Vídeo e fotos por Robert King (em inglês).
Quarta-feira, na Suíça, delegados de mais de 40 países se reuniram na conferência Genebra II para discutir a possibilidade teórica extraordinária de paz na Síria. Enquanto isso, a mais de dois mil quilômetros dali, o conflito na Síria continua a se infiltrar pela fronteira com o Líbano, desestabilizando ainda mais a região.
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Nas últimas semanas, a Frente Al Nusra no Líbano — acredita-se que seja um desdobramento do grupo jihadista Al Nusra na Síria — assumiu a responsabilidade por uma série de atentados à bomba, que levaram muita gente no Líbano a temer uma guerra civil.
Mesmo antes que os últimos surtos de violência aumentassem as tensões, o país já estava numa situação precária devido a décadas de desentendimento civil. O apoio do Hezbollah ao presidente sírio Bashar Assad inflamou as relações já complicadas entre sunitas e xiitas libaneses. Em nenhum outro lugar isso é tão evidente do que nas ruas de Trípoli, onde ciclos aparentemente intermináveis de tiroteios de vingança acontecem todos os dias.
Os moradores estão tão acostumados com a torrente diária de balas que o xeique Isbilal Radwan Al Masri, um líder sunita em Trípoli, casualmente respondia perguntas numa entrevista coletiva até que o barulho dos tiros encobriu sua voz, fazendo com que ele pegasse um rifle próximo e começasse a disparar também. Depois do tiroteio, ele voltou para terminar a entrevista.
Al Masri diz estar preocupado com o grande número de sírios que buscaram refúgio no Líbano. Estimativas dizem que já são 1,5 milhões de refugiados dentro do país, o que representa mais de um quarto da população libanesa. Os recursos já estão esgotados e o fluxo de refugiados não mostra sinais de estar diminuindo.
Os refugiados sírios com que a VICE News falou não quiseram discutir o espalhamento da guerra. Em vez disso, eles falaram de seu desespero e dificuldades, especialmente aqueles que têm filhos. Muitos expressaram desapontamento com a comunidade internacional. “Nosso país está sendo destruído, [meus filhos] não têm futuro e choro porque eles estão destruídos”, disse uma refugiada síria chamada Ahmed. “Não temos nada em que ter esperança e, no final, as crianças têm que comer grama.”
“O mundo inteiro está em silêncio. Por quê?”
Muitos refugiados também lamentaram a falta de assistência e o tratamento negativo que recebem no Líbano. Fady, um jovem pai de Al Qusayr, que vive atualmente num campo de refugiados na cidade de Ersal, disse que animais recebem melhor tratamento que as pessoas.
“Ser refugiado quer dizer que você não tem valor — qualquer um na rua pode te bater ou te matar, eles continuam andado e você não é reconhecido por ninguém”, ele nos disse. “Você é nada e não tem nada. Você não tem direitos.”