Estamos de novo em ano de eleição e o seu voto pode ser responsável por eleger a mais alta figura do Poder Executivo que habitará o Palácio da Alvorada. O ambiente digital é sempre um convite forçado a enxergar a posição política dos seus conhecidos e se você, como eu, mora na internet, é bom já começar a analisar quem você vai bloquear nas redes sociais.
O ativismo político não existe apenas em fóruns, no Twitter, no Facebook ou nas redes sociais em geral – ele também habita o crescente universo das diversões eletrônicas, e, graças à adaptação de vários gêneros reconhecidos dentro do mundo dos videogames, os militantes de distintas correntes já se utilizam dessa mídia para seus fins. Mesmo que em alguns casos, como vamos ver, esse fim seja amplo e generalista demais para fazer algum sentido, como a própria conscientização do povo.
Videos by VICE
Fiz uma breve pesquisa atrás dos mais gostosos jogos brasileiros sobre política e não fiquei tão surpreso assim com o que acabei encontrando. Ok, confesso que um pouco.
Dilma Adventure
Jogo feito ainda nas eleições de 2010 quando a esquerda brasileira temia que Serra ganhasse as eleições. Um grupo de partidários da então futura primeira presidenta do Brasil fez esse joguinho de plataforma para apoiá-la. Bom, já falei demais. O resto vocês podem ver nesse vídeo ligeiramente partidário que fala sobre o game. Tem até uma entrevista com o desenvolvedor.
SPOILER: O episódio da bolinha de papel que acertou o Serra na testa, que você provavelmente não lembra, é assunto do vídeo e do conteúdo do jogo, sacada que é motivo de orgulho do desenvolvedor.
Angry Haddad
Houve uma época no longínquo ano de 2012 em que duas coisas estavam a pleno vapor: a disputa eleitoral pela Prefeitura da cidade de São Paulo e o jogo casual Angry Birds. Um pessoal para lá de irreverente teve a ideia de juntar esses dois eventos e criar um produto que seria algo a mais. Foi assim que surgiu o saudoso, pois proibido, Angry Haddad.
No jogo você controla o ângulo de um canhão que atira três tipos diferentes de pássaros redondinhos, muito semelhantes aos do Angry Birds, que na real são caricaturas de Paulo Maluf, de José Dirceu e, claro, do próprio Haddad. Os alvos desses pássaros boladões são uma escola técnica, uma estação de metrô e, por algum motivo que devia fazer sentido na época, a Rede de Reabilitação Lucy Montoro.
Flappy Birds
Dois anos depois, a bola da vez não são mais os passarinhos do Angry Birds mas o passarinho feioso e supostamente roubado do jogo do Mario, o tal Flappy Bird. Obviamente surgiram milhares de jogos baseados no original, que era bem simples de programar a princípio.
O pessoal começou a liberar sua criatividade em Flappy Birds de caráter político, entre eles o Flappy Aécio, em que você precisa controlar um avião até a pista do aeroporto pessoal da fazenda do candidato à Presidência da República. Outro clone de Flappy Bird que também dá uma alfinetada no PSDB é o melhorzinho (pelo menos nos gráficos) Flappy no Duto, onde você controla um fofo tucano que tem que voar entre postes indicando as estações de metrô. Ele também consegue deixar claro que é uma crítica pois seu high score é identificado em milhões que você conseguiu desviar das obras do metrô.
Tem também o Flappy Dilma, em que você precisa atravessar a cabeça da Dilma entre repetidos edifícios do Congresso Nacional, deixando no ar se é uma crítica ou um apoio a nossa atual presidenta. Aliás, olha a preguiça dessa pessoa: esse negócio foi feito com um tal de Flappy Generator. Sério, chega de falar desse maldito Flappy Bird.
Jogo do PT
Que joguinho casual conquistou o coração da garotada neste ano fora Flappy Bird? O puzzle 2048. Nessa versão do jogo, em vez de quadrados com os números que crescem, são políticos do Partido dos Trabalhadores que vão se aglomerando em um Megazord partidário. Ele é idêntico ao original, e a única coisa que muda são as imagens, surgindo avatares de Padilha, Marta, Haddad e Suplicy no lugar dos números. Ao juntar dois deles, você encontra frases de efeito: “Relaxa e Goza”, “Vou ferrar MG”, “Vou Ferrar SP”, “Filhão Sortudo” e a minha preferida de todas, que aparece quando você junta dois Suplicys: “Bob Dylan Racionais”.
Fuleco x Black Blocs
Eu só tenho amor por este jogo. Ele tem a melhor premissa e a pior execução possível, mas conquistou um espaço no meu coração. Você controla um Black Bloc que fica girando e soltando hadoukens no Fuleco, que faz o mesmo contra você. Melhor ainda, o fundo é uma charge do Latuff. Ouro do ouro, só vendo pra crer.
KorruPTus
Desenvolvido em um prazo de 40 dias, o jogo Korruptus veio com o intuito de “conscientizar a população”. O período relativamente curto de desenvolvimento teve um motivo: ele deveria ser lançado um pouco antes das eleições de 2014 para tentar acordar o povo brasileiro para nossa realidade política.
Prévia do jogo Korruptus e um pouco dele em ação.
Elevar à décima quinta potência a força da binariedade do cenário político brasileiro não me soa muito como conscientização. O jogo aglomera, no mesmo grupo que tem como figura máxima Joaquim Barbosa meio vestido de Batman, uma galera como Bolsanaro, Sherazade e Black Blocs (tudo bem que esses discípulos de Guy Fawkes no jogo se parecem mais com o pessoal do Anonymous Brasil do que com a galera que destrói concessionárias na Avenida Rebouças).
O game pega o bonde dos grandes ideais das manifestações de Junho de 2013, que, por juntar inúmeros e díspares grupos, conseguiu reunir frases tão generalistas que se tornam completamente destituídas de significado, como as famosas “E o Sarney Lá” ou “O Gigante Acordou”.
Sua história se desenrola no maior estilo Tower Defense, onde seguidas ondas de inimigos tentam chegar à base principal e é seu objetivo impedi-los com torres que ficam ao lado do caminho. Você ainda pode usar algumas artimanhas como o grupo de repórteres inconvenientes do grupo CKC, que atrapalha os inimigos com embaraçosas e reveladoras questões, dando mais tempo de suas torres atirarem nos bonequinhos adversários. O gameplay é divertido até, como geralmente os Tower Defenses são, mas o tom do conteúdo e universo particular do jogo? Bem, você precisa ver por você mesmo.
Pensando bem, aquela ideia do gerador de Flappy Bird já não me soa tão ruim. Acho que vou colocar a cara de um amigo no jogo e ficar desviando de pintos.
Siga o Pedro Moreira no Twitter.