Os psicodélicos podem mudar a forma como você se vê

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Estamos testemunhando o ressurgimento dos psicodélicos na medicina. Os pesquisadores os consideram úteis para o tratamento de vícios e na diminuição dos riscos de suicídio; o ecstasy tem potencial no tratamento de transtorno de estresse pós-traumático; e o LSD tem sido utilizado como complemento na psicoterapia em pacientes terminais.

Em novo capítulo da redescoberta, um estudo publicado na Neuroscience of Counsciousness apresenta algumas ideias a respeito de por que os psicodélicos podem ser úteis para a saúde mental: uma espécie de reboot da autoconsciência. “Os psicodélicos induzem, com segurança, um estado de consciência alterado conhecido como ‘dissolução do ego’”, explicam os autores, Philip Gerrans e Chris Letheby, da Universidade de Adelaide na Austrália.

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A terminologia antecipa muito da compreensão neurocientífica do funcionamento do cérebro e descreve “uma sensação na qual a mente é colocada em contato direta e intensamente com o mundo, produzindo um senso profundo de conexão e imensidão”. Essa compreensão do self – de um “eu” separado do restante do mundo – se dissipa ou dissolve completamente. Pode parecer familiar para todos que já experimentaram psicodélicos.

A experiência de “dissolução do ego”, os autores argumentam, pode ser profundamente esclarecedora para os pacientes, em parte porque os permite ver as coisas de um modo diferente. De fato, permite que vejam a si mesmos de modo radicalmente diferente ao dissolver temporariamente seu “modelo de self“. Nas experiências cotidianas, podemos viver com uma percepção de nós mesmos como indivíduos coesos, separados do resto do mundo. Pensamos em nossas experiências como se elas acontecessem para uma entidade estável, a qual chamamos de nosso ‘ self‘”.

Contudo, os pesquisadores argumentam que esse self se trata de um modelo: um modo rudimentar de filtrar um mundo de experiências controlável e compreensível. Estamos presos a esse self porque a totalidade de nossas experiências passa por ele. Ainda assim, os pesquisadores sugerem que o self é uma “ficção cartesiana útil: uma representação falsa de uma substância simples e duradoura”. (Os autores são filósofos, então pode esperar uma história filosófica do self bastante longa.)

O que acreditamos ser a parte mais fundamental de nosso ser – o “ self” intangível – é somente um modelo. É um modo habitual de pensar, em outras palavras, e os psicodélicos os revelam dessa maneira. “As experiências de dissolução do ego revelam que o modelo do self tem uma função muito importante de vinculação no processo cognitivo”, os autores escreveram. “Todavia, o self não existe.”

Isso parece uma versão mais culta e rebuscada das narrativas estereotipadas de pós-viagem. Contudo, o artigo apresenta uma estrutura bastante útil para compreender por que os psicodélicos podem produzir resultados impressionantes, com muitos sujeitos dos estudos clínicos afirmando que suas viagens psicodélicas foram algumas das experiências mais profundas de suas vidas. Dissolver o self pode, fundamentalmente, mudar uma pessoa; ao ajudá-la a ver seu “ self” como um modelo que pode ser alterado, os psicodélicos podem apresentar um caminho para uma saúde mental aprimorada.

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