Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.
A crueldade humana atinge o seu expoente máximo quando a indiferença espreita e as almas carecem de empatia. Fechar um cão num carro é algo que, lamentavelmente, acontece habitualmente, mas no Verão é quando a imprensa se enche de manchetes relacionadas com o assunto, porque é quando os cães acabam por morrer.
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Podíamos deixar este tipo de notícia num frigorífico intemporal, num limbo de hits de época para o período entre Junho e Agosto e, desgraçadamente, acertaríamos sempre quando a publicássemos. Neste caso, foram 10 os cães que, a 17 de Agosto de 2017, a polícia encontrou a agonizarem no interior de um veículo sob 43 graus, em Córdoba, Espanha, o que causou a morte de cinco dos animais.
A Policía Nacional chegou três horas depois do proprietário ter estacionado a viatura com os cães no interior. Fechou-os à chave, sem ventilação e foi-se embora. Quando o acusado voltou ao veículo deparou-se com vários agentes a tentarem resgatar os cães.
Vê: “Quem tem medo do Lobo Ibérico?“
O ministério público pede agora uma pena de dois anos de prisão para o dono dos cães e o julgamento celebra-se no próximo dia 18 de Julho, em Córdoba. Apenas um dia depois dos acontecimentos, a 18 de Agosto de 2017, uma mulher foi detida em Valladolid por deixar o seu cão morrer, depois de o prender às grades de uma varanda em plena onda de calor.
Ainda que possa parecer que as pessoas com animais de estimação têm sentimentos por essas ditas criaturas, as sentenças relacionadas com maus tratos a animais em Espanha mostram-nos que os números dispararam 160% nos últimos cinco anos, segundo fontes do El País. As comunidades nas que mais denúncias há são Andaluzia (21%), Catalunha (18%) e Madrid (13%) [Nota do editor: em Portugal, os inquéritos-crime por abandono e maus tratos a animais subiram 20,6% em 2018, ano em que pela primeira vez foi registada uma condenação a pena de prisão efectiva relacionada com esses motivos, aplicada pelo Tribunal de Setúbal].
Segundo Laura Duarte, porta-voz do PACMA, deixar um animal trancado dentro de um carro ou numa varanda ou terraço é muito comum e irresponsável. “Numa questão de minutos a temperatura pode subir e fazer o animal sufocar”, realça. E, embora àqueles que o fazem possa parecer apenas um “vou só ali um momento e volto já”, é claro que este momento pode acabar com a vida deste ser querido.
O endurecimento da legislação para garantir a protecção dos animais é algo que os grupos de animais andam a reivindicar há algum tempo. Apesar da reforma do Código Penal em 2015, a maioria das denúncias acaba em multa. Conforme documentado na página do Conselho Geral dos Advogados Espanhóis, o acusado raramente vai preso [Nota do editor: Em Portugal, desde Outubro de 2015 que os maus tratos a animais são crime].
Embora seja verdade que há uma cada vez maior parte da população que está mais consciente destes problemas e os denuncia, continua a ser claro que ainda há muito por fazer. Consciencializar as pessoas para pararem de trancar cães num carro é tão óbvio quanto necessário. Está plenamente demonstrado que maltratar animais num ambiente familiar aumenta as possibilidades de que se produzam outras formas de violência. Que quanto mais empatia demonstrares em relação a qualquer ser vivo, mais estarás a agir em benefício da sociedade.
Porque aquela coisa que se diz de que os seres humanos tropeçam sempre na mesma pedra já não é válido quando a vida dos animais está em jogo. Pára de trancar cães em carros. Pára de colocar as suas vidas em perigo só porque tens o controlo dos seus corpos. Nenhum açaime poderá silenciar as vozes daqueles que os defendem, nenhum dedo deixará de apontar para os culpados destas autênticas atrocidades.
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