O MTST Quer Água em SP

Ontem, 5 mil integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e da Periferia Ativa se reuniram no Largo da Batata protestando contra a falta de água na cidade de São Paulo. O trajeto foi até a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), onde líderes do movimento acordaram uma reunião com assessores da companhia. Ao saber que o ato aconteceria, o governador do Estado de São Paulo disse que “não faria sentido invadir a sede da Sabesp” – ainda que ninguém do movimento tivesse ousado falar em invasão. 

Para o coronel Roberto, da Polícia Militar, tudo estava tranquilo. Ele papeava sobre futebol com a galera do MTST – inclusive, deu um tapinha nas costas de um dos manos dizendo “Boa sorte aí” depois da conversa sobre a possibilidade de o Palmeiras cair ou não para a série B do Campeonato Brasileiro. Perguntei quantos policiais estavam lá. “Por volta de 800”, ele me respondeu. 

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Em frente ao prédio, as pessoas se revezavam ao microfone no carro de som questionando a falta de água exclusivamente nas regiões periféricas da cidade. “No bairro de Higienópolis, não falta água”, comparavam. Ajoelhados, manifestantes seguravam cartazes. 

Esse foi o cartaz mais fera do dia. Aliás, uma repórter da VICE ficou uma semana sem água em casa e sabe bem o que é ter que tomar banho de canequinha.

Hélio Rubens Figueiredo (de camisa listrada, à direita), assessor da Diretoria Metropolitana da Sabesp, estava do lado de fora negociando a reunião com Guilherme Boulos (de camisa pólo vermelha), coordenador nacional do MTST. Para o funcionário da companhia, a manifestação é importante. “A população deve participar da resolução de seus problemas. E nós estamos aqui para discutir quais são esses problemas e buscar uma solução”, declarou. Num papo amigável, Boulos e o coronel Glauco chegaram a um acordo: havia cinco mil pessoas no ato. Pra mim foi inédito a policia e um movimento social concordando com o número de presentes. 

As pessoas entraram e a reunião começou.

Do lado de fora, a galera encenava uma dança da chuva irônica. Depois, o carro de som começou a tocar uns raps. Inclusive “Da Ponte pra Cá”, clássico dos Racionais MCs.

Quando rolou “Saudosa Maloca”, do mestre Adoniran Barbosa, todo mundo caiu no samba. Difícil ter uma música que aborde melhor a questão de moradia versus especulação imobiliária.

Como sempre, a polícia filmava o ato. Não é preciso ser um Ingmar Bergman pra sacar que esse enquadramento tá muito ruim, viu, senhor PM?

“Não estamos exigindo nada só para o MTST, e, sim, para a população”, enfatizou Bia, moradora da ocupação Copa do Povo. “A Sabesp está nos oferecendo lama, e não água. Culpar a natureza e dizer que tudo isso acontece pela falta de chuva é fácil”, frisou.

Por volta das 19h, os integrantes do movimento saíram do prédio da Sabesp com as boas-novas. Comissões de acompanhamento foram criadas para manter diálogo permanente com a companhia responsável pela água na cidade. “Vamos apresentar reivindicaçoes dos bairros em que falta água e vamos cobrar solução em cada caso. Está dado o problema. O racionamento já existe e vai continuar existindo”, relatou Josué Rocha, um dos coordenadores do MTST. 

Depois da reunião, membros do movimento passaram as informações da reunião pra galera que pacientemente esperou na rua. Gritos de guerra e, depois, sola de sapato no asfalto de novo. O pessoal foi até a Marginal Pinheiros, voltou ao Largo da Batata e enfrentou um pequeno caos para pegar o metrô e ir embora pra casa.

Teve até fogos de artifício para celebrar a conquista de um canal de diálogo com a Sabesp. Será que agora vai? Será que, a partir de agora, os bairros pobres não vão mais sofrer racionamento de água?

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