Para um fã de Katy Perry, todo e qualquer dia em que Katy faça algo que não seja racista é um dia maravilhoso. Logo após qualquer show, evento ou clipe de Katy Perry, a última coisa que você quer fazer é justificar a apropriação cultural, porque é algo simplesmente injustificável. E é por isso, enquanto fã fervorosa de KP, que fiquei eufórica ao ver que o show dela no intervalo do Super Bowl foi bem coisa de menina branca mesmo: saias curtas acompanhadas de rabos de cavalo e coreografias bem medianas. No meio de um tornado de tubarões. Típico.
A noção teatral de Kate foi o que fez de seu show do intervalo – ouso dizer – o melhor de todos os tempos. Antes de você discordar, deixe-me lhe fazer uma pergunta: quantos shows desse tipo você viu que começavam com uma mulher entrando no estádio em um tigre mecânico gigante de olhos vermelhos brilhantes? Exatamente. Se você não sentiu vontade de saltar da cadeira e cantar o refrão de “Roar”, sinto lhe dizer, mas você não é humano. Um show no intervalo do Super Bowl pode ser espalhafatoso, elaborado, e caro. Ele pode e deve ter acessórios e adereços absurdos e mulheres decoradas com fogo. Ele tem que ter que um esquadrão de dançarinas de apoio até onde a vista alcança. Este não é o lugar para se preocupar com refinamento. Shows do intervalo são para os eventos o que franquia Velozes e Furiosos é para o cinema, e levando em conta que quando Katy surgiu em toda sua glória ela estava bem parecida com a lateral de um dos carros de Dominic Toretto, pode-se afirmar seguramente que ela cumpriu a promessa de um espetáculo ~explosivo~.
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Vestida pelo estilista ríspido-pop do momento, Jeremy Scott, as roupas de Katy se mantiveram dentro dos limites daquilo que é apropriado para uma menina branca, e para ela, apropriado para a família. Viam-se muitas pernas, com certeza, mas seu característico decote foi bem controlado – mesmo quando trajado como duas bolas de praia – uma baita raridade para a artista. De fato, parecia que o show inteiro fugia da controvérsia, optando pela boa e velha diversão pop em vez de possíveis mamilos à mostra e dedos do meio voando pra tudo que é lado. Foi uma inspiradora mudança de ritmo. Mesmo que você não esteja na pegada do show de Katy, não dá pra negar que o pessoal de RP dela mandou bem. Katy usou o palco habilmente de forma a se reapresentar como uma estrela pop meio brega que é cool o bastante para dançar ao lado de Missy Elliott, mas não tão cool ao ponto de não poder dançar ao lado de homens vestidos de tubarões gigantes fazendo a Macarena. (Olha só! Vejam como ela é apropriada para as crianças! Só não vá ler a letra de “Peacock” com muita atenção.) Foi uma forma genial de desfazer, ou ao menos desviar, a atenção dos danos que Katy conseguiu cometer ao longo dos últimos 12 meses com suas roupas de gueixa e trancinhas no cabelo.
Só estou aqui para não ser multada
O que me leva à Missy Elliott. Em outro momento incrível, Missy Elliott foi a estrela de seu próprio medley. Katy juntou-se a ela brevemente, mas só pra dar uns pulinhos pra cima e pra baixo tipo um cachorrinho empolgado. Aquilo foi uma mostra de reverência por sua hierarquia cultural: Katy sabia que foi sorte sua ter Missy com ela no palco, e nunca o contrário. Pontos bônus de respeito por não obrigar Missy a fazer aquele lance com o remix de “Last Friday Night”. E parabéns mais uma vez à máquina de marketing de Katy por certificar-se de que esta música ficasse ausente tendo em vista o climão na NFL de bebedeira, violência casual e estupro. Viu? Nada de controvérsia, tudo limpinho e bonitinho.
O lance é que Missy talvez tenha roubado a cena. Pode ser que isso tenha rolado porque quando eu era adolescente, lá pelo fim dos anos 90, Missy Elliott era TUDO. Vai saber o que que a galera nascida em 1995 achou daquilo. E mesmo que os adolescentes de hoje tenham ficado meio sem reação diante de Missy, tudo bem – aquele cara de sombra dourada de Jogos Vorazes tocou um pouco de guitarra. Inclusive, para nós que lembramos de “American Woman” e “Fly”, aquele foi um momento que deixou um ponto de interrogação gigantesco em nossas cabeças, levando em conta que Lenny Kravitz com certeza já passou do ponto da aposentadoria e quase cagou “I Kissed A Girl” por completo. Felizmente Katy salvou o dia com o balançar de seu rabo de cavalo.
O show de Katy teve de tudo. Algo para o pessoal mais velho (Missy, hits da época de Teenage Dream, seu hino quase-lesbo que a levou ao estrelato), algo para os jovens (“Roar”, “Dark Horse”), e “Firework” – porque como seria possível imaginar um encerramento para um show dela sem essa música? No final das contas, K-Pez só tocou hits e olha que ela nem tocou todos.
Uma faixa notavelmente ausente foi “Hot N Cold”, que imaginei seria um tiro certo para o público da NFL, e o mesmo com a falta da militarista e motivacional “Part Of Me”. Ela provavelmente também poderia ter incluído “This Is How We Do” e “E.T.”, mas mandou bem em manter tudo na miúda, permitindo que Missy desse uma leve roubada na cena.
Talvez haja espaço para refinamento no show do intervalo do Super Bowl, e talvez Katy, com todos os seus excessos, tenha o encontrado. Talvez não tenha problema em tocar só umas musiquinhas bem. Talvez a arrogância de tocar todos os sucessos não seja necessária. Talvez demonstrar respeito quando se é necessário em vez de ficar sempre no centro das atenções seja importante, mesmo quando se é o centro das atenções. Talvez só fazer um bom show seja o suficiente, e talvez não haja necessidade de acontecer algo mais chocante que um tubarão gigante tristonho esquecendo como se dança a Macarena. E talvez Katy Perry tenha feito o melhor show do intervalo de todos. Nada de “talvez” em minha opinião.
Kat George é totalmente objetiva ao escrever sobre Katy Perry. Siga-a no Twitter.
Esta não é Kat George e sim uma integrante da turma de Katy. Bela camiseta etc.
Tradução: Thiago “Índio” Silva