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Um guia para o Gamer Pobre

É bem possível que você partilhe da situação precária da qual fazem parte milhões de vítimas do sistema ao redor do mundo: você adora jogos eletrônicos, você passa horas lendo sobre os mais revolucionários títulos que acabaram de sair na gringa, você desde pequeno é fissurado na telinha e ama se sentir superior aos seus amiguinhos em jogos de luta ou tiro em primeira pessoa como o bom machinho alfa castrado que você se sente em seu âmago. Você é um gamer, mas acontece que você é pobre. É motivo de desespero? Você vai juntar seu suado dinheirinho numa meia furada embaixo do colchão para comprar o Playstation 4 e depois não ter dinheiro para comprar NENHUM jogo? Triste, né? Mas ainda existe saída para você, meu querido.

Tenho vasta experiência em ser um Gamer Pobre e sei que isso não é desculpa para você não acompanhar de pertinho o que está rolando na milionária indústria do entretenimento eletrônico. Nos meados da década de 2000 quando numa queda ridícula de skate eu quebrei o meu fêmur, pratiquei muito o exercício do Gamer Pobre em vez de ler os livros que deveria para a faculdade. A partir desse retiro espiritual eletrônico, desenvolvi dez dicas básicas para o Gamer Pobre. Como seguir atualizado e jogando num mundo capitalista desalmado, já que você não tem os meios materiais necessários nem para o básico?

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1. Underground

Nada de jogos mainstream. Eles requerem que você tenha uma placa de vídeo 3D pica das galáxias ou os consoles mais atuais do mercado. Gráficos trabalhadíssimos e grandes esculturas mirabolantes em 3D são coisa de gente brega, você gosta mesmo é de poder ver cada pixel na telinha. Aliás, quanto menos pixels, melhor e mais “arte”. Foque em jogos alternativos e abandonwares, conheça a história dos jogos eletrônicos e sempre fique pronto para, em discussões em redes sociais, mandar um bem colocado “A mecânica deste jogo não é nenhuma novidade, foi inaugurada em X [jogo obscuro que só você e tuas nêga conhecem] já em 1994” quando o que você mais queria era ter uma máquina que rodasse os jogos mais novos.

2. Replay

Jogue repetidamente um jogo que você já conhece muito bem, mas dessa vez consulte as escrituras sagradas do www.gamefaqs.com. Gostava muito de jogar Donkey Kong? Agora é sua vez de pegar TODAS as bananas do mundo e mostrar quem é o macaco que manda nessa porra. Quando você tinha dez anos, sua coordenação motora provavelmente era pior do que agora, então, está é a sua chance de passar daquela fase que tanto te causou frustrações nas férias escolares. É hora de terminar todos os jogos possíveis criados no último milênio.

3. Emuladores

Com seus amigos mais próximos, crie um culto a jogos de Nintendinho. Você pode estar ficando velho e não ser capaz de jogar jogos de tiro no controle de Xbox, mas nada o impede de esmerilhar com sua técnica há muito desenvolvida em California Games que você joga desde os 6 anos de idade. Seja tradicionalista, saudosista e apaixonado, tente teorizar por que os jogos daquela época tinham um ELÃ um ALGO A MAIS um INEFÁVEL que foi perdido depois que lançaram o Playstation 2, acredite nessa posição piamente pois ela te fortalece.

4. YouTube

O YouTube é seu pastor e nada lhe faltará. Duas semanas depois que qualquer jogo foi lançado, é bem capaz que já tenha algum norte-americano fanho jogando ele no YouTube e fazendo piadinhas completamente sem graça a respeito. Faça uma pipoca de microondas, apague as luzes do seu quarto e veja esse norte-americano jogar o jogo de cabo a rabo. É bem provável que em um período de cinco a dez anos o seu computador novo vá rodar aquele jogo e você pode aproveitar cada macete ensinado pelo norte-americano fanho.

Não culpe nunca a falta de recursos, com um pouco de conhecimento e determinação você pode continuar sendo um vagabundo que mora na casa dos pais até os 60 anos.

5. Apoie a cena independente

Se o mercado dos jogos anda rápido demais para o seu gosto, aprenda a jogar com ele também. Apaixone-se por jogos de nicho obscuros (como jogos de guerra em turno) e faça seus amiguinhos se viciarem neles também. Você ganha muitos pontos nesse quesito se o jogo no qual você se focou é um freeware que tem uma comunidade de desenvolvedores ativa em um fórum web. Entre nesse fórum, reclame muito, faça amigos, faça inimigos, mostre sua devoção pelo jogo explicando detalhadamente como a atualização 2.1.8.4 destruiu completamente a imersão e sua facção de elfos guerreiros agora está muito mais fraca. Completamente impossível jogar competitivamente depois desse lixo de atualização. Filhos da puta, nunca mais jogo essa bosta.

6. Retrô gamer

Desenterre seu Playstation ancestral — melhor ainda se for um Master System — e jogue repetidamente os quatro jogos interessantes que você tinha até gastar seus dedos, controles e o restinho de sanidade que lhe resta. Depois pegue aqueles dois jogos que você sempre odiou e jogue de cabo a rabo. A dedicação é uma virtude e isso pode ajudar você a enfrentar os desafios reais da vida comum, como as filas no mercado Dia% com a velha na sua frente querendo puxar papo. Quanto mais injusto e impossível de terminar o jogo for, melhor. Se você terminar o jogo sem jogar o controle na parede, estará praticando técnicas milenares de meditação e, assim, se aproximando aos poucos do nirvana.

7. Arqueologia digital

Procure os jogos de PC antigos que você jogava em outra época e adentre no maravilhoso mundo dos MODS, modificações e conteúdos criados pelos fãs hardcore. Você adorava jogar Quake em 1998? É bem possível que tenham virado esse pobre jogo do avesso agora e você pode muito bem gastar a maior parte do seu tempo pesquisando baixando e tentando instalar as modificações. No fim, você só vai jogar uns 15 minutos de cada uma até encher o saco, mas o sentimento de ter conseguido rodar o bagulho vai ser como a primeira vez que você conseguiu montar um armário sem o manual de instruções.

8. Traumas de consumo

Pegue sua antiga coleção de revistas de videogame e dê uma bela pesquisada na internet dos jogos que você via lá, mas nunca comprou e não existiam para alugar na sua locadora de bairro. Lembra aquele jogo que você jogou com seu primo em preto e branco porque não tinha o adaptador na casa de praia da sua tia? Agora é a sua chance de jogar ele coloridão e numa TV HD para você ver como o gráfico era cagado e precisava da TV de tubo para ser minimamente reconhecível.

9. Opine na web

O Google é o canal para você encontrar opiniões ridículas sobre os jogos que você ama ou opiniões razoáveis sobre os jogos ridículos que você ama. Procure listas de Top 10 jogos de GameBoy Advance e fique puto da vida por não terem colocado os jogos que você mais gosta. Aprender sobre jogos eletrônicos é algo que não precisa de tanto dinheiro quanto jogar os tais jogos, o conhecimento é o seu tabuleiro e a pesquisa e sua opinião enviesada são as suas armas.

10. Amizades

Tenha um amigo rico.

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