Até à passada semana, enquanto metaleira, arrastava-me pelo lamaçal da vergonha por nunca ter visto os Iron Maiden ao vivo. O problema é que dispensava grandes arenas depois de um mega-ataque de pânico na abarrotada Meadowlands, uma sala em Nova Jérsia, durante um concerto de Slayer.
O resultado desta experiência foi embebedar-me à bruta, de forma a conseguir lidar com a multidão e, no meio disto, cochilar durante uns minutinhos, enquanto os Slayer tocavam. É verdade, adormeci durante um concerto de Slayer. Sejamos justos: também estava sentadinha naqueles lugares confortáveis, bem no topo da sala, portanto não é que tenha feito grande estrilho.
Mas, adiante, passaram-se vários anos de forma a que me sentisse corajosa suficiente para arriscar-me noutro massivo concerto de arena. A promessa de ter os Iron Maiden a tocarem com uma das minhas bandas favoritas de sempre, os Alice Cooper, foi suficiente para combater os meus medos e para me fazer enfiar numa carrinha até ao anfiteatro Jones Beach, em Nova Iorque, com 12 cabeludos do Turkey’s Nest (um péssimo e, ao mesmo tempo, maravilhoso bar de Brooklyn).
Ainda nem tínhamos saído de Queens e já três dos tipos sentados lá atrás precisavam de ir mijar. Suponho que engolir cervejas tamanho XXL é capaz de nos causar isso. As únicas garrafas de água na carrinha eram daquelas caríssimas, que não tinham uma forma fixe de abertura. Havia, por isso, alguns momentos tímidos de mijo no pára-e-anda do tráfico, à saída da cidade e, eventualmente, dois dos tipos acabaram sem t-shirt, qual George Costanza, para ficarem mais confortáveis. Espectáculo!
A nossa próxima paragem foi num mini-mercado, para levarmos comida para a viagem. Apesar de tudo, isto é metade da diversão de irmos a estes grandes espectáculos e a razão para eu ter ficado tão bêbeda no concerto de Slayer — estar com duas miúdas e, enquanto andávamos às voltas pelo parque de estacionamento do Meadowlands, grupos de gajos praticamente suplicarem-nos para que bebêssemos as suas cervejas. Isto é o que acontece quando um grupo de mulheres sozinhas aparece num concerto de metal: o sexismo é uma seca e tal, mas este acto foi, admiravelmente, fofo.
Vivendo em Nova Iorque, muito dificilmente sentimo-nos “o tipo estranho”, uma ameaça, ou qualquer outro tipo de arruaceiro, porque toda a gente tem esse aspecto e toda a gente está-se, claramente, a cagar. Mas, naquela lojinha na estrada de Long Island, o nosso grupo era, definitivamente, uma distracção — vá, o meu companheiro Jake também não ajudou muito à causa quando decidiu exibir as suas flexões de só um braço, no parque de estacionamento.
Com cerca de 150 cervejas no bucho, finalmente conseguimos entrar no estacionamento do Jones Beach. Agradecendo ao nosso amiguinho Matt e à sua inscrição no clube de fãs dos Iron Maiden, estávamos descansados por termos bilhetes adquiridos com antecedência na mesma secção de lugares.
Diga-se, já agora, que o Matt é, definitivamente, um fanático, mas não era, nem por sombras, o único tipo a usar uma capa-dos-maiden-estilo-super-homem.
A diversidade dos gajos que por lá andavam e que não queriam saber do concerto não era bem uma surpresa. Enquanto os protótipos dos fãs de heavy metal tinham o aspecto do casal acima, a maioria dos fãs de Iron Maiden parecia-se mais com estes espécimes:
Mais uma vez, o estilinho do heavy metal:
Os típicos fãs dos Maiden:
O Jones Beach estava esgotado, o que significava a presença de cerca de 12 mil fãs de Iron Maiden e de Alice Cooper (mais do que a média da população das cidades do estado onde cresci). Com toda a mania à volta dos Maiden antes do espectáculo, sentia-me um bocado à parte. Por favor, não me interpretem mal: eu adoro Iron Maiden. Mas, simplesmente, prefiro Alice Cooper a qualquer outra banda em todo o mundo. O Vincent escreveu uma das três canções da minha vida — no que diz respeito à perfeição suja e escura dos blues e do heavy: “Is It My Body” está lá no meu Olimpo, juntamente com a “Be Forewarned”, dos Pentagram, e com a “Iron & Stone”, dos Obsessed.
Aliás, de qual outro artista é que podemos dizer que os seus primeiros sete discos são incríveis e passíveis de audição a qualquer momento? Para mim, a era dos Alice Cooper é puro rock’n’roll dourado e esta actuação era apenas um glorioso bónus.
Na verdade, uma das razões para eu nunca ter visto Cooper antes prendia-se com o facto de os adorar tanto e de, quando os artistas envelhecem, os concertos tornarem-se mais arriscados. Já tinha observado, anteriormente, algumas reuniões nojentas e umas digressões de terceira idade a correrem muito mal e, bem, os Alice Cooper de hoje estão longe de serem perfeitos, mas não atingem, de todo, a decepção.
Isto era metade da sua banda. O tipo da esquerda chama-se Tommy e eu conheço-o porque, aparentemente, ele é um tipo da minha terra e eu passei séculos com a família dele, na fila para tirar o cartão de cidadão. E, de qualquer maneira, a t-shirt dele dizia “Tommy”, tudo estampado na fronha três vezes, só para o caso de alguém ficar na dúvida sobre a sua existência. Eles eram uns parolos, portanto nem vale a pena olharmos para aqui novamente.
Tive um momento pouco profissional quando o Alice se aproximou de mim: nunca na vida imaginei que estaria a milímetros de distância dos ossos do meu ídolo.
Será que podemos tirar um segundinho para falarmos sobre os acessórios deste homem? A faca na bota? A cena de segurar o microfone? Ele ainda é deus.
Facto de assombrosa importância: gosto tanto do Alice Cooper, que me vesti como ele — de acordo com a sua fatiota da digressão do Welcome To The Nightmare — num Halloween qualquer.
Neste concerto, deus não tocou tudo o que eu queria que tocasse, mas ele estava a fazer um aligeirado set de 45 minutos, portanto tinha de ser mesmo isto: abriu com “Black Widow” e tive a oportunidade de ouvir também “No More Mister Nice Guy”, enquanto o meu Vincent desfilava com a cobra. A “Eighteen” também fazia parte do alinhamento e, provavelmente, foi melhor que ele não tenha tocado “Is It My Body”, caso contrário ter-me-ia partido em lágrimas.
Aninhei-me com um tipo qualquer nos seus cinquenta anos, que estava na fila da frente, e tive quase a certeza de que ele estava mesmo interessado naquilo que eu tinha a dizer sobre música.
De volta ao evento principal. Esta malta estava toda excitada para ver os Maiden. Olhem para eles! Tipos com um ar absolutamente normal, mas quase a arrancarem as suas próprias caras. Até havia montes de putos a rastejarem até à zona VIP, ou seja, aparentemente, os Maiden são um caso de família, pelo menos em Long Island.
Oh, merda! É o Bruce! O concerto começou com a “Moonchild” e ficou-se, maioritariamente, pelo Seventh Son of a Seventh Son. Eles também tocaram a “Trooper” e eu fui uma miudinha feliz.
O Steve Harris é Cristo.
Querem, realmente, uma reportagem sobre este concerto? Ok, sim, eles estão a ficar velhos e, sim, isso nota-se, mas, por amor da santa, são os Maiden! As pessoas viajam por todo o mundo para os seguir e se essas pessoas acham que esse esforço vale o dinheiro, como é que mais alguém pode queixar-se?!
Estes gajos são profissionais e uns verdadeiros animais de palco. Aliás, o estrado até estava um bocado a abarrotar com três guitarristas e, infelizmente, o Adrian Smith e o Dave Murray estavam em lados opostos. Também fiquei um bocado triste, porque o Nicko McBrain estava, totalmente, tapado por uma palmeira gigante de baterias e, por isso, não consegui tirar um foto dele — mas toda a gente assegurou-me de que ele estava lá.
Também tive sérios arrepios lamechas, quando chegou a parte de ver o Janick Gers, o seu requintado jogo de dança e os seus incríveis headbangings. Estava mais pertinho do Steven Harris e do Bruce Dickinson do que alguma vez poderia ter imaginado. O Bruce é um fodido, mas é por isso que ele é o máximo.
Aliás, costumava ser uma fã da era do Di’Anno nos Maiden, mas agora, depois de ver este concerto, estou quase tão ansiosa para debater esta questão, como estou impaciente para discutir a querela do Ozzy vs Dio.
Ficarei fã eterna de sapatilhas Reebok brancas.
De volta aos lugares sentados — para onde eu e os meus amiguinhos fomos renegados em virtude dos nossos cortes orçamentais —, estava tudo em altas.
Observar as pessoas a perderem a cabeça perante os Maiden torna tudo mais fácil — fazer o mesmo e esquecer toda e qualquer perspectiva crítica.
O concerto acabou depois de um encore que incluiu “Aces High” e toda a gente que entrou na sala sem estar com uma t-shirt dos Maiden saiu a usar uma.
Os meus amiguinhos a beberem cerveja de penálti, no parque de estacionamento (felizmente para eles, fui designada a condutora oficial da carrinha).
Este tipo tentou-nos vender t-shirts raras por dez dólares, mas fugiu quando tentei tirar-lhe uma fotografia. Não sei porquê… Ei, senhor das suspeitas t-shirts baratinhas: porque fugiste?
Quando já tudo tinha sido feito e dito, estava tão cansada quanto o Adrian, que foi o mais pequeno metaleiro que eu vi. Quando lhe perguntei se ele tinha curtido o concerto, ele disse: “Maiden foi inacreditável!”
Às vezes, é preciso um puto de quatro anos com uma camisola dos Motörhead para sumariar a nossa noite.