Em 2011, num palco de madeira que acabaria por ceder, tocavam-se os primeiros acordes daquele que, oito anos depois, é o Vinho, Folar e Rock n’ Roll (VFR). Um Festival que se realiza sempre no início do mês de Julho e cujo nome logo o denuncia, ou não fosse feito disso mesmo. Despretensioso, o VFR foi, num primeiro momento, um grito de revolta de um grupo de jovens inconformados. Uma chamada de atenção de artistas da terra que queriam apenas ver o seu talento sair “da garagem”.
De lá para cá, o VFR cresceu um bocadinho e em 2013 mudou de casa. Deixou de ser apenas uma
montra de talento local e passou a acolher forasteiros. Hoje, o palco continua a ser de
madeira e o pano de fundo já não é o centro da cidade transmontana Valpaços, mas a paisagem idílica do Rio do Gorgoço, em Santa Valha, dividindo-se o evento, em 2019, em dois momentos, “No Rio” (em Julho) e “Na Aldeia” (em Agosto). Um spot quase mágico, que, pela falta de rede nos telemóveis, serve o mais importante dos propósitos, o contacto humano.
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O Festival continua a receber bandas locais, mas vai também chamando talentos emergentes e artistas com diferentes backgrounds. Por lá, já passaram nomes como Serrabulho ou Baleia Baleia Baleia. Killimanjaro ou First Breath After Coma. E a verdade é que não há caminho sinuoso ou calor abafado que justifiquem a mudança do destino quando Julho se aproxima no calendário. Chegar ao Rio do Gorgoço não é tarefa para qualquer condutor, mas vale sempre a pena. E este ano não foi excepção.
Este ano, o inicio da 9ª edição do Vinho Folar e Rock n’ Roll estava marcado para as 16h00 do dia 6 de Julho, mas antes dessa hora é claro que já muito se tinha feito. O palco e o pórtico estavam montados, o gerador a funcionar, o bar carregado, canoas, piscina e insuflável operacionais, a relva artificial aplicada, mesa de som ligada, casa-de-banho pronta a ser usada, o mítico sofá bem posicionado… And last but not least, a acção “amiga do ambiente” implementada: canecas de metal e pratos comestíveis. Sim, porque isto é um festival a sério, feito por “meia dúzia” de pessoas que, apesar de não se levar a sério, se dedica a isto da forma mais séria possível.
A fórmula do sucesso não tem segredo nenhum: um anfiteatro natural, um dia, oito bandas e bilhete a custo zero. No bar, muita cerveja, sangria e vinho e, para petiscar, hambúrgueres, saladas, folar, bifanas e caldo verde, a preços convidativos que mais não ambicionam do que saldar as contas.
À banda anfitriã, os Punks Rurais, cujo “porta-voz” é também um dos membros fundadores do VFR, Hugo Picamilho, juntaram-se os Sereias, Daniel Catarino e Space Wire, que subiram a Trás-os-Montes vindos da Invicta, Gator, The Alligator de Barcelos, Mr. Mojo de Braga, Cruzamente de Vila do Conde e Playa Desmayo, que trouxeram da Corunha energia para dar e vender. Um cartaz eclético que define bem o VFR: baterias potentes, baixos com vida, solos de cortar a respiração e letras nem sempre fáceis de cantar, que se prolongam pela noite dentro e vivem em harmonia com o público que vai ganhando vida assim que avança a madrugada.
Mas, o que realmente identifica o VFR são os miúdos que dançam, as famílias que vão sobretudo pelo convívio. A comunhão entre locais fiéis e destemidos forasteiros. Os testes de som descontraídos, os horários que por vezes ficam por cumprir e os concertos descomplicados para uma plateia entusiasta. São as histórias dos anos anteriores e as singulares intervenções do Picamilho. São os moches e o ambiente despreocupado, num cenário inimaginável, entre copos, conversas leves, sorrisos sinceros e boa música. É só isto que o VFR pretende ser. E é tão bom ser só isto! Um motivo para acampar, uma tradição de bons amigos, um ponto de encontro entre as gentes da terra. Uma boa surpresa para quem o descobre pela primeira vez. Uma razão para voltar.
Pouco se sabe sobre o cartaz de 2020 – a não ser que a edição “No Rio” se realiza a 4 de Julho -, ou se para o ano haverá rede no telemóvel, mas é quase certo afirmar que em Julho vai haver vinho, folar e rock n’ roll na margem do Gorgoço e que no próximo dia 9 de Agosto há Vinho, Folar e Rock n’ roll na Aldeia. Portanto, fica já com algumas advertências:
– Vais-te sentir demasiado confortável;
– Vais-te te ver grego para lá chegar;
– Vai compensar o esforço;
– Vais beber, por isso dorme por lá;
– Vai a tempo de escolheres o melhor spot para montares a tenda;
– Leva guito, porque no meio do monte não há multibanco;
– Papel higiénico não pesa na mala;
– Um casaco também não faz mossa;
– O pessoal de Trás-os-Montes tem pouco filtro. Asneiras são virgulas.
Abaixo podes ver mais fotos do Vinho Folar e Rock n’ Roll captadas pelo fotógrafo Hugo Adelino e podes acompanhar o seu trabalho aqui e aqui.
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