Nos últimos dias, a chuva que passou por Osasco, na região metropolitana de São Paulo, prejudicou a fragilidade dos novos barracos improvisados com madeiras e sacos de lixo da ocupação Esperança, que foi atingida por um grave incêndio no dia 13 deste mês.
Naquela terça-feira, além de muitos sonhos derrubados pelo fogo, documentos, roupas e histórias foram embora junto com as 300 moradias destruídas. O lugar, como diz uma canção do rapper Don L, virou um “mundo em ruínas, tipo Mad Max.”
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A maior parte dos destroços já foi removida pela Prefeitura, deixando um enorme campo aberto — com chão de terra batida e memórias. “Às vezes, alguns moradores se dirigem a um pedaço do terreno e ficam olhando pro chão, relembrando suas casas”, detalha o fotógrafo Warley Leite, que tem acompanhado famílias que perderam suas casas e estão reconstruindo suas vidas no local.
Passados 13 dias do acontecido, é com as doações que a comunidade se vira para preparar café da manhã, almoço e janta.
“Às vezes, alguns moradores se dirigem a um pedaço do terreno e ficam olhando pro chão, relembrando suas casas” — Warley Leite
Leite se diz estarrecido com a força de vontade de quem continua na ocupação: “Muitas pessoas não pensam em sair de lá, e não querem desistir de seus espaços. É incrível como pensam positivo.”
Do alto de seus 78 anos, o morador Lúcio é um deles. “Nós perdemos tudo, meu amigo. Mas não tem problema. Construiremos tudo novamente”, relatou ao fotógrafo.
Questionada pela VICE, a Prefeitura de Osasco afirma ter oferecido “todo o suporte necessário, fornecendo alimentação, assistência social e providenciando nova documentação aos moradores do local”. Não é o que o fotógrafo tem ouvido de quem continua ocupando o terreno, que é privado. “As famílias dizem que depois do segundo dia [após o incêndio], nenhum órgão público foi até lá para falar com eles. Elas afirmam que são pessoas próximas e o Movimento Luta Popular (MLP) que as auxiliam”.
Dentre as cenas que tem presenciado, Leite relata a que mais lhe chamou a atenção: “Vi um menino brincando no campo vazio com casinhas em miniatura. Parecia que ele estava montando uma comunidade de novo. Fiz a foto, passei por ele, e ele nem olhou. Ficou ali, concentrado.”
Saque mais imagens dos fotógrafos André Lucas, do C.H.O.C Foto Coletivo, e Warley Leite, do Everyday Mogi abaixo.