Entretenimento

Os fetichistas estão na rua

Cada ano, desde 1984, a comunidade de fetichistas do cabedal vai até SoMa, em São Francisco, para celebrar a cultura bondage e sadomasoquista, mas também a liberdade de expressão sexual. Fetichistas de todos os tipos reuniram-se uma vez mais para pavonear-se com os seus artefactos, e dar tudo, em nome de uma boa causa (a doações recebidas à entrada são dirigidas a diversas organizações benéficas).

Nos anos 70, este evento consistia num acto de protesto contra as tentativas de remodelar o SoMa, um bairro industrial lar da classe operária, onde também estavam localizados bares, saunas e discotecas para a comunidade queer. Quando houve a crise da SIDA nos anos 80, a cidade fechou muitos destes estabelecimentos, e por isso começaram a organizar este evento, para ganhar visibilidade e fundos para apoiar esta comunidade.

Videos by VICE

A Folsom Street Fair de 2015 contou com veteranos e novatos do cabedal, visitantes estrangeiros e nativos de São Francisco. Nós, pedimos à fotógrafa Vivian Fu que nos contasse o que viu por lá.

Nome: The Twins [Os gémeos].

Qual é a tua profissão?

Sou consultor.

Há quantos anos vens a Folsom St?

Eu um, a minha companheira três.

De que é que mais gostas nesta feira?

Exibir-me e conhecer outras pessoas.

Em que te inspiras?

No amor que partilho com a minha companheira e nos cavalos.

Nome: Little M

O que é que te traz a Folsom St?

Folsom proporciona um ambiente onde toda a gente é livre de ser quem é, sem nenhum tipo de vergonha. Muitos fetichistas viveram uma vida inteira com vergonha dos seus desejos sexuais, por causa do estigma associado a esta prática, porque se desvia do que a sociedade considera uma expressão sexual “normal”.

Folsom é um lugar onde não só podemos mostrar-nos abertamente e exprimir as diferenças e anormalidades da nossa sociedade, como também podemos celebrá-las. Não há nada mais libertador que poder aceitar publicamente algo que durante muito tempo pensaste que fosse um “problema”.

Em que te inspiras?

Inspiro-me em duas pessoas que têm a coragem suficiente para ignorar as normas da sociedade, para poder ser fiéis a si mesmos. Veste-te como queiras, e vive como queiras. Se não fazes mal a ninguém (de forma não consentida), és livre de ser quem quiseres.

Nomes: PupMaphia e Fetchfore.

Qual é a vossa profissão?

PupMaphia: Eu estou nas Forças Aéreas dos Estados Unidos.

Fetchfore: Eu sou engenheiro de construção e faço parte da Armada dos Estados Unidos.

O que vos traz a Folsom St?

PupMaphia: É a forma que o meu amo e eu temos de expressar-nos e viver a nossa paixão por uma comunidade que nos aceita pelo que somos e pelo que fazemos.

Qual é a vossa parte preferida da feira?

Estar rodeado de montes de pessoas, com a mente aberta, que pensam como nós. Infelizmente, ao viver no sul dos Estados Unidos, não podemos desfrutar todos os dias deste luxo.

Quem é o vosso ícone BDSM (bondage-sadomaso)?

Nenhum dos dois podemos escolher apenas um. São todos os membros da comunidade que vivem o seu sonho, e o partilham connosco.

O que é que mais gostas em São Francisco?

Mas há alguma coisa para não gostar? Aqui há um lugar para toda a gente, podes estar tranquilo e ter a certeza que ninguém vai julgar-te.

Nome: Vinc

Há quantos anos vens a esta feira?

Este ano talvez seja a minha vigésima vez. Nos últimos 16 anos não perdi nenhuma edição, e antes disso já tinha vindo uma três ou quatro vezes.

Quem é o teu ícone BDSM?

A minha pessoa preferida agora mesmo é a Mistress Kära. Esteve na feira, mas estava muito ocupada a organizar uma festa privada, à qual também estava convidada, mas depois não pude ir “brincar” com ela.

Nombre: Madam Quinn Helix (à esquerda)

Qual é a tua profissão?

Sou dominatrix profissional .

Porque vens a Folsom St?

Sou uma pervertida como o resto das pessoas que aqui estão. Ter a oportunidade de celebrar o meu estilo de vida e a minha cultura num espaço público é muito emocionante.

Há quantos anos vens à feira?

Este é o meu primeiro ano.

Em que te inspiras?

No movimento Rad Feminist, nos direitos dos trabalhadores do sexo, e nas dominatrix que ensinam as novas gerações.

O que é que mais gostas de São Francisco?

Adoro a cena punk, as lojas e os vendedores fetichistas.

Nome: An Li

Qual é a tua profissão?

Dominatrix profissional .

Qual é a tua parte preferida da feira?

A abundância de fetichistas em relação à gente “normal”. Como é um evento gratuito, esperava que viessem mais “mirones”, mas a verdade é que há muitos mais fetichistas.

O que é que mais gostas em São Francisco?

Que aqui se possa apoiar abertamente o BDSM. As pessoas são mais liberais e também mais conscientes, politicamente falando, do que em outras partes da Califórnia, e talvez por essa razão o fetichismo aqui seja visto de forma mais natural.

Nome: Speckles

Porque é que vens a Folsom St?

Pelos amigos, para passear assim vestido, ver as roupas espectaculares das outras pessoas, ver como toda a gente se diverte, “brincar” e puxar uma carroça na corrida de animais.

O que é que mais gostas na feira?

Que seja um espaço livre para todos onde quase nada parece normal, mas ao mesmo tempo é muito acolhedor e tranquilo.

Quem é o teu ícone BDSM?

Normalmente, não gosto de reduzir os meus ícones a um grupo de artistas que não representam a diversidade do todo. Dito isto, vi a Grace Jones actuar na noite anterior na feira, e esteve fantástica. Leigh Bowery é sem dúvida uma inspiração, e Michael Manning cria imagens bondage maravilhosas.

Nome: Gabbi (à direita)

Em que trabalhas?

Sou estudante e gosto de encontrar memes na internet e rir-me com eles.

O que é que te traz a Folsom St?

Sempre senti curiosidade pelo BDSM. Queria saber mais acerca desta comunidade.

O que é que mais gostas em São Francisco?

Gosto das pessoas e das diferentes comunidades que se reúnem aqui.

Nome: Edgardo

A que te dedicas?

Estudo e estou no serviço militar.

O que te traz a Folsom St?

A paixão pelo corpo e pelo cabedal!

Há quantos anos vens a esta feira?

É a primeira vez!

Quem é o teu ícone BDSM?

A Angelina Jolie

O que é que te inspira?

Inspiram-me todas as histórias relacionadas com o fracasso.

O que é que mais gostas em São Francisco?

Para além de ser a sede destes eventos loucos, gosto das histórias gays que encontras nas ruas da cidade.

Nome: Michael

A que te dedicas?

Acabo de licenciar-me em Antropologia.

O que é que mais gostas nesta feira?

Adoro que toda a gente se sinta tão livre para desfrutar dos seus próprios desejos carnais.

O que é que mais te inspira?

A primeira vez que estive exposto ao fetichismo foi no primeiro Gay Pride a que fui, em Los Ángeles em 2010, quando tinha 18 anos. O meu namorado adolescente não era apreciador e não explorávamos esta vertente da sexualidade, mas agora sinto-me em casa quando estou neste tipo de ambientes.