Antoine Capet é bom em fazer coisas sem muita grana. Ele tem uma revista, Entrisme, e um projeto de workshops de música eletrônica para crianças com deficiência, Atelier Mediterranée. Ele também é um tatuador autodidata que fabrica seu próprio equipamento com canetas usadas. Atualmente, já que as tatuagens minuciosamente artísticas e trabalhadas são regra, ter uma feita por um lunático com uma esferográfica motorizada parece, ao menos para o autodeclarado “gay metido a artista” de Paris, como a coisa radical a se fazer.
Vice: Oi, Antoine. Do que fala sua revista Entrisme?
Antoine: Eu e meus amigos queríamos receber CDs de graça, convites pra festas, eventos privados, e não sabíamos como, nem tínhamos ideia do que queríamos falar na revista. Ela começou com o nome, Entrisme – sabe, por causa da técnica de infiltração trotskista. A gente queria se infiltrar na cena noturna e nas instiuições culturais de Paris.
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Vice: Você não disse que a Vice França não gosta de você? A Entrisme é tipo uma revista paga-pau da Vice?
Antoine: A Vice França gosta de tirar sarro da gente no blog deles, dizendo que somos uns gays chatos que pagam de artistas. Mas eu gosto de ser um gay metido a artista e com certeza não estou chateado.
Vice: Seu blog de tatuagem se chama “Superficialisme”. O que é isso?
Antoine: Eu já tinha tatuagens mais elegantes e tradicionais, mas sempre preferi as mais naïve, inspiradas nas de gangues sul-africanas. Como com o lance da revista, a gente pensou que a abordagem punk, Faça-Você-Mesmo, seria fácil e legal. A maioria dos tatuadores quer imprimir seu estilo no seu braço, é uma briga de egos. Então eu decidi comprar uma maquininha barata e fazer as minhas próprias. Tatuagens superficiais deveriam ser espontâneas e superficiais. Eu tatuo meus amigos e eles me tatuam.
Vice: Para alguns, tatuagens superficiais podem parecer só tatuagens ruins.
Antoine: Minha grande influência foi o livro “Homemade Tattoo Rules”, de um australiano chamado Thomas Jeppe. Ele me fez pensar que tatuagens toscas podem ser uma tendência contemporânea e não eram só pros presos.
Vice: Você até fabrica seu equipamento.
Antoine: Como um militante do Faça-Você-Mesmo, era óbvio que eu tinha de fazer minhas próprias máquinas. Eu fiz a primeira com o motor de um toca-fitas e usei minha própria perna pra testá-la.
Vice: Você chamaria isso de movimento?
Antoine: Não estou fazendo nada de novo. Mas é que dando um nome pro negócio e falando sobre ele, as pessoas ficaram mais confiantes pra fazer esse tipo de tatuagem de novo. Mesmo depois de dizer que eu não sei desenhar direito e que o resultado final pode ser uma surpresa, as pessoas pedem mais a cada semana. Tatuar o número do seu voo pra NY é dez mil vezes mais relevante que ter uma manga japonesa com uma carpa cobrindo o braço. Eu não tenho nada a ver com uma carpa.
Vice: Você também tem uma banda que diz ser condizente com a filosofia “Mongolo Noise”. O que é isso?
Antoine: Bom, Mongolo Noise é meio que o lado musical das tatuagens de superficialismo. Eu criei o Atelier Mediterranée com o cantor da banda Cheveu – é um workshop de música eletrônica pra crianças com deficiência mental. A gente vai lançar um CD pela Born Bad Records. Muitas vezes pessoas com problemas mentais têm essa força criativa selvagem e são incrivelmente espontâneos porque são deficientes. Eles só precisam de um empurrão. Eu gosto do fato de que eles não estão nem aí, não têm nenhuma referência e são livres, brutais e esquisitos. Eles não fingem.