Onyx Lorenzoni: o coordenador de um governo em que a confusão é a ordem

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Era uma vez um governo eleito por um partido até outro dia nanico com a missão de “mudar tudo isso daí”, sem apoio de estrutura partidária, com poucos quadros qualificados e que se especializou na desinformação: vice que fala e é desmentido pelo ministro da Economia, filho do presidente que promete coisas e é desautorizado pelo pai, intelectual “autoexilado” no exterior que sugere ministro e por aí vai. No meio de toda essa zona, um deputado de nome estranho tenta organizar a transição e a montagem do governo enquanto é desafiado por suas próprias contradições.

Onyx Lorenzoni é o nome do deputado. Recém-eleito para seu quinto mandato na Cãmara, esse veterinário gaúcho de 54 anos, que ficou conhecido no parlamento por sua rígida oposição aos governos do PT, não deve assumir o cargo tão cedo, pois foi nomeado por Jair Bolsonaro como coordenador da transição e futuro ministro-chefe da Casa Civil. Não se trata, sabemos, de qualquer cargo: foi o posto ocupado no governo Lula por José Dirceu e depois por Dilma Rousseff, que lá formou sua imagem de “gerente” e construiu sua campanha para ocupar a Presidência.

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Onyx se credenciou para ocupar esse posto pelo antipetismo que demonstrou durante sua passagem pela oposição. Eleito deputado pela primeira vez em 2002, fez muito barulho durante as investigações do Mensalão, o primeiro grande escândalo a atingir os governos petistas. Seu discurso contra a corrupção ganhou corpo nas investigações que resultaram no impeachment de Dilma, e chegou ao auge quando se tornou o relator no Congresso de um projeto de lei anticorrupção criado pelo Ministério Público, as chamadas “10 Medidas”.

Nesse período, posicionou-se de forma convicta a favor de medidas vistas como punitivistas, como a prisão após julgamento em segunda instância e o fim do foro privilegiado para políticos em exercício de mandato. Também propôs a transformação do caixa 2 de campanha em crime comum, e não apenas eleitoral, com direito a prisão. Curiosamente, esse se tornaria o seu calcanhar de Aquiles.

Em 2017, Onyx foi delatado pelo executivo Ricardo Saud, da J & F, como recebedor de R$ 200 mil não declarados para sua campanha eleitoral de 2014. Ele admitiu ter recebido metade do valor, disse que não tinha como fazer o devido registro a doação, pediu desculpas aos eleitores e prometeu “assumir responsabilidades perante o Ministério Público e o Poder Judiciário”. Em junho deste ano, quando Onyx já era um ativo militante pró-Bolsonaro, embora seu partido estivesse na coligação de Geraldo Alckmin, o ministro Luiz Fux arquivou por falta de provas uma investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) de caixa 2 pago pela Odebrecht, no valor de R$ 175 mil, informada em outra delação premiada. Ao ser questionado se um governo contra a corupção deveria aceitar um ministro réu confesso, o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, disse que o gaúcho “admitiu e pediu desculpas”. Agora, nesta semana, o ministro Edson Fachin resolveu abrir investigações contra 10 parlamentares inclusive Onyx, por conta da delação da J & F.

No dia a dia da transição, o recém-casado Lorenzoni já percebeu que as bravatas de Bolsonaro sobre “resolver isso daí” terão pouca serventia no mundo real, na hora de negociar apoio a medidas complexas que exigirão votações no Congresso, como a reforma da Previdência. E já tratou de iniciar a tradicional negociação que, segundo ele, garantirá a parceria de “cerca de 350 deputados” com o governo. “Sem toma lá dá cá”, prometeu. Não disse, porém, qual será a fórmula mágica que vai garantir o apoio de partidos notoriamente fãs da prática, como o MDB, governista desde 1985, e o PR, membro da base de apoio de todos os últimos governos. O enfraquecido PSDB, segundo ele, também está na alça de mira. Bolsonaro se reuniu com as bancadas no começo da semana, mas não houve nenhum anúncio formal de apoio.

Para especialistas, Onyx corre o risco de não esquentar muito tempo na cadeira de ministro. Nesta quinta-feira, dia 6 de dezembro, quando este texto estava sendo fechado, Bolsonaro voltou a dizer que “qualquer um envolvido com corrupção sairá do governo”, sem citar novamente seu ministro; na véspera, o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, já avisou que, se a investigação no STF confirmar as denúncias de caixa 2 contra o ministro, ele sairá.

No Jornal do Brasil, a colunista Tereza Cruvinel crava que o ministro nem sequer tomou posse e já está em processo de “fritura”. A própria nomeação do general Carlos Alberto dos Santos Cruz para a Secretaria de Governo, cargo que dividirá com Onyx as negociações dentro e fora do governo, já havia sido vista como um sinal de que o gaúcho não conta com 100% da confiança do presidente. Dias bem agitados parecem estar a caminho da Casa Civil.

Nome: Onyx Dornelles Lorenzoni
Idade: 54
Ministério: Casa Civil
Formação: Bacharel em Medicina Veterinária pela UFSM (Universidade Federal de Santa Maria)
Partido: DEM

Acompanhe os perfis de todos os ministros do Brasil na série A banca de Bolsonaro.
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