O que você diria se visse um grupo de 37 homens negros sem camisa juntos num campo? Essa é a pergunta que o fotógrafo de 25 anos de Los Angeles Brandon Stanciell se fez enquanto decidia como chamar sua última série fotográfica. Ele acabou escolhendo 37 Niggas, uma provocação, mas que ele considera um nome apropriado para o projeto e espera que mude o jeito como a sociedade olha para homens negros e a masculinidade negra.
A série apresenta retratos de 37 homens negros sem camisa, adornados com pequenas flores brancas colocadas atrás da orelha ou nos cabelos. Em cada imagem os homens, que foram escalados pelo Instagram ou já eram amigos de Stanciell, aparecem em frente a um fundo de tecido preto, vermelho e verde, que replica a imagem da bandeira Pan-Africana, um símbolo icônico da união africana. O cenário criado por Stanciell tinha um propósito – ele “queria que as pessoas vissem quão diferente e vasta nossa negritude é”.
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Negritude está no centro de 37 Niggas, que ele planeja continuar desenvolvendo nos próximos meses. Na entrevista abaixo, Stanciell explica como sua exploração da própria negritude e as imagens negativas de homens negros inspiraram essa série e desencadearam um desejo de desmantelar ainda mais o que ele considera uma ideia monolítica e tóxica dos homens negros e da masculinidade negra.
Qual o significado por trás da sua série 37 Niggas?
37 Niggas, pra mim, era e é uma autoexploração da minha negritude e do que é ser um homem negro como um todo. Eu queria entender por que me sentia desconfortável na minha própria pele enquanto crescia, e queria ver se outros homens negros se sentiam do mesmo jeito. Eu também queria desafiar o jeito como os homens negros são constantemente vistos na nossa sociedade.
O que inspirou o nome?
Tentei imaginar o que alguém diria se visse 37 homens negros sem camisa num campo. Obviamente, com esse fundo histórico, o uso da palavra “Nigga” é conhecido por ser um tabu. Mas continuamos a usá-la até hoje, mesmo dentro da nossa própria comunidade. Eu queria pegar algo que sempre teve uma conotação negativa e associar com algo positivo, enquanto também desafiava o jeito como a sociedade vê homens negros como um todo. Acredito que o homem negro não é definido simplesmente pela cor da sua pele, mas também por como ele escolhe se comportar em sua comunidade.
Por que fotografar os modelos sem camisa e com flores?
As flores são uma assinatura minha de quando comecei a fotografar minhas séries de retratos Thinker of Tender Thoughts e The Man Who Loved Flowers. Eu queria mostrar o tema continuado de desafiar a masculinidade com o uso de flores no meu trabalho. Dizem que flores são coisa de menina, mas por que meninos não podem gostar também? Com os homens sem camisa, eles parecem nus e vulneráveis. Eu queria que eles fossem vistos por quem realmente são, não vestindo alguma coisa ou se escondendo atrás de algo. Também pedi a eles pra trazer algo significativo para eles, fosse uma pedra ou um disco, algo que os complementasse como pessoa.
Que pressões você já experimentou sendo um artista negro?
Sendo um artista negro você questiona se esse é o caminho certo para escolher. Quando era mais novo, eu não via muitos homens negros ou conhecia homens negros que tiravam fotos ou eram artistas. Você só vê negros na música e nos esportes, e isso meio que perturba sua psique. Você começa a pensar que não vai ter sucesso se não trabalhar nessas duas áreas.
Quais são suas maiores inspirações?
Deana Lawson com certeza é uma das maiores inspirações. Sinto como se ela fosse minha gêmea idêntica, nos identificamos de maneiras estranhas. O jeito como ela usa luz e composição é o que mais admiro no trabalho dela. Também Kerry James Marshall. Por alguma razão, quando vi o trabalho dele pessoalmente pela primeira vez isso acendeu uma chama em mim. Gosto muito de ver pessoas negras criando belos trabalhos de arte autênticos e com significado, e quero inspirar outros como eles me inspiraram.
Que outras histórias você pretende contar sobre a experiência do homem negro?
Entrevistei todas as pessoas que participaram do projeto e perguntei como eles se sentiam sendo negros na sociedade de hoje. Quero que pessoas da nossa comunidade e de fora vejam como os homens negros estão vivendo hoje e quais as questões que eles encararam enquanto cresciam para se tornar o que são hoje.
O que mais você tem planejado para 37 Niggas?
Planejo fazer uma exposição de retratos no final de janeiro. Ainda não posso dizer a data exata e o local. Também planejo usar o mesmo conceito mas em Nova York, e fazer uma exposição lá também. Acho que seria incrível ver o contraste entre homens negros e suas experiências na costa leste e oeste.
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