Música

Como Sua Mãe, Pablo Escobar Era Fã de Roberto Carlos


Foto cortesia de Edgar “El Chino” Jimenez para a matéria “Memórias de Medellín”, publicada na VICE

Pablo Escobar sabia de uma coisa ainda garoto: queria ser rico. Começou vendendo cigarrinhos para os amigos e terminou como o traficante de drogas mais famoso da história. Com um tiro na cabeça, mas bilionário com certificado da revista Forbes e tudo mais.

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Parte dessa história está fresca na memória de todos por causa de Narcos, série do Netflix dirigida por José Padilha e protagonizada por Wagner Moura que mostra a perseguição do DEA ao gigante do tráfico colombiano. O que o seriado não destrincha é a relação do capo com o universo musical. E isso o vilão (para alguns) e herói (para outros) latino-americano adorava.

O cantor favorito de Escobar era Roberto Carlos, e até uma jukebox só com discos do Rei ele guardava em casa, de acordo com o livro Killing Pablo, escrito por Mark Bowden. Uma reportagem da Folha de S. Paulo diz que Roberto Carlos fez dois shows em 1988 em Medellín, patrocinado pelo narco. O artista nunca confirmou ou desmentiu a informação.

Padilha até pediu autorização para usar uma canção do ex-garoto propaganda da Jovem Guarda na trilha sonora de Narcos. O jornal O Globo conta que o cineasta enviou uma lista com seis faixas, entre elas “Detalhes” e “Emoções”, para que uma fosse escolhida para embalar uma cena romântica de Escobar e sua mulher, mas não teve autorização.

Mas não era só de Roberto Carlos que vivia Pablo Escobar. O narcotraficante inspirou muitos músicos, que cantaram sobre sua vida e morte. E até a sua morte foi, digamos, “inspirada” por uma de suas músicas favoritas. Selecionamos algumas canciones emblemáticas sobre o Patrón:

Soulja Boy – “Pablo Escobar”

O rapper norte-americano Soulja Boy lembrou, ao repetir umas cem vezes o nome do colombiano, que Escobar e a ostentação da música moderna têm muito em comum. Especialmente, quando se fala em mulheres, dinheiro, AK-47 e festas VIPs numa vidinha fora da lei.

Hermanos Ariza Show – “Se Llamo Pablo Escobar”

Esse narcocorrido – gênero musical mexicano focado em traficantes – é praticamente um resumão de Narcos, ou talvez um adianto da segunda temporada, já que foca mais no cerco a Escobar e sua consequente morte. A música apresenta o “homem de muito dinheiro/ era o mais rico do mundo/ famoso em todas as partes/ na droga o número um”. Esta última parte pode estar correta, mas segundo a revista Forbes, em 1989, Escobar era o sétimo homem mais rico do planeta, e não o primeiro.

Não que isso fizesse muita diferença: o jovem de origem humilde tinha tanta grana que não sabia o que fazer com ela. Investiu até em animais exóticos para sua propriedade, a Hacienda Nápoles. Tinha girafas, pássaros e até hipopótamos. Os hipos, inclusive, viraram uma espécie de praga após morte do narco: já que ninguém mais cuidou, os bichões africanos se reproduziram adoidado. São uns 30 soltos na Colômbia.

Leia na VICE: A Música Narco Mexicana é a Trilha Sonora da Guerra Contra as Drogas

Yuri Buenaventura – “A última bala”

Esta salsa sobre “uma nação completamente marcada por narcotráfico e corrupção” foi composta para a série colombiana Escobar – El Patron Del Mal, exibida na Colômbia entre 2009 e 2012 e recentemente pela Globosat no Brasil. Está no Netflix também, para quem se interessar.

A letra faz referência ao assassinato do chefe do cartel de Medellín: a última bala a acertar Escobar foi bem na testa. A mãe do vilão colombiano, a cultuada dona Hermilda, a princípio não reconheceu o corpo do filho; os policiais cortaram trechos de seu famoso bigode para guardar como mórbida recordação.

Osito, o primogênito, garante que Pablito suicidou-se na iminência de ser detido, conforme escrito por Alonso Salazar J. em Pablo Escobar – A Ascensão e Queda do Grande Traficantes de Drogas. Endeusado, sobretudo pela população mais carente, o túmulo do traficante virou uma atração no cemitério local.

Fúria Nortenha – Rei de Los Capos

Don Pablo era rei de todos os capos pobre lokos ali da região de Antioquia, e sabia muito bem de seu poder perante os demais bandidos. “O personagem mais duro do cartel de Medellín”, indicam os cantores. Fã de Ernesto Che Guevara e líder desde as revoluções colegiais, Escobar criou e comandou ao menos dois “grupos de trabalho” para os empresários do ramo de ilícitos: “Os Extraditáveis” e “Morte Aos Sequestradores”.

O primeiro era uma associação de bandidos que se opunham ao acordo firmado entre as autoridades colombianas e o ex-presidente Ronald Reagan que autorizava a extradição de quem exportasse coisas ilegais e inaláveis para a América. O lema era “melhor um túmulo na Colômbia que uma cela nos Estados Unidos”. Já o “Morte Aos Sequestradores” foi uma ação contra o rapto de Marta Ochoa, irmã de outros traficas famosos e bem-sucedidos, pelo grupo guerrilheiro M-19.

Curiosamente, o filho da catoliquíssima dona Hermilda não só metralhou autoridades como também sequestrou autoridades e seus familiares como forma de barganha política, com destaque para a jornalista Maruja Pachón, esposa do político Alberto Villamizar, e Marina Montoya, irmã de Germán Montoya, com um cargo de alta patente no governo colombiano.

As ações realizadas em Bogotá, bem longe dos desmandos de Pablo Escobar em Medellín, foram deflagradas com ajuda das Farcs e pretendia abrir o cerco a extradição. O traficante Carlos Lehder, por exemplo, foi enviado aos Estados Unidos em 1987 e condenado à prisão perpétua. Essas histórias todas são tratadas por Gabriel García Márquez em Notícia de Um Sequestro.

Si Yo Fuera Rico – “El Violinista En El Tejado”

É curioso que o traficante tenha sido assassinado em cima de um telhado de sua prisão particular, e que sua música favorita seja do musical norte-americano O Violinista no Telhado (1971). A informação é dada pela própria irmã do capo, Luz Maria, no documentário Arquivos Privados de Pablo Escobar, produzido pela família e disponível no Youtube. “Se eu fosse rico, eu não me mataria de trabalhar” é um dos versinhos da canção.

No mesmo depoimento, Luz Maria informa que o hermano famoso “era fascinado por cantar e tinha uma voz muito boa”.