Esta matéria foi originalmente publicada no Waypoint .
Boa parte da discussão em torno de The Surge é sobre o combate do jogo lembra muito Dark Souls, mas em um universo futurista em que as pessoas se misturam com peças robóticas para fazer melhorias no corpo. Porém, o que realmente me impressionou foi a abertura do jogo, quando você descobre que o protagonista, Warren, é cadeirante. A sua mobilidade muda quando ele está controlando um mecha, claro, mas por alguns instantes, o jogador assume a sua perspectiva numa cadeira de rodas. Não é uma experiência comum nos games.
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“Nunca quisemos debater se as pessoas com deficiência são ‘especiais’”, disse Jan Klose, diretor do estúdio Deck 13. “A ideia desde o começo era definir apenas que Warren era uma pessoa que não podia andar com as pernas. Mesmo a causa da sua deficiência não é relevante à história (apesar de que definitivamente é relevante pro Warren!). Pra gente, era mais importante mostrar como o Exo Rig (o mecha do jogo) pode mudar a vida de alguém.”
The Surge nunca explica o que aconteceu com o Warren. Ele nasceu assim? Foi um acidente? Você não sabe, e como disse o desenvolvedor, também não importa. O que é mais importante é como a criação dessa roupas mudou a história da humanidade.
“Na verdade, ninguém no jogo menciona a deficiência do Warren”, disse Klose, “em parte por que a gente presume que, no mundo de The Surge, deficientes físicos sejam comuns, e os Exo Rigs automáticos fazem com que a condição física dessas pessoas não importe na hora do trabalho.”
A deficiência de Warren é parte da vida dele, mas não é tudo – sabe, que nem a vida real. Rola uma tensão no ar toda vez que se discute temas sexuais, ou de gênero, ou de representação racial nos games. É comum que um elemento da identidade de alguém se torne parte da jornada daquele personagem – como rola em Gone Home, por exemplo – mas não precisa ser sempre assim. Uma parte não representa o todo.
Apesar de ser fácil imaginar o passado de Warren sendo revelado em um diálogo ou numa cutscene, a narrativa é ainda mais poderosa porque o jogador controla o personagem.
“A gente acha que é sempre melhor passar pela experiência do que simplesmente contar a história”, ele disse.
Atenção: tem spoiler de The Surge nos próximos parágrafos.
No final, uma explosão de energia destrói o mecha dele. Na última cena, ele está rastejando para chegar na cadeira de rodas, antes de acabar a cena.
“Como você se sente ao voltar à sua vida antiga, uma vida com menos possibilidades?”, disse Klose. “Isso não se limita só a uma cadeira de rodas. Pensei no seu dia-a-dia. Quando tirarem a tecnologia de nós, o que vamos fazer? E seria algo bom ou algo ruim? Se algumas pessoas pensarem, talvez nós tenhamos chegado em algum lugar.”