O estacionamento ao lado da Escola Estadual Professora Marilsa Garbossa Francisco, no Jardim São Luís, extremo-sul da cidade de São Paulo, serve de base para a reunião. São 18h30 da segunda-feira (16). Ali, estudantes secundaristas decidem os passos iniciais para ocupar o colégio: quais portões devem ser trancados e como serão feitas as barricadas para impedir a entrada da polícia. As instruções foram previamente combinadas num grupo de WhatsApp. O clima fica tenso quando uma funcionária da escola passa pelo grupo para dizer “oi”. Sem perceber o que eles fazem ali, ela vai embora.
De acordo com o coletivo O Mal Educado, que acompanha o movimento estudantil, o número de escolas ocupadas subiu para 37. A mobilização se dá desde que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou o plano de reorganização do ensino público no Estado de São Paulo. Segundo o site do governo, a partir de 2016, a escola Marilsa Garbossa não contará mais com o Ensino Médio.
Videos by VICE
“A grande resistência de uma ocupação é a direção da escola”, diz um dos jovens. Todos prestam atenção. Durante a reunião, alguns tomam refrigerantes e dividem pacotes de bolacha.
Quando bate o sinal, pontualmente às 19h, os estudantes entram na escola. Na sala de aula, um professor que apoia os alunos começa a falar: “Estou emocionado. Todos os dias, eu venho aqui pra ensinar. Hoje, vim aprender”. Na sequência, ele usa uma música dos Racionais MC’s pra mostrar que, na quebrada, o lance é diferente. “Da ponte pra cá, as políticas públicas não chegam. Portanto, esqueçam tudo que é pedagógico. Hoje, é com vocês.”
Às 19h30, os alunos passam de sala em sala anunciando que o dia não será como os outros. “Hoje, iremos ocupar a escola”, avisam.
Dez minutos depois, munidos com cadeiras nas mãos, eles descem em direção ao pátio para fazer uma assembleia, que acontece de forma direta. “Quem é a favor de ocupar a escola?”, pergunta uma adolescente para a multidão. A maioria, senão todos, levanta a mão e grita.
Nesse momento, os alunos enfiam as cadeiras no portão da escola, fazendo o conhecido “cadeiraço”. Os dois portões da unidade são trancados com corrente e cadeado. É oficial. O Marilsa, como é chamado pelos estudantes, está ocupado.
Os percalços não são poucos. Pais de estudantes ficam do lado de fora carregando feições de desespero. Um deles questiona: “Quem vai garantir a segurança de vocês aí?”. Uma aluna explica que o advogado da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) está auxiliando a todos e será convidado a adentrar a escola. Ela também justifica que, uma vez ali, a polícia só poderá entrar no local com pedido de reintegração de posse.
Do lado de fora, além de pais, mães e irmãos menores desesperados, a Polícia Militar e a Força Tática cercam o local.
Vários estudantes procuraram a reportagem da VICE para contar que estavam sendo ameaçados pela polícia através de um dos portões, que era de vidro. “Ele [policial] falou que, se a gente resistir, as forças serão medidas do lado de fora”, contou um jovem que pediu para não ser identificado. “E disse que marcou meu rosto.”
Em meio aos gritos dos alunos, a enorme quantidade de policiais e os portões trancados – amparados por cadeiras e barras de ferro –, uma mãe acaba desmaiando. O filho, do lado de dentro, pede que parentes e amigos a amparem. A mulher passa cerca de cinco minutos caída no chão até retomar a consciência.
Os pais ficam mais tranquilos quando, mais ou menos uma hora depois da ocupação, o portão é aberto para que os estudantes que querem ir embora. Durante as várias assembleias que acontecem durante a noite, a linha de frente da ocupação explica que todo e qualquer estudante poderá sair e entrar da escola a qualquer momento. Eles também se organizam para dividir as comissões: quem irá cuidar da comida, da segurança e da comunicação.
A reportagem da VICE presenciou alguns policiais forçando o portão de vidro. Na página do Facebook intitulada ” Ocupação Marilsa Garbossa“, os alunos publicaram que a direção da escola permitiu que os policiais se instalassem ali.
Na tarde de hoje (17), um dos alunos do Marilsa relatou à VICE como foi passar a madrugada lá. “Não chegamos a dormir. Ficamos a noite toda em claro”, informou. Eles aguardaram a chegada dos estudantes da manhã para explicar sobre o fechamento da escola durante a ocupação e pedir ajuda.
No Facebook, os alunos do Marilsa relataram que pessoas da comunidade jogaram pedras em direção à escola durante a noite. “A comunidade precisa apoiar nossos estudantes, e não repreendê-los”, escreveram.