“O cultivo de cannabis é um trabalho minucioso e exaustivo”

A Expocannabis, que aconteceu entre nos dias 8, 9 e 10 de dezembro em Montevidéu, no Uruguai, teve um grande foco no cultivo da cannabis e nos produtos feitos à base da erva. Dos 65 estandes na exposição, metade eram dedicados a produtos como substratos, luzes, ventiladores, termômetros e medidores de acidez do solo.

O evento teve como uma de suas atrações principais uma tenda de cultivo, onde foi ministrado um workshop de plantio. Quem ficou encarregado de ensinar para a galera os princípios do cultivo caseiro foi o Juan Manuel Varela, dono da Urugrow, uma loja especializada em produtos para plantio, academia de cultivo e também uma das grandes patrocinadoras do evento.

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Durante as miniaulas ministradas ao longo dos três dias do evento, Manuel falou sobre os fundamentos de um cultivo indoor de respeito, frisando a importância dos três elementos essenciais para a vida da planta: luz, água e um solo de qualidade que seja rico em nutrientes e que não precise ser alimentado por fertilizantes com frequência.

O grower e dono da Urugrow, Juan Manuel Varela. Foto: Débora Lopes/VICE.

Para o grower experiente, o cultivo indoor “é um trabalho minucioso e exaustivo”, que requer tempo e cuidado. Isso porque as condições climáticas dentro das tendas próprias para esse tipo de plantio devem ser controladas em seus mínimos detalhes. “Às vezes você tem uma planta em floração, que precisa de momentos no escuro para que as flores se desenvolvam bem, mas quer mostrar seu plantio para os amigos. Daí você acende a luz, todo mundo olha as plantas, e três dias depois você percebe que as flores ficaram comprometidas por causa daquele breve momento em que a luz ficou acesa”, ele disse para um público que ria porque se identificava com a gafe.

É por isso que fazem tanto sucesso as tendas e novas tecnologias de automatização do cultivo. Elas costumam vir em três tamanhos: 60cm x 60cm, 1m x 1m e 90cm x 90cm. A mais barata custa $3.000 pesos uruguaios, pouco mais que R$ 340. Esse é só o primeiro investimento, há também os gastos com lâmpadas (azuis para estado vegetativo, magenta para a floração). A tenda menor usa duas por vez, e seus preços começam a $550,00 pesos uruguaios, algo em torno de R$ 63 cada. Além dos básicos, há quem use termômetros e medidores do PH do solo. Um kit completo, começando pela tenda, passando pela terra, tenda e parafernálias custa em torno R$ 955.

Foto: Larissa Zaidan/VICE.

O valor não inclui o preço das sementes, que podem custar a partir de €14 o pacote com três. A distribuidora mais famosa é a holandesa Sensi Seeds, que tem também o maior banco de sementes do mundo. As sementes automáticas florescem em 30 dias, então é possível ter a sua própria maconha em apenas um mês. Já as sementes feminizadas, que são produzidas de forma que não tenham nenhum cromossomo masculino, fazendo com que todas as plantas que nascem delas sejam femininas e produzam as flores que se fuma. Essas têm um tempo de floração entre três e seis meses. As feminizadas foram mais indicadas pelos dois growers consultados na reportagem: produzem flores de maior qualidade e valem a pena o tempo de espera.

Uma das maiores vantagens do cultivo caseiro é poder ter acesso a diferentes variedades. Segundo Peta, dono da loja de produtos para plantio e parafernália de maconha JuanaGrow, com três filiais em Montevidéu, os tipos que mais têm saída nas lojas são as com maior porcentagem de sativa na genética. As Sativas são os tipos de cannabis mais conhecidos pelos seus efeitos cerebrais, que conferem ao usuário mais euforia e energia.

Foto: Larissa Zaidan/VICE.

No time das índicas, uma das mais famosas e sucesso de vendas é a Nothern Lights, que dizem acalmar os usuários, causar leve euforia, relaxar músculos e diminuir náusea. Ela é uma das preferidas por pacientes com dores crônicas, insônia, AIDS e aqueles em tratamento de câncer que procuram algo para aumentar o apetite. Seus efeitos psicotrópicos agem mais sobre o corpo, causando uma sensação de lentidão, sonolência e vontade de ficar no sofá mesmo.

O número de pessoas registradas para cultivar cannabis no Uruguai é de cerca de 7.500 — além dos 68 clubes sociais registrados. Estima-se, porém, que esse número é bem maior, já que muitas pessoas que já plantavam não se deram ao trabalho de se registrar.

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