Os strip clubs de Houston vem há décadas inspirando músicas lendárias. Beatking é quem segura o cetro em uma nova era. As músicas dele mexem e batem; às vezes fazem outras coisas. Em dezembro último ele lançou “5 Years” com o patrão do electro e entusiasta do rap americano Brodinski, que reconstruiu a energia obscura e fluente de Houston dentro de um modelo de boate francesa. As letras de Beatking ordenam o hedonismo em um mundo condenado: “essa molly [gíria em inglês para MDMA] vai te matar em cinco anos. Mas faltam cinco anos até lá, então mistura essa merda com a codeína e aumenta o som.”
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O single mais recente dele, “Keisha”, é igualmente ousado. Texturas sintéticas góticas, estilo Classic Dirty South, acentuam versos manchados com um autotune melódico. É moderno, com uma presença do passado. Não poderia ter sido criado em nenhuma outra época ou lugar que não agora, em Houston, por um artista que já está nessa há um bom tempo.
O Beatking não vai aos strip clubs só para ficar de pau duro. Ele se interessa pelas dinâmicas sociais. Por exemplo, sua atividade paralela como um correspondente de memes no Instagram. Toda vez que um novo meme toma de assalto as mídias sociais, Beatking solta um freestyle em cima dele, muitas vezes poucas horas depois. Sharkeisha, a sextape de Mimi, e Kermit the Snitch foram todos alvos seus. Estou esperando as linhas sobre Daquan. É fácil separar os dois aspectos da carreira de Beatking, os strip clubs e os memes, mas acho que eles vêm de um mesmo lugar: ele está explorando os lugares e os assuntos que criam comunidades. Em uma indústria de individualistas, Beatking é um homem do povo.
Noisey: Quando você foi a um strip club pela primeira vez?
Beatking: A primeira vez que fui a um strip club eu tinha 17 anos. Era a despedida de solteiro de alguém. Lembro que estava lá sentado, e eles tocando uma música das Ying Yang Twins, repetindo ela direto, que eu nunca tinha ouvido. Quando saí da boate a música ficou na minha cabeça, e está lá até hoje. Naquele dia me dei conta que se a sua música está sendo tocada naquele lugar, as pessoas vão lembrar dela. Tinha uma mina ridiculamente cavala chamada Rain dançando em cima de mim, sabe como é. Qualquer coisa associada com mulher pelada você não esquece.
Quando você faz uma música para o strip club, para quais elementos você dá destaque?
Tem que ter muito baixo, é importante demais. As minas têm que ouvir as palavras com clareza por cima do baixo. Tem que ter um refrão, quando a coisa é voltada para as dançarinas. É essa a minha fórmula, cara, você pega uma batida que uma mina bêbada curte e põe com um refrão que uma mina bêbada gosta, simples assim. Não pode ser coisa de criancinha, não pode ser música de twerk, tem que ser num nível mais sério, de dizer a uma mulher exatamente o que você quer que ela faça. Tem que soar mais adulto. Essa é a ideia mais errada que as pessoas têm, de que no strip club tem que tocar música de twerk. Não é música de twerk, que é voltada para crianças, entende?
Então tem outra coisa que é o trap. Quando traficantes de droga aparecem no strip club eles querem se sentir bem. Fazem chover dinheiro em cima das mulheres peladas. Eles querem ouvir música de traficante. A mixtape que acabei de soltar – Gangsta Stripper Music – é um estilo diferente. Você pode colocar no som do carro e sair por aí, mas também é música de strip club para mulheres dançarem, é simplesmente diferente.
Você já falou muito sobre como os artistas costumam esquecer que o strip club é um dos lugares mais importantes para lançar músicas novas.
É um dos maiores. Quando você faz música de boate, a sua música se espalha mais rápido. É um caminho mais rápido para um monte de gente ouvir a sua música ao mesmo tempo. Sendo um artista do rap, você tem que dedicar muito tempo e dinheiro às suas músicas, e cuidar para que elas sejam enviadas para todo mundo. Mas você pode soltar uma música de boate e todo mundo quer ir pra farra quando acaba o fim de semana, e a coisa estoura mais rápido. Tento descobrir um jeito de incluir as duas coisas. Posso fazer um rap do caralho, mas vejo que as minas não querem aprender trigonometria na boate. Ponho uns trocadilhos, mas a música começa com o instrumental, pra que as minas não parem de dançar quando a minha letra entra.
Para você o Vine é o novo ‘strip club’?
O Vine é bom para soltar singles. Foi lá que estourou meu single ano passado, “Throw Dat Ahh”. Apareceram uns Vines das minas saindo pulando dos carros, rebolando no meio da rua. O que é doido nisso é que todo mundo sacou os celulares. O maior strip club de Houston nesse momento é o V Live. Houston é uma cidade de strip clubs, a gente tem muito strip club aqui, cara. Na V Live eles mandam desligar os celulares, porque o Bieber já esteve aqui, Rihanna, Drake foi lá todos os dias no fim de semana passado.
Essa aí foi a vez que o Bieber lambeu o mamilo de uma stripper?
Sim, senhor. Aqui a coisa rola mesmo.
Qual é a coisa mais insana que você já viu num strip club?
A coisa mais insana que já vi num strip club foi em Dallas. Eu tava tocando e as meninas começaram a se chupar no palco, enfiando dedo e o caralho. Eu fiquei tipo: “véio, foda pra caralho”.
Sua mixtape mais recente teve uma série de artistas de Houston, de OGs tipo Lil Keke até novatos. Parece que Houston é uma das poucas cenas regionais em que OGs estão envolvidos com novos artistas em nível igual de criatividade.
Houston é de verdade uma dessas cidades especiais que têm OGs mesmo. Em Dallas, eles não têm OGs de verdade. Nós temos OGs, gente como Slim Thug. Se ele te vê trabalhando, vai entrar em contato contigo. Eu não diria que sou novo na cena, mas sou um dos mais novos. Comecei na época do Kirko Bangz, do Propain, a gente tudo começou ali por 2009. Agora tem uma cena totalmente nova, eu chamo de baby Houston, e eles tão atrás da gente. Temos OGs que cuidam da gente tipo como a gente em tese deve fazer pela nova geração.
Quando eu olho para a sua carreira, desde a música de strip club até os freestyles em cima dos memes, eu vejo alguém muito consciente de criar a própria imagem de uma maneira que seja coerente com o modo que as informações circulam.
Esse ano fiz trinta anos. Não sou mais novo. As coisas começaram a acontecer para mim nesses últimos cinco anos. Passei a vida inteira me preparando pra isso. Quando ouvi pela primeira vez uma música minha no rádio, em 2010, fiquei tipo: “não quero perder nunca a atenção de vocês. Não quero sumir nunca”. Então eu sempre gravo sons novos, tô sempre soltando alguma coisa. Se estou entre um single e outro, ou se estou promovendo um single, eu penso tipo “vou fazer um rap sobre qualquer coisa que estiver rolando nas mídias sociais”. Tenho um arquivo grande de freestyles sobre tudo o que acontece, tipo a briga da Sharkeisha.
Eu não quero perder jamais a atenção das pessoas. Você pode chamar isso de criação da própria imagem. Para mim é só tentar continuar em frente.
Se você pudesse criar o strip club perfeito, como ele seria?
Seria um ambiente de strip club normal como o V Live, mas teria também uma lanchonete Wing Stop, e uma creche. Do outro lado teria uma sala de computadores, com poles e internet sem fio.
Especificamente para o Vine?
Para o Vine, e desse jeito você pode dar umas gorjetas para as minas e estar no Twitter ao mesmo tempo. Tipo uma sala de computadores, essas merdas.
Você é o Steve Jobs do strip club.
Mas o Wing Stop é importante. Essa é na real a única razão de eu frequentar os strip clubs. Não fico viajando com essas minas, não fico jogando dinheiro no clube. Se estou lá, é pela comida. Não fico lá só fazendo chover, isso é burrice.
Realmente agrega valor.
Cara, se cê tá queimando dinheiro nos strip clubs, na tora mesmo, cê tá só jogando dinheiro pro seu próprio ego. Bem no início da minha carreira eu tive que fazer coisas desse tipo porque eu era novo na parada. Agora tô tranquilão.
Quais são as maiores mancadas que você vê as pessoas dando em strip clubs?
Quando você entra lá, tem que saber o que é que tá rolando, cara. Eu vejo uns caras que realmente acham que as minas tão dando bola pra eles. Ela tá te fazendo uma massagem no ombro, mas é tudo ilusão. O lance é estar com a cabeça no lugar e saber para que você foi lá.
Não se apaixonar?
Isso, quando você me vê num strip club é porque eu tô promovendo uma música nova ou porque tive fome às três da manhã. Nessa hora é o único lugar onde você arranja um frango frito. Quero umas asinhas, vou pro strip club e arranjo umas asinhas rapidão, às três da manhã.
Ezra Marcus transforma qualquer festinha em casa num strip club. Ele está no Twitter – @ezra_marc
Tradução: Marcio Stockler.