Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.
O problema dos fãs da música pop em aceitarem a morte dos seus artistas favoritos não é um fenómeno novo. A primeira vez que alguém garantiu ter visto Elvis Presley depois da sua morte foi a 16 de Agosto de 1977 – o próprio dia do falecimento do músico -, quando um homem chamado “Jon Burrows” (o nome que Presley usava para fazer check-in nos hotéis) comprou um bilhete de avião só de ida de Memphis para Buenos Aires. Seguiram-se mais “avistamentos”: Elvis pode ser “visto” no fundo de uma cena de Sozinho em Casa, de 1990 e estava na inauguração da Lego Land na Califórnia, em 1999. Serão apenas Suspicious Minds, ou haverá mesmo mais alguma coisa?
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Quase certamente que não há coisa nenhuma, assim como quase de certeza que não há nada em nenhuma dessas teorias da conspiração de celebridades mortas. E, no entanto, isso não impede que certos membros da base de fãs de Michael Jackson se recusem a aceitar a sua morte, tão fervorosamente quanto se recusam a aceitar as muitas alegações de abuso sexual infantil contra ele.
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Jackson morreu de paragem cardíaca há 10 anos, no dia 25 de Junho de 2009, depois do seu médico pessoal, Conrad Murray, lhe ter administrado uma dose de propofol para ajudar o cantor a dormir. A 29 de Novembro de 2011, Murray foi condenado por homicídio involuntário e acabou por cumprir dois anos de uma sentença máxima de quatro – mas, a conspiração de que Jackson está vivo ainda se mantém, graças, em parte, a alguns acontecimentos estranhos relacionados com aqueles que lhe eram mais próximos.
A 30 de Julho de 2017, Steve Erhardt – que foi estilista de Jackson durante muitos anos – partilhou uma mensagem enigmática no Twitter: “Ouviste aqui primeiro, uma espécie de anúncio. E em alguns meses, ou o mais tardar no final do ano, vais receber notícias muito boas. Nem a família sabe… Mas eu sei!”. Já se passaram quase dois anos e não aconteceu nenhum “Regresso”, mas a 19 de Junho de 2018, Erhardt partilhou uma fotografia que mostrava as pernas de um homem vestido com as calças pretas e as meias brancas de Jackson. Dizia: “Num estúdio de gravação, em algum lugar do Mundo, num local não revelado, ele está a chegar em breve…”.
Em 2010, o compositor Teddy Riley – que trabalhou com Jackson no seu álbum Dangerous, de 1991 – afirmou que acreditava que o cantor estava vivo. O músico norte-americano Akon – um homem que, há que frisar, uma vez questionou a existência de “diamantes de sangue” – confessou que pensava o mesmo. Houve um alegado avistamento de Jackson – ou pelo menos de um personagem que ele interpretou, The Mayor, na curta Ghosts de 1996 – nas filmagens feitas no casamento do seu sobrinho Siggy Jackson, em 2017. E outro no fundo de um vídeo publicado no Instagram pela sua filha Paris, em 2016. Depois, há o curioso caso de Dave Dave.
David Rothenberg era um menino de seis anos de Brooklyn que, em 1986, morava com a mãe. Os seus pais eram divorciados. A 3 de Março daquele ano, depois de uma discussão entre os dois, o seu pai, Charles Rothenberg, deu ao filho um comprimido para dormir. Deitou-o, despejou gasolina na cama e pegou-lhe fogo. Depois, ficou a assistir a tudo de uma cabine telefónica do outro lado da rua do motel onde o seu filho ardia. David sobreviveu, com queimaduras de terceiro grau em 90 por cento do corpo. Na idade adulta, depois de mudar de nome e se tornar num artista conceptual, Dave e Jackson tornaram-se amigos. Ele esteve no funeral de Jackson em 2009.
“Eu acho que Dave Dave e Michael são a mesma pessoa”, diz Sarah, uma crente na teoria de que Jackson não morreu, que encontrei e contactei pelo Reddit. E acrescenta: “Eles são parecidos. As vozes deles são idênticas”. Mas como? Se há toneladas de fotografias deles juntos. “Computadores”, garante Sarah. E acrescenta: “Podes fazer qualquer coisa num computador”. Mas, porque é que o Michael iria fingir ser outra pessoa? “Porque pessoas como tu magoaram-no toda a vida. Jornalistas. Ele fartou-se. Precisava de se afastar disso. ‘Morreu’, tornou-se Dave Dave e agora vive uma vida normal”.
No ano passado, no dia 15 de Julho, Dave Dave morreu de pneumonia. Não consegui saber como é que isso se encaixa na história em que Sarah acredita, no suposto plano de Jackson para a vida após a morte, porque ela deixou de me responder às mensagens. Outro utilizador do Reddit, que insistiu que o chamasse de “Frankenstein”, acredita que Jackson forjou a sua morte para escapar às dívidas esmagadoras com que foi confrontado em 2009. Na altura da sua morte – a morte oficial – estima-se que o cantor devia cerca de 500 milhões de dólares, principalmente em juros. “Há demasiadas coincidências”, sublinha Frankenstein. E justifica: “Ele era demasiado esperto para não conseguir resolver os problemas financeiros. Morrer fez disparar o seu valor”. Desde a sua morte, estima-se que Jackson terá ganho mais de dois mil milhões de dólares.
“Os poucos amigos que tenho odeiam que esteja constantemente a falar sobre Michael, continua Frankenstein. E salienta: “Ficam irritados. Acham que ele era um núncio. Eu não acredito em nada disso. Leio michaeljacksonsightings.com tanto quanto posso. Há rumores de que ele está a morar em Gloucestershire ou no Bahrein”.
Claro que Jackson viveu toda a sua vida a jogar com a excentricidade. Há rumores de que, no final, não tinha nariz e usava uma prótese quando estava em público. Que tentou comprar os ossos de Joseph Merrick, mais conhecido como The Elephant Man. Que dormia num tanque de oxigénio, porque acreditava que isso o poderia ajudar a viver até aos 150 anos. Os mais estranho rumores dominaram a sua vida, não é surpreendente que continuem a fazê-lo na morte.
Mas, porque é que os fãs continuam na esperança de que o cantor esteja vivo? “Não havia ninguém como ele”, justifica um utilizador do Reddit que me pediu para permanecer anónimo. E acrescenta: “Ninguém como ele e não haverá nunca mais. Porque é que acredito que ele está vivo? Não há nenhuma razão real. Só não estou preparado para aceitar que não esteja”.
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