As orgias são um pesadelo logístico

Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.

Para certos tipos de homens jovens, a palavra orgia tem quase sempre um efeito hipnótico. A simples menção de uma orgia cria toda uma onda de emoção e expectativas, que faz com que o senso comum saia disparado janela fora. É claro que essa emoção é, normalmente, um sintoma de inexperiência. Tinha uns 20 anos quando tentei ter a minha primeira e única orgia e não fazia ideia do que estava a fazer.

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Éramos cinco: dois gajos (irmãos), duas raparigas e eu. Tentámos ter a nossa pequena orgia num hotel familiar na minha aldeia, um lugar no norte de Inglaterra. Começámos com esperanças de fazer coisas loucas e orgásmicas, mas a minha experiência acabou por ser tão horrível que, mesmo passados tantos anos, a única memória que guardo daquela noite ainda me traz tanta pena que me apetece meter um saco de papel na cabeça e ir para o canto da sala.

Para descobrir o que fiz de errado naquela noite miserável, localizei Miss Scorpio (cujo nome verdadeiro é Larisa Fuchs), uma anfitriã de festas sexuais que vive em Nova Iorque e tem muita experiência em fazer com que várias pessoas rocem os genitais entre elas. Contei-lhe a minha triste história de sexo em grupo e ela deu-me alguns conselhos que vou partilhar com vocês, meus potenciais foliões sexuais.

Tem expectativas realistas

De acordo com Miss Scorpio, as fantasias irreais que os homens jovens têm sobre uma “orgia perfeita, tipo porno” podem distraí-los da própria experiência em si, porque os faz esquecer que o sexo em grupo é um encontro partilhado. “Esquecem-se que os outros envolvidos são pessoas reais, com sentimentos reais e com as suas próprias expectativas”, explica.

Este foi, definitivamente, um dos erros que cometi na noite em que tentei fazer uma orgia. Apesar de que, antes daquela noite, eu já sabia o que era a humilhação sexual (fui deixado duas vezes por culpa do meu eterno calvário da ejaculação precoce), tinha expectativas demasiado altas sobre como deveria ser uma orgia. Imaginei algo parecido com um vídeo de Woodstock, onde todos dançam nus e fazem coisas na lama: algo sujo, incrível e muito, muito emocionante.

Esta é uma maneira ridícula de pensar, não só porque algo “sujo”, “incrível” e “muito, muito emocionante” é impossível de acontecer no segundo andar de um hotel familiar. E, ainda por cima, estas suposições esquecem-se da verdade mais simples… Se queres saber o quão boa vai ser a orgia em que vais participar, tens de saber o quão bom és no sexo normal, uma vez que é pouco provável que vá ser muito diferente. Por outras palavras, se nos confins do teu quarto tens problemas para cumprir a missão, vai ser complicado que, de repente, te transformes num deus do sexo.

Planifica

Todos nós queremos que a vida seja como o enredo de um filme pornográfico clássico: por mero acaso, um par de raparigas bonitas aparecem no teu apartamento e, depois de alguns diálogos terríveis em que alguém faz alusão ao calor que está, todos se despem e começam a foder. No entanto, Miss Scorpio diz que planear aventuras sexuais com antecedência permite que haja a oportunidade para discutir os limites e o consentimento, “que é algo que te dará muito mais confiança durante o evento”.

Embora seja muito difícil que o meu coração romântico o admita, ela seguramente tem razão. Parece que as melhores orgias do Mundo só ocorrem nesses clubes de sexo burgueses, onde os participantes devem ser aprovados e todos são ensinados como fazer com que a experiência seja tão boa quanto possível. Embora seja um pouco ranhoso fazer do sexo algo tão formal, pelo menos aqui reconhece-se a realidade de que foder é muito mais uma habilidade do que realmente gostaríamos de admitir. Simplesmente, não podes atirar-te de cabeça e já está.

A natureza improvisada da minha tentativa de orgia foi definitivamente um dos elementos que contribuíram para o seu descalabro. Tudo começou num bar da minha cidade, chamado Cross Keys, onde em algumas noites havia uma discoteca a funcionar no andar de cima. A noite de terça-feira era “noite dos solteiros”, ou o que a minha mãe chamava de “noite para engatar uma velhinha”, já que este sítio tinha a reputação de reunir muitas cotas divorciadas. E era verdade. O meu irmão mais velho, por exemplo, uma vez beijou uma mulher que tinha o dobro da idade dele e que lhe disse que tinha um filho um ano mais velho do que ele.

No entanto, a maior parte do público nos seus vinte anos, como eu, era gente muito aborrecida. Naquela época, tinha acabado de voltar de uma viagem e andava com uma atitude tipo bad boy. E foi por isso que sugeri a orgia. Já estávamos cá fora na hora de fechar quando lhes dei a ideia.

Dave, o mais velho dos dois irmãos (andei na escola com os dois), perguntou o que é que podíamos fazer. Esta era uma pergunta que não nos levaria a lado nenhum, porque na minha aldeia não há nada para fazer numa terça-feira à uma da manhã, a não ser voltar para casa. As miúdas, uma loira e uma morena, olhavam à volta, sem saber o que fazerem. Na brincadeira, eu disse: “Vamos fazer uma orgia!”.

Eu juro que era uma brincadeira, mas quando sugeri a orgia algo de estranho aconteceu. Entre acenos e murmúrios deu para ver que estavam a gostar da ideia. A barraca estava armada!

Fotografia pelo utilizador Abhishek Singh Bailoo (Flickr).

Escolhe bem o sítio

Miss Scorpio disse-me que uma boa localização deve exalar um certo luxo. Mas, a menos que o cheiro a esfregona seja um luxo, escolhemos definitivamente o sítio errado. Foi o Dave que sugeriu que fôssemos para o pequeno hotel. Nem sabia que a minha aldeia tinha um hotel. Disse-lhe até que não acreditava que existisse. “Sim, é na zona industrial, antes da ponte”, disse ele.

Sei o que estás a pensar. Qualquer um que ouvisse essas palavras – “zona industrial” e “antes da ponte” – a caminho de uma orgia deveria imediatamente reconsiderar os seus planos. No entanto, a minha mente estava maravilhada com a incrível oportunidade que a vida me estava a dar e só havia uma palavra que ecoava na minha cabeça: Or-gi-a! Or-gi-a! Or-gi-a!

Os hotéis familiares nem são lugares muito maus se estás de passagem, mas são os piores lugares do mundo para tentares entrar em contacto com o teu deus sexual interior.

O hotel a que fomos, situado na rua principal dos limites da localidade, tinha sido recentemente construído e por fora parecia um lar para idosos. Os salões cheiravam a produtos de limpeza e tinha uma iluminação muito agressiva. O quarto era minúsculo, com uma cama de casal, uma casa de banho e mobiliário de madeira falsa. Não se podia fumar e não tinha mini-bar. O pior era que não podias mudar nada do sítio: os candeeiros ao lado da cama estavam presos à parede e as janelas não abriam. Era como se tivesse sido concebido para evitar qualquer tipo de diversão espontânea.

Uma orgia é tão boa quanto o seu líder

Suponho que sexo em grupo não seja muito diferente de qualquer outro evento com muitas pessoas. Deve sempre existir aquele alguém que faça com que as coisas aconteçam. Miss Scorpio chama a esse papel o de “fada brincalhona”. Infelizmente, a nossa fada brincalhona foi o Dave. O Dave e o Colin eram filhos de um executivo de um clube desportivo. Localmente, o pai era muito famoso e às vezes aparecia na televisão regional. Não era um homem particularmente carismático e os seus filhos também não. Ambos tinham herdado aquelas linhas faciais moribundas e a voz cansativa. Se encontrasses os três a beber no bar, podias jurar que alguém tinha morrido.

Na escola, David era embaraçoso e, por vezes, sentia uma certa empatia por ele, porque a minha auto-estima também não era a melhor. Mas, quando a escola acabou, David foi para outro país. Embora esta viagem o tivesse feito sair da casca, honestamente só me apetecia que voltasse lá para dentro outra vez. Voltou com mau aspecto. Mas, não um mau aspecto sexy como o Mick Jagger. Estava com uma pinta bimba e perturbadora, como o Dominique Strauss-Kahn. (Agora que penso, tanto eu como o Dave somos uma péssima propaganda para os benefícios de viajar).

Quando chegámos ao hotel, Dave disse-nos para esperar e foi pedir um quarto. Para não chamar a atenção, disse-nos para irmos dois a dois, mas sem ser ao mesmo tempo. Esta precaução era desnecessária, porque não havia ninguém na recepção. Assim que chegámos àquele quarto deprimente, andámos às voltas como quando estás à espera que comece uma reunião. Então, Dave deu a ideia de nos metermos na cama e jogarmos à verdade ou consequência. Este foi o princípio do meu fim.

Fotografia pelo utilizador Marcus Hansson (Flickr).

Escolhe bem os participantes

De acordo com Miss Scorpio, a tua primeira orgia deve ser com pessoas que conheças. Isso evita mal-entendidos e ajuda a que todos se sintam melhor. “A comodidade é tudo”, disse. E acrescentou: “Podes começar a fazê-lo com estranhos depois teres algumas experiências bem sucedidas e de descobrires o que tu e os outros gostam”.

Está claro que eu não tinha isso em mente quando fui para a cama e me despi completamente sem que ninguém me tivesse pedido. Agora que penso sobre isso, foi uma táctica tão má que não ajudou de maneira nenhuma a que as miúdas que acabava de conhecer se sentissem mais “confortáveis” ou “sem pressões”. Além disso, não existe nada melhor para anunciar um “ejaculador precoce” do que um homem que se despe rapidamente quando os outros ainda estão todos vestidos. Só mostra que este alguém está com muita pressa de acabar com tudo. Se elas me conhecessem melhor, talvez tivessem visto este striptease com mais empatia e não como uma ultracorreção certamente estranha.

Não demorou muito tempo desde que me despi até a loira escolher consequência. Dave apontou para mim e, com um tom inexpressivo que utilizarias para pedir a alguém para levar o lixo, disse: “Bate-lhe uma punheta”. Ela encolheu-se, olhou para mim como se me estivesse a evitar. “Não, eu não quero”. Como se fosse o meu aliado, o Dave insistiu: “Vamos agarra nela”. Imagino que, neste momento, o meu eu interior cobria a cabeça com as mãos perante o horror que tudo isto representava. Mas, tentei manter uma cara séria e confiante. “Ok. Não tens de o fazer”.

De repente Colin levantou-se e foi à casa-de banho. A meio caminho virou-se para a morena e pediu-lhe para o acompanhar Ela levantou-se e atravessou o quarto com um olhar de indiferença e de aborrecimento. Ambos desapareceram. Naquele momento, ficou bastante claro que ela gostava do Colin desde o início. Mas, o que não era tão claro era o porquê do quase silêncio que emanava da casa-de-banho. Ou estavam a foder da forma mais calma do mundo, ou estavam a rezar pelas nossas almas.

Na ausência deste casalinho, as negociações sobre a punheta continuaram. A loira aceitou bater uma ao Dave, em vez de o fazer a mim, mas o Dave, determinado a defender os seus amigos, não parecia disposto a aceitar. “Porque é que não lhe queres bater uma?”, queixou-se. Ela hesitou. Veio na minha direcção e disse, “Não é nada pessoal”. E eu tenho certeza que ela estava a dizer a verdade. Mas, afinal, quem é que no seu perfeito juízo quer masturbar um completo estranho num quarto de hotel?

Aconteça o que acontecer, sobreviverás

Este é mais ou menos o final da história, embora não possa deixar uma imagem tão má da minha pessoa. A única coisa que tenho a acrescentar sobre aquela noite é que, num determinado momento, as raparigas foram-se embora. Na manhã seguinte acordei nu na cama com dois irmãos um pouco paranóicos, porque não tinham a certeza do que o outro me poderia ter feito enquanto dormia. Saí do hotel e fui de autocarro para casa. Desde esse dia nunca mais tentei fazer uma orgia.

A verdadeira intimidade é algo que muito poucas pessoas experimentam na vida. E, embora estejamos ansiosos para a desfrutar, também temos muito medo de a encontrar. O que fez a minha experiência ser tão terrível foi o seguinte: é difícil encontrar intimidade em grupo, porque é difícil superar essa sensação de estar exposto. A triste realidade de muitos encontros em grupo é este desanimador fenómeno em que a acumulação de almas e mentes tem, paradoxalmente, um efeito inverso sobre a inteligência e a moral das pessoas.

No entanto, Miss Scorpio diz que não tem de ser assim. Durante os últimos cinco anos organizou festas sexuais de luxo no seu apartamento em Manhattan, House of Scorpio, e diz que, desde que sigas as três regras douradas -conhecer os limites, respeitar o consentimento e prestar muita atenção ao prazer do outro -, não existe nenhuma razão para que o sexo em grupo seja menos íntimo do que o sexo regular.

E talvez ela tenha razão. Talvez possas vir a usar a minha história como um ‘anti-guia’ e me vejas como aquele gajo com quem ias à escola e ficava paralisado na aula de educação física. Pode não ser muito agradável pensar no que aconteceu a esse tipo, mas pelo menos tu já sabes como dar uma cambalhota ou, neste caso, como foder e trocar fluidos corporais com um grupo de adultos que deram o seu consentimento.


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