uma possibilidade de experimentação no nosso trabalho e, consequentemente, renovação da cena que a gente tá sempre buscando”, disse Akin.
Videos by VICE
Só que, pro Ueda, simples projeções de imagens em festas em conjunto com o som não são mais algo tão inovador. “Você pode encontrar esse tipo de trabalho visual em várias festas e eventos. Qualquer um pode projetar imagens numa balada e se denominar VJ”. Mas ele explica que o que a Metanol faz não é apenas isso: “Eu, por exemplo, tenho pavor de ser chamado de VJ. Muito porque acho que é quase como um rótulo, que restringe o meu trabalho visual no coletivo”. Por isso ele prefere ser denominado como alguém que “trabalha imagens em consonância com o som”.
Formado em audiovisual, U-RSO, de 38 anos, tem uma produtora chamada Tamago e sempre trabalhou com direção de fotografia. “Percebi ao longo da minha carreira que eu tinha um vício de dar muito mais importância pra imagem do que pro som. E isso tem muito a ver com a nossa cultura ocidental, que é bem imagética”, explicou. Esse seu “vício” acabou virando um incômodo, e ele percebeu que queria dar ao áudio valor semelhante ao que dava para a imagem. “A Metanol veio nesse momento e acabou se tornando uma espécie de exercício de não fazer o que eu já faço pra mim, que é tentar fazer música com imagens.”
O sistema que ele usa pra fazer as projeções nas festas ou intervenções da Metanol é todo áudio reativo, ou seja, as imagens vão se formando sendo influenciadas diretamente pela música que algum dos outros membros do coletivo está tocando. “Mas vai muito além de apenas traduzir ou ‘completar’ imageticamente o house ou o beat de hip-hop que eles tão tocando”, comentou Ueda. “Existe um diálogo visual-áudio, uma troca entre as duas esferas. Por isso, não é como se eu fosse ‘a identidade visual da Metanol’. Eles me influenciam com o som deles, mas eu também os influencio com as minhas imagens. É como se eu fosse outro músico, só que o meu gênero fosse imagens.”
E, para as imagens — tanto em movimento quanto paradas — das projeções da Metanol, U-RSO usa todos os tipos de tecnologias: tanto as mais avançadas quanto aquelas mais obsoletas. “A gente gosta de subverter as ferramentas, seja samplers, sintetizadores, a câmera analógica, o VHS, o que for, e fazer algo diferente daquilo que já é esperado pelas pessoas”, explicou o produtor visual. “Também tentamos não nos limitar às ferramentas para a execução do nosso trabalho, porque elas estão mudando o tempo todo.”
Sobre a tendência a ser explorada pelo audiovisual no futuro, Ueda crava que o futuro está no passado. “É algo quase pendular. Quando o passado vira presente, aí não é mais dahora o passado, e a gente vai começar a olhar pro futuro, tentando inventar alguma coisa nova que provavelmente alguém já inventou”, explicou o produtor, que também disse que hoje em dia usa tecnologias que, quando era mais novo, achava uma merda. “Agora eu sou mais velho e sei explorar essas ferramentas mais analógicas de outras maneiras também. Mas, claro, sempre alinhando com o digital, porque não é uma questão de negação [do digital], mas de complementação [com o analógico].”
Para Akin, além dessa volta ao passado que U-RSO julga ser a chave da inovação da estética audiovisual (e artística como um todo), outra perspectiva de evolução importante seria como a tecnologia poderia, no futuro, auxiliar as ferramentas de som e imagem a se tornarem mais amplas e responsivas no quesito sensorial. “A gente já tem utensílios o suficiente pra atender às demandas do audiovisual, mas existem situações específicas, por exemplo, alguém portador de deficiência visual ou auditiva”, disse Akin. “Eu fico pensando: como que a tecnologia poderia evoluir pra poder trazer soluções para que eles possam perceber som ou imagem, respectivamente, da mesma maneira que alguém com visão e/ou audição perfeitas percebe. Não é só na estética artística, mas também nesse ponto que a gente espera ver evolução da tecnologia.”
A Metanol na Casa Air Max é parte da ação que comemora o Air Max Day 2017, promovido pela Nike. Semanalmente, feras da música contemporânea brasileira se reúnem para projetos especiais que celebram o legado do Air Max, icônico sneaker da marca lançado em 1987. O tema dessa semana é “Tecnologia” e celebra o VAPORMAX — um tênis de corrida (e não de sportswear como os outros Air Max) que usa a tecnologia AIR, uma revolução que começou 30 anos atrás.
Alinhada com esse clima de tecnologia e inovação, a Nike convidou o coletivo Metanol para se juntar a mais três artistas visuais e criar projeções de imagem e som na casa Air Max no próximo sábado (25), em São Paulo. O evento não será aberto ao público.