Por dentro do pior campo de refugiados da Grécia

Matéria originalmente publicada na VICE US.

Em Janina, um cidade-universitária na região de Epiro, noroeste da Grécia, as lojas fechadas que pontilham as ruas são uma evidência da inegável crise econômica no país. Mas o centro da cidade de menos de 100 mil habitantes – situada perto de um grande lago e com vista para montanhas nevadas – é um lugar agitado, cheio de restaurantes e bares badalados.

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Dirija 8 quilômetros para o sul da cidade e você chega ao campo de refugiados Katsikas. Estabelecido em março de 2015 no que era uma antiga base militar, o campo de refugiados estava cheia de pessoas que cruzaram o mar da Turquia para as ilhas gregas, os últimos a chegar antes que um tratado entre União Europeia e Turquia efetivamente barrasse a rota para o continente. Com as fronteiras se fechando na Europa, a Grécia se tornou uma área de abrigo para cerca de 60 mil pessoas que agora estão presas num limbo, esperando que seus pedidos de asilo sejam processados através de um programa de relocação da União Europeia que é desesperadoramente lento.

Com a emergência inicial terminada, e com o Brexit e Trump no comando dos EUA nos holofotes da mídia, a situação na Grécia parece ter se afastado da consciência das pessoas.

“No final de 2015 era inacreditável quanto apoio recebíamos”, diz Mimi Hapig, voluntária no acampamento trabalhando para a organização humanitária alemã Soup and Socks. “O tópico das pessoas chegando à Europa procurando asilo estava em toda parte. Mas manter o interesse e a conscientização é um grande desafio.”

As temperaturas no acampamento caem abaixo de zero durante a noite.

“Entre abril e julho, tínhamos muitos voluntários chegando à área – cerca de 100 por mês – e havia muitas doações chegando também”, diz Stephanie Martinez, outra voluntária que montou uma escola aqui. “Mas em outubro [de 2016], as eleições nos EUA se tornaram o principal foco do mundo e quase não há mais cobertura da situação dos refugiados, e os voluntários foram minguando.”

Isso aconteceu bem quando as condições climáticas tornaram a vida no campo de refugiados ainda mais difícil. Agora o inverno já se estabeleceu e as temperaturas estão caindo abaixo de zero à noite.

O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras chamou o país de um “armazém de almas perdidas”. É uma frase poderosa, mas não completamente verdade. Como Yannis Anagnostou, um psicólogo que trabalha para a Médicos do Mundo, me disse quando falei com ele numa das barracas da instalação médica no Campo Katsikas: “Eles são sobreviventes. Essas pessoas são fortes. Elas têm muito mais habilidade de lidar com problemas que eu. Tenho visto pessoas que são muito mais fortes que eu”. Enquanto o nível de sofrimento humano é profundo, é possível encontrar força, resistência, humor e graça aqui.

Nessa região montanhosa do país, uma atmosfera de exaustão e incerteza permanente reina para refugiados e voluntários. Rumores e desinformação estão por toda parte, enquanto a vida é improvisada da melhor maneira possível.

As pessoas aqui têm pouquíssima informação sobre para onde podem ir, e quando.

Mas os próprios gregos sabem como é isso. Spiros Kapsalis, um taxista local que me levou até o acampamento, tem um cartão de visitas com a imagem de uma Mercedes. Hoje, ele me diz, também dirige ônibus para sustentar a família. Ele entende a situação das pessoas obrigadas a morar aqui, a impotência, a angústia de não conseguir dar o que os filhos precisam, “Eles precisam viver, eles precisam encontrar trabalho, precisam de uma vida em paz”, ele gesticula pelo retrovisor. “É lógico.” Essa parece ser a atitude predominante dos moradores nessa região da Grécia, onde o partido de extrema-direita Aurora Dourada tem pouca ou nenhuma presença.

Apesar dos esforços de muitas pessoas que trabalham aqui – o exército grego, a agência de refugiados da ONU, a Organização Internacional de Imigração e muitas ONGs menores – Katsikas mal consegue fornecer o padrão mínimo de dignidade humana para os milhares de refugiados que passaram por aqui nos últimos nove meses. Quando as pessoas chegam de ônibus de Atenas, depois de jornadas terríveis por terra e mar, elas encontram barracas básicas do exército sem aquecimento e ganham um cobertor. Os dias se tornam semanas, as semanas se tornam meses, com pouca informação quando se trata de quando e para onde elas podem ir. As barracas do exército são frias à noite e sufocantes durante o dia; quando chove elas inundam. A comida fornecida em embalagens plásticas pelos empreiteiros do exército é péssima. O chão é coberto por grandes pedras irregulares que tornam qualquer caminhada dolorosa.

Os campos de refugiados da Grécia são como o metrô de Londres: você encontra pessoas de todos os caminhos da vida. Operários, poetas, balconistas, engenheiros, estudantes, pedreiros. Numa ironia sombria, me disseram que na metade de 2015 um ex-ministro do turismo sírio acabou aqui. Há pessoas legais e algumas nem tanto.

E como nos vagões do metrô, todo mundo está espremido como numa lata de sardinha. Sem autoridade interna, estruturas de poder não-oficiais se desenvolveram. Tensões e divisões já levaram à violência por questões éticas e nacionalidade. Há sírios, afegãos e yazidis aqui. No verão passado, a população yazidi de cerca de 450 pessoas – expulsas de suas terras no norte do Iraque pelo ISIS – foi mudada para um local do outro lado de Janina, citando comportamento ameaçador de elementos da comunidade síria. Em abril e agosto, explodiram protestos sobre as condições no acampamento e a falta de informação sobre a situação dos residentes.

Javid e sua família, do Afeganistão, continuam morando numa barraca depois de nove meses.

O acampamento que estou visitando estava silencioso e sendo lentamente esvaziado nos últimos meses. A maioria dos moradores agora está em ISO Boxes – contêineres convertidos – e ônibus passam regularmente levando mais pessoas para hotéis baratos alugados pela UNHCR. Muitos já têm entrevistas marcadas para decidir para qual país eles serão relocados.

Entre os que ficaram está a comunidade afegã, que depois de nove meses ainda vive em barracas. Num frio congelante. Diferente dos sírios, os afegãos não são elegíveis para o programa de relocação de emergência adotado pela UE ano passado, então seu futuro é ainda mais incerto. Falei com Javid, cuja família fugiu da guerra no Afeganistão e foi para o Irã; lá, as autoridades o tiraram de seu emprego numa farmácia e ele foi proibido de arranjar qualquer outro trabalho. Ele está desnorteado e aborrecido, desgastado por promessas não cumpridas. “Por quê? Por quê?”, ele pergunta, voltando sempre ao mesmo ponto. A UNHCR tinha prometido a ele um contêiner. Depois disse que eles iriam para um hotel. Depois era outro contêiner, mas sem eletricidade. “Eles ajudam o povo sírio mas não ajudam os afegãos. Todas as organizações. Não sei por quê. São 15 anos de guerra no Afeganistão. Por que eles não ajudam o povo afegão?”

Nos arredores de Janina, num acampamento improvisado num morro com vista para um posto de gasolina, os yazidis do norte do Iraque estão sendo mandados para hotéis do UNHCR (a agência de refugiados da ONU) em Atenas e Salonica. A tensão no rosto do poderoso líder da comunidade, Ibo, é evidente enquanto ele puxa um cigarro, sua outra não rolando contas de oração entre o dedão e o indicador. Os yazidis, com sua comunidade incrivelmente unida forjada através da diferença de sua religião e práticas culturais da maioria da sociedade iraquiana, estão desesperados para ficarem juntos. Atualmente eles estão espalhados por vários acampamentos pela Grécia. Ibo diz que a ONU garantiu que eles serão reunidos, e me pergunta se acredito neles. Não sei e pergunto o que ele acha. Ele balança a cabeça. Ele já ouviu muitas dessas promessas vazias.

O líder da comunidade yazidi Ibo (direita) no acampamento em Fanoremeni, nos arredores de Janina.

Ao lado dele, um jovem de jaqueta de couro segura um celular com um vídeo do YouTube rodando. É uma reportagem da BBC News sobre a fuga da montanha Sinjar em agosto de 2014, quando o ISIS expulsou os yazidis de suas terras ancestrais, massacrou milhares deles e sequestrou mulheres e meninas para serem estupradas e vendidas como escravas sexuais. Eles queriam que eu assistisse o vídeo para entender. O vídeo passa na pequena tela enquanto ficamos em silêncio. Uma idosa atrás de mim começa a chorar.

Visito uma reunião de coordenação semanal de todas as organizações envolvidas no acampamento, que acontece num dos hangares da instalação militar. O cadavérico ex-prefeito de Janina, Philippos Filios, que supervisiona o acampamento, está sentado enrolado num casaco, fumando um cigarro atrás do outro metodicamente, ao lado de Georgios Kontakis, um ex-oficial do exército robusto e bem-intencionado que gerencia o local. Eles passam pelas questões da semana. Ratos no acampamento. Os holofotes não estão sendo desligados pela manhã. Encanamento congelado. “Tudo isso custa dinheiro”, diz Kontakis, pesaroso. Há uma questão de vacinação contra gripe e hepatite, que é sempre adiada. O ex-prefeito diz que as vacinas estão em falta nas farmácias gregas. “O inverno vai terminar e a vacinação de gripe não vai ter acontecido”, reflete Kontakis. Não sei dizer se isso é resignação com as moiras do destino ou um alerta.

Um dos resultados da falta de vacinação é que isso impede o acesso ao sistema educacional grego, a que os refugiados têm direito sob a lei grega e algo prometido há meses. As vacinas são a requisição mínima para que os estudantes possam frequentar a escola. Aparentemente depois de dar sinais positivos na semana anterior, a mulher do Ministério da Educação que veio à reunião só consegue dar de ombros embaraçada quando perguntam quando o acesso ao sistema educacional vai começar.

Vendo como os modelos humanitários tradicionais fazem pouco mais que manter as pessoas vivas aqui, são organizações independentes que conseguem inovar para tornar a vida temporariamente melhor para as pessoas presas aqui. Elas não podem ser responsabilizadas por nada, claro, mas estão livres das amarras burocráticas que restringem organizações maiores.

Mimi Hapig, uma voluntária da organização humanitária Soup and Socks.

A organização Soup and Socks, que comandou uma cozinha comunitária aqui no meio do ano, agora ocupa um showroom de móveis vago em frente ao acampamento, que foi transformado num espaço para oficinas de carpintaria e trabalhos com metais.

“Notamos que durante nosso tempo no acampamento, as pessoas sempre nos procuravam pedindo ferramentas”, me diz Mimi Hapig, uma das voluntárias da organização. A atmosfera vibrante é muito diferente da desolação do acampamento do outro lado da estrada. Há um burburinho de atividade útil.

“Sabemos que as pessoas querem ir para os países onde têm familiares, ou onde imaginam um futuro para si”, diz Mimi. “Mas não podemos abrir as fronteiras. Simplesmente não podemos. O que podemos fazer é tentar garantir que pelo tempo que elas tiverem que ficar aqui, elas desenvolvam novas habilidades e saíam empoderadas; que o tempo que elas passarem aqui não seja completamente perdido.”

Uma oficina de fabricação de velas na Habibi Works.

Numa rua suburbana calma no outro lado de Janina, não muito longe do acampamento yazidi, Stephanie Martinez, outra “formada” da cozinha comunitária de verão da Soup and Socks em Katsikas, começou uma escola chamada Habibi Centre. Em funcionamento desde agosto de 2016, ela e uma pequena equipe dão aulas de inglês, matemática, geografia e qualquer especialidade que algum voluntário possa ter. Cerca de 60 crianças refugiadas de até 15 anos frequentam uma série de lojas alugadas que eles modificaram. Pergunto a ela como eles conseguem funcionar num ambiente onde ninguém sabe ao certo o que vai acontecer no dia seguinte.

“Parte da nossa visão ou filosofia nisso tudo é ser a coisa mais constante disponível para essas crianças. Muitas ONGs têm voluntários novos chegando a cada duas semanas, ou uma ONG chega e monta alguma coisa, aí vai embora um mês depois. Então isso foi algo que decidimos: sermos constantes. Só fechamos por um dia até hoje.”

Stephanie Martinez, que começou uma escola para crianças chamada Habibi Centre.

Sentada em frente a parede recém-pintada coberta de desenhos das crianças, ela me conta como eles começaram suas atividades em agosto. “Não pedi permissão de ninguém. UNHCR, UNICEF, Oxfam. Isso me rendeu alguns probleminhas”, ela diz. “Se peço permissão fico restringida no jeito como fazemos as coisas, ou quem pode entrar e quem não pode. Mas montamos algo disponível para todo mundo – os gregos também podem participar, é grátis, tudo aberto, e eles podem vir.”

Os dois projetos são financiados apenas por doações, muitas delas vindas de familiares e amigos, e os voluntários só podem chegar aqui com dinheiro do próprio bolso, largando empregos e dando uma pausa na carreira. O desejo de ser totalmente independente é uma determinação de não aceitar as exigências de separação de nacionalidade ou religião, que geralmente são feitas por diferentes grupos de refugiados. “Queremos estruturar algo como faríamos na Alemanha, por exemplo, onde as crianças não seriam separadas em escolas especiais.” Isso tem sido uma luta, ela diz, mas com tempo e teimosia, a maioria dos críticos das organizações estabelecidas aqui acabaram aceitando a ideia.

O principal problema que as organizações maiores têm com as independentes é a falta de apresentação de antecedentes para a equipe, seu jeito um tanto radical de lidar com as organizações maiores, e sua falta de cerimônia geral para com os protocolos humanitários convencionais. Mas o fato é que dentro dessa situação caótica e altamente imperfeita, sem o empreendedorismo deles essas crianças não estariam recebendo educação, e teriam pouca estrutura em suas vidas nos últimos cinco meses. Provisões nessa escala não viriam de nenhum outro lugar.

Mas tudo tem um custo. O influxo de voluntários no verão trouxe alguns personagens suspeitos. Ouvi histórias de relacionamentos sexuais entre voluntários e refugiados, uma “barraca do sexo” organizada para adolescentes, e um voluntário contrabandeando uma família refugiada para a Espanha. Há várias questões morais aqui: no contexto da ajuda humanitária, há uma igualdade de status entre universitários europeus de férias e alguém preso num campo de refugiado? O influxo também trouxe uma introdução desconfortável de atitudes ocidentais permissivas num cenário amplamente muçulmano.

Mas esse elemento parece ter se dissolvido enquanto o verão virava outono. Pelo que vi, as pessoas que continuaram aqui são muito comprometidas, e sua energia e integridade estão fazendo uma grande diferença em muitas vidas, mesmo com cada vez menos apoio de outros voluntários.

Mas a questão maior de vulnerabilidade, proteção e atividades predatórias é real. Vários voluntários me disseram que já viram carros chegando a Katsikas à noite para pegar garotos. Meio quilômetro estrada abaixo há um bordel chamado “Studio 69”, na direção de onde garotas do acampamento partem na garupa de mobiletes. No acampamento Doliana perto da fronteira com a Albânia, de onde todas as organizações maiores saíram por preocupações com segurança, me sugeriram que abuso sexual infantil pode estar acontecendo.

Campos de refugiados, com sua concentração de pessoas impotentes e traumatizadas, são ainda mais suscetíveis a abusos que ocorrem em vilarejos, cidades e metrópoles de todo o mundo.

A Lighthouse Relief é uma ONG sueca que tenta tornar esses acampamentos lugares mais seguros. Morgan Tipping, do sudoeste de Londres, é a gerente do Female Friendly Space em Katsikas, uma área fechada para mulheres e adolescentes que oferece um ambiente privado e seguro longe das dificuldades da vida no acampamento. Lá eles organizam aulas de ioga, ginástica, pintura, fabricação de bijuterias e oficinas de costura. Morgan também sente que é vital desenvolver uma conexão com a comunidade local, e organizou uma exposição em Janina para um pintor curdo, Toni, que vem produzindo dezenas de pinturas no acampamento. “Na minha cabeça, o objetivo agora é apoiar e permitir uma integração completa deles na vida europeia”, ela diz.

Ela está ajudando com outra exposição organizada por um engenheiro eletricista sírio chamado Firas, que vai mostrar os talentos artísticos e de artesanato de várias pessoas do acampamento numa galeria na cidade. Firas me encoraja a conhecer Abdullah, professor e poeta de Alepo que mora com a esposa e três filhos. Ele conseguiu escrever um romance sobre a vida em Katsikas chamado Vizinhos das Vacas. Quando nos encontramos, ele me mostra o manuscrito: 200 páginas de escrita árabe organizada em folhas A4. Parece um milagre de criação nessas circunstâncias. Quase tão milagroso quando a esposa de Firas, Hala, que deu à luz a uma bebezinha.

O engenheiro eletricista Firas, sua esposa Hala e a filha recém-nascida, Marie.

Alguns refugiados receberam acomodações em hotéis, que oferecem um pouco mais de segurança e aquecimento, mesmo que não haja muito o que fazer neles. No saguão de um hotel dilapidado ocupado pela ONU no centro de Janina, o ar se enche de gritos de crianças enquanto elas correm pelos corredores mal iluminados, sendo repreendidas pelas mães. Mahmood, 17 anos, um garoto social e de fala rápida de Alepo, sorri e aponta uma nova frase que ele gostou em seu livro de exercícios em inglês: “Correr desembestado”.

Ele, a mãe e quatro irmãos menores estavam numa barraca em Katsikas há oito meses. Essa maratona de resistência foi apenas o clímax de uma tentativa longa e árdua para chegar a Grécia. Deixando o pai, um ex-recepcionista de hotel, em Alepo, eles fizeram duas tentativas fracassadas de cruzar a fronteira entre Síria e Turquia à noite.

O esguio Mahmood carregou a irmã mais nova nas costas pelas montanhas, sempre com medo de perder o contrabandista armado que marchava na frente deles. Duas vezes eles foram descobertos pelo exército turco e tiveram que voltar para a Síria. Na terceira vez eles conseguiram cruzar a fronteira e finalmente chegar a Turquia – sobrevivendo a uma inspeção policial em seu ônibus (graças ao suborno dado pelo motorista), uma semana escondidos numa casa de segurança e uma jornada num caminhão lotado de refugiados que quase sufocaram, até cruzar o mar para Quios num bote inflável com um motor que vivia falhando.

Abdullah, professor e poeta de Alepo.

Foi uma provação assustadora, mas Mahmood está de bom humor e aproveitando seu tempo o melhor possível. Se estivesse na Síria, ele estaria lutando na guerra, ele diz. Ele me passa um retrato animado dos horrores que isso envolveria. Aqui ele está aprendendo inglês, grego e alemão em aulas oferecidas pela faculdade local. Ele me conta orgulhoso que mal sabia inglês quando chegou ao acampamento e, enquanto conversamos, ele anota todas as palavras desconhecidas em seu caderno de exercícios.

A 40 minutos de carro ao sul de Janina está o acampamento de Filipiada, que – como o Katsikas – tem visto uma queda no número de ocupantes desde o começo da política de colocar refugiados em hotéis. Mas é notável que o lugar esteja coberto de trincheiras recém-abertas – só agora eles estão colocando os cabos para fornecer aquecimento e luz para os 200 e poucos residentes aqui desde março. Em seu contêiner de metal sem aquecimento, tendo como móveis apenas cobertores, conheço Massomah de Baghlan, uma província no norte do Afeganistão que viu insurgentes talibãs fazerem incursões em 2016 na guerra interminável no país. Como muitas mulheres que conheci, o marido dela está na Alemanha.

Uma afegã no campo de refugiados.

“Estou sozinha aqui com minhas três filhas e tenho medo, vou me sentir assim até estarmos assentadas”, ela diz. “Enquanto elas estiverem numa barraca ou contêiner, não me sinto segura.”

“Minha esperança para o futuro é unir minha família de novo, filhos e pais, ter uma família de verdade em uma casa, em um só lugar. Ter uma vida pacífica, ter a mente em paz – que minhas filhas saiam de manhã e voltem à noite, se Deus quiser.

“Eu não sentia isso no Afeganistão; eu sabia que elas podiam não voltar. Mesmo quando eu ia ao mercado, eu não sabia se conseguiria voltar com vida.”

Enquanto cruzamos a trilha de pedras do acampamento, o sol mergulha entre as montanhas e a temperatura cai. Ela suspira e brinca com a filha adolescente, Anakita, e um jovem voluntário, Leoni. Todos riem na meia-luz. “As mulheres são mais fortes que os homens”, ela diz. “As mulheres são mais fortes que os homens…”

As luzes do acampamento Katsikas.

Relocação e reunião de famílias podem acontecer . Infelizmente, muitas dessas pessoas corajosas ainda precisam de toda força que puderem reunir. E provavelmente muitas mais vão se juntar a elas. O acampamento deve continuar. Os centros de detenção nas ilhas estão quase na capacidade máxima. A Comissão Europeia anunciou que, a partir de março, os países da UE poderão devolver requerentes de asilo a Grécia se esse foi o país por onde eles entraram. O acordo entre União Europeia e Turquia balança, e o presidente Erdogan ameaça baixar a ponte levadiça de refugiados na Europa mais uma vez. Vários rumores pairam sobre Katsikas.

Pouca gente sabe para onde vai agora, e ninguém sabe onde isso tudo vai dar.

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