Em questões de ser fixe ou não, todos sabemos como funciona — é uma espécie de aura que pessoas ou coisas emanam ou deixam de emanar num determinado momento — é a diferença entre descobrirmos que aquela miúda pela qual temos um fraquito tem a discografia completa do Anselmo Ralph (nada fixe) ou consegue recitar a discografia dos Animal Collective de trás para a frente (casa-te comigo).
Prova de como o fixe funciona são os Arctic Monkeys, banda que em tempos era algo fixe de forma natural mas que ultimamente andou a tentar comprar um fixe que já não tinha. Os sinais do fixe de fachada estão por todo o lado. Por exemplo, no outro dia estava no café e estavam duas jovens de 14-15 anos a ouvir o Do I Wanna Know no telemóvel enquanto “cantavam”. Neste momento interroguei-me como é que há uns anos eu poderia gostar desta banda, nada fixe.
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O caso da Sara
Tive mais uma prova de que o fixe tinha abandonado o corpo dos Arctic Monkeys quando, numa visita aos meus tios, ouvi uns ecos da R U Mine a virem da direcção do quarto da minha prima Sara de 15 anos, decidi investigar. Desloquei-me ao quarto dela ao fundo do corredor, de porta semi-aberta, bati três vezes e do outro lado ouvi uma voz exclamar “O que é?”
“Sou eu, olha, queria perguntar-te umas coisas.”
“Ok podes entrar.”
Entrei no quarto típico de uma pré-adolescente com fotos e papelinhos colados nas paredes, também estava um poster do Justin Bieber meio rasgado e enrolado debaixo da secretária, no portátil estava o videoclip da R U Mine a tocar, estava na parte em que o Alex Turner mostrava a tatuagem.
“Então agora andas a ouvir os Artic Monkeys?” Perguntei eu.
“Ai sim são de mais, o Alex é tão giro, adoro o Do I Wanna Know” disse ela enquanto se deslocava para o portátil para escrever o nome da música no Youtube.
“Então e andas a ouvir essa banda há quanto tempo?”
“Descobri o mês passado, passaram na Cidade FM”
Claro que por esta altura já estava a pensar em perguntar aos pais da Sara como é que as coisas chegaram a este ponto. Com uma curiosidade mórbida perguntei:
“Então e Sara, as tuas amigas também andam a ouvir os Arctic?”
“Sim adoram, as músicas são excelentes para dançar.”
“Já ouviste os outros álbuns deles, como por exemplo o Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not ou o Favourite Worst Nightmare ou até o Humbug? São bem bacanos.”
“Ai sim já ouvi umas músicas que apareceram nas sugestões do Youtube mas são uma seca, o Alex também não estava tão giro como está agora.”
Aqui deu-se um silêncio de sete segundos enquanto eu olhava um bocado incrédulo para ela.
“Ok, vou para a sala.” Disse depois. Enquanto passava pelo corredor temi pelo futuro da humanidade.
Quando o fixe poderia ter sido mais fixe
Vamos ser sinceros, todos nos lembramos quando estávamos no décimo segundo ou no primeiro ano da faculdade e andávamos a ouvir os dois primeiros álbuns deles, eram actuais e arrojados, conseguíamos empatizar com os temas das músicas, eram verdadeiros, éramos nós.
Talvez os Arctic Monkeys tenham tido o seu pico com o Favourite Worst Nightmare. O Humbug, co-produzido pelo Josh Homme dos Queens of The Stone Age, foi algo de muito bom também, mostrou que os Arctic Monkeys tinham amadurecido e estavam a tentar fazer algo diferente. Este caminho foi infelizmente abandonado quando a Alexa Chung começou a ponderar em despachar o nosso querido Alex, o que o deixou muito triste e com vontade de fazer um break-up álbum com músicas queridas, o Suck it And See.
Arctic Monkeys, Made in the U.S.A.
Foi por altura do Suck it And See que os Arctic Monkeys decidiram contratar gestores de imagem e comprar o fixe, começaram a aparecer as motas, as tatuagens, os casacos de cabedal, os penteados arrojados e os ambientes de western, enfim, tudo o que os pudesse transformar numa espécie de Motörhead’s betinhos, algo que que deixasse o seu novo púbico alvo, raparigas de classe média suburbanas, doidas a quererem fazer uma road-trip de mota com eles, parar algures no meio do deserto e tatuar uma caveira no ombro.
(Os concertos são agora assim.)
Hoje em dia, nos concertos o Alex é um playboy do rock and roll com jogo de anca incluído, mete conversa com o público e diz que as meninas são todas muito bonitas, o índice de humidade dos recintos quadruplica, mas isto é tudo imagem, os últimos suspiros de um fixe que está a ser pago para ficar. Com o seu mais recente álbum, AM, já nem tentam disfarçar mais o que pretendem, que é usar umas roupas e penteados da moda para impressionar essa grande camada económica que são as pré-adolescentes e depois tentar fugir aos impostos com o dinheiro delas. A coisa passou a ser um pop-rock de platitudes e imagem. O Matt Helders passou a ter direito a um falseto/chorus fácil de decorar em todas as músicas, que agora são sobre coisas fofas, “wow isto é mesmo rock and roll”, meias pelos joelhos, ou querer ser um aspirador.
Como o Alex disse em 2005 no videoclip do primeiro grande single de sucesso I Bet You Look Good On The Dance Floor — Don’t believe the hype — Parece que estava a adivinhar o futuro.