Música

Não há nada que Sabine Holler não possa fazer

Em março, na coluna Mulher do Dia, vamos diariamente parar por um minutinho o torno informacional para respirar e pensar sobre quantas vezes nós levamos realmente a sério o fato de que muitas das nossas artistas preferidas são, todos os dias, mulheres.


Foto do Facebook do Jennifer Lo-fi.

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Você pode não conhecê-la, mas Sabine Holler, 25, já faz música há um bom tempo. Ao longo da última década, a artista montou os mais diversos projetos e bandas, influenciando um tanto a cena paulistana a cada passo em uma direção diferente que dava.

Lá pra 2008, Sabine chamou a atenção de uma galera no falecido Orkut por postar suas faixas originais na internet, surpreendendo principalmente ao guitarrista Caio Freitas. Esse encontro marcou o começo de sua primeira (e talvez mais conhecida) banda, o Jennifer Lo-Fi, que fazia um rock progressivo e post-hardcore guiado pela voz robusta Sabine.

Anos depois, a cantora se tornou parte integrante da viajandona Ema Stoned, quarteto experimental e praticamente instrumental composto só por minas. O grupo continua ativo, mas em 2013 Sabine se mudou para Berlim, onde fundou mais um projeto musical — o Mawn, duo eletrônico bastante mais intimista que seus outros trabalhos.

Pra mim, é revigorante e inspirador ver Sabine à frente de tantos projetos — segurando um microfone, uma guitarra ou manipulando sintetizadores, ela se faz influente aonde estiver e dividiu comigo que o segredo pra se dar bem nesse meio é nunca achar que há algo que você não possa fazer.

NOISEY: Como você começou a trabalhar com música?
Sabine:
Não sei o momento exato em que musica se tornou trabalho, aos 15 anos comecei a compor canções e posta-las na internet. Assim conheci os membros da minha primeira banda, a Jennifer Lo-Fi. Em 2012 com algumas amigas montamos a Ema Stoned, uma banda feminina de rock quase instrumental. Em 2013, mudei para Berlim para estudar produção musical e com o Björn Eichhorn, um colega de classe, montamos o Mawn, um duo de vocal electronica. Estamos tocando bastante ao vivo e lançamos tudo por nós mesmos. Finalmente estou trabalhando na estreia do meu projeto solo e hoje em dia musica é minha atividade principal.

Você já sofreu algum preconceito no meio por ser mulher?
Com certeza. Várias vezes me disseram para não tocar guitarra porque eu era “a cantora”, e também já escutei que “meninas que tocam guitarra não são atraentes”. Sua opinião é sempre questionada quando não ignorada e presumem que não foi você quem escreveu as músicas, muito menos quem as produziu. Não necessariamente isso é explícito, mas também não é sutil o suficiente para passar despercebido. Como mulher no meio musical, você tem que fazer sempre em dobro para ganhar respeito. Uma das piores facetas de tudo isso é sempre ter sua aparência julgada antes de suas capacidades.

Que mulheres você tem como influência/referência?
Minha mãe, Kim Gordon, Fiona Apple, Björk, Elis Regina, Gal Costa, Lauryn Hill, M.I.A., Erykah Badu St. Vincent, PJ Harvey, Joni Mitchell, Rita Lee, Beth Gibbons, Grimes, Julia Holter, Holly Herndon, Kate Bush, Kathleen Hannah, Grouper, Aïsha Devi, Kelela.. Lista longa!

Você vê melhorias na indústria musical? Acha que está surgindo mais espaço para mulheres?
Muitas mulheres de grande influência, como Beyoncé, Björk e Taylor Swift, nestes últimos anos, deram fortes discursos sobre como é difícil ganhar reconhecimento no mundo musical sendo mulher. Isso com certeza chama atenção para o assunto que até então não estava em destaque. Espero que com a difusão do feminismo na mídia e a educação da população, tanto homens quanto mulheres aprendam o que o feminismo diz sobre ter direitos e oportunidades iguais.

Estou vendo ótimas melhorias, conheço muitas meninas que estão se juntando para fazer as coisas mudarem. Coletivos de meninas que produzem, escrevem canções e organizam eventos. Posso citar o coletivo Humana, de amigas de Nova Iorque que estão se movimentando por lá. Aqui em Berlim tenho várias amigas tanto na área de produção musical quanto compositoras que são completamente autônomas. Existe um site chamado Female Pressure que junta produtoras musicais do mundo todo, vale a pena conferir.

Você tem dicas para mulheres que estão começando agora na música?
Nunca ache que existe algo que você não possa fazer.

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