A gente costuma receber um monte de livros sobre grafite. Não tenho muita certeza do porquê — já que as pessoas ficam muito, muito putas com a gente toda vez que escrevemos sobre o assunto — mas, infelizmente, recebemos. A última oferta veio do pessoal do shriiimp.com: um livro chamado Holy Shriiimp, The Bible Vol. 1. Como você provavelmente deduziu pela imagem acima, trata-se de um livro com fotos de mulheres peladas grafitadas por artistas com nomes como G-kill e 2Blok. E ele tem 111 páginas.
Enquanto a maioria das pessoas acharia isso objetificante e misógino, minha reação inicial ao Holy Shriiimp, The Bible Vol. 1 foi pensar que ele foi um desperdício gigante de grana e tempo para todos os envolvidos. E isso inclui o comprador — o livro custa quase R$50 (fora envio), mas o site do Shriiimp tem um arquivo gratuito enorme de fotos do tipo.
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Por falar no site, o comunicado de imprensa do livro afirma que o site tem mais de um milhão de visualizações por mês e que o “movimento Shriiimp™” é tão conhecido que a palavra “shriiimped” “passou para a linguagem comum do público do mundos [sic]”. Como prova, eles afirmam que alguém diz: “I shriiimped tha girl” no episódio dois da temporada cinco de CSI NY. O que, vamos concordar, é basicamente a mesma coisa que entrar no Dicionário Oxford.
Vamos dar uma olhada no livro que prova que o mundo precisa de um termo padronizado para descrever o ato de pintar os peitos de uma mina com tinta spray.
A capa é um par de peitos coberto de tinta, o que representa perfeitamente o conteúdo da publicação. Não é um livro que vai oferecer muitas reviravoltas ao leitor. É literalmente só um monte de fotos de peitos de mulheres que ficam parecendo bolos ou paredes.
Muitas das coisas do livro nem são grafites bons. Esses dois, por exemplo, são bem toscos. Na verdade, o da direita nem é um grafite, é um decalque que você ganha quando assina a revista Metal Hammer.
Esse aqui parece a fonte grafite que vinha no WordArt. De qualquer forma, é uma imagem com a profundidade artística daquele clipe do Limp Bizkit lançado no começo do ano, aquele que tem o Fred Durst fazendo rap e cocô ao mesmo tempo. Também não dá para não perceber o quanto isso talvez seja o cenário “urbano” mais desesperadamente autoconsciente que já vi na vida, e olhe que nem envolve o uso de duas boinas.
Para ser justo com o “Vince Prawns”, o cara que montou o livro, é um puta feito fazer mais de 100 páginas com, essencialmente, a mesma imagem. Mas o problema de publicar um livro baseado inteiramente na premissa de pintar mulheres peladas, é que você vai acabar ficando sem ideias de como enquadrar as fotos de um jeito diferente.
Isso fica evidente lá pelo final, quando eles começar a adicionar uns acessórios bizarros como cobras e máscaras de gorila. Na última página, a modelo está bebendo um copo de leite. As garotas na página 76 estão usando alto-falantes na cabeça em meio a uns toca-discos. Eles até fizeram um pequeno blackface na página 68. Eu sei que a Beyoncé fez um blackface um tempo atrás, mas todo mundo criticou e ela é a Beyoncé. Se nem ela consegue fazer isso funcionar, o Shriiimp não devia nem tentar. Fico imaginando se eles mandaram uma cópia para o The New Statesman ou para o Vagenda, porque na página 39 tem a foto de uma mina com a cabeça enfiada numa máquina de lavar e “GKill” escrito na bunda. Se as pessoas certas vissem isso, esse livro poderia fazer o primeiro esquadrão da morte da quarta onda feminista chutar as portas do escritório do Shriiimp.
Parece que a modelo com quem o “Ches” fez isso tinha peitos bem legais, tanto se você sente atração por mulheres ou mesmo se apenas gosta de peitos. Mas isso prejudica um pouco o próprio design e é provavelmente por isso que as pessoas em geral fazem grafite em muros, caçambas ou trens, não em seres humanos.
Esse é o erro fundamental do Holy Shriiimp: é legal ver mulheres nuas e o grafite pode ocasionalmente ser algo agradável para a vista, mas não há razão funcional ou artística que ligue as duas coisas. Não é simplesmente possível combinar duas coisas e transformar isso num livro. Fotos de igrejas gaulesas do século XVII sobrepostas com citações inspiradoras do time de 1996 do Liverpool, por exemplo, não faz o menor sentido. Nem isso aqui.
Apesar de tudo, o livro provavelmente vai se tornar figurinha fácil nas prateleiras daquelas butiques escrotas de street art, e vai virar um presente de aniversário superpopular entre os papais da nova mídia, permitindo que o movimento Shriiimp prospere por meio de série policiais norte-americanas mal escritas. Fazer o quê?
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