Por que Igrejas Negras Continuam Queimando nos EUA?

Uma igreja do sul dos EUA incendiada em 2011. Foto via Wikimedia Commons.

Quando nove pessoas foram mortas numa igreja negra histórica em Charleston, Carolina do Sul, em 17 de junho, uma ferida que muitos norte-americanos preferiam acreditar que estava fechada sangrou de novo.

O atentado iniciou um diálogo nacional sobre a bandeira Confederada – um diálogo que ainda está se desenrolando enquanto legisladores e ativistas brigam sobre o significado do símbolo. Semana passada, os gigantes do varejo Walmart, Amazon, eBay e Sears pararam de vender a bandeira, e esta semana, Birmingham, Alabama, votou pela retirada de um memorial confederado de um parque local. Segunda passada, a governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, pediu aos legisladores para remover a bandeira Confederada do capitólio do estado, e o governador do Alabama tomou a decisão unilateral de retirar a bandeira também.

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Mas será que o atentado também estaria inspirando imitadores em outros atos de violência racial? Pelo menos seis igrejas predominantemente negras dos EUA pegaram fogo desde o tiroteio em Charleston, mas apesar das autoridades estarem considerando alguns como atos de incendiários, ainda não rotularam nenhum dos casos como crime de ódio.

Supremacistas brancos têm uma longa história de violência contra locais de culto afro-americanos e a tática terrorista continuou sendo usada nas últimas décadas. Frequentemente, ataques a igrejas negras vêm logo após vitórias em direitos civis, como a decisão da Suprema Corte no caso Brown versus Conselho de Educação em 1954. Horas depois da eleição de Barack Obama em 2008, três homens colocaram fogo numa igreja de Massachusetts em protesto.

Então quando a Igreja Adventista do Sétimo Dia College Hill pegou fogo em Knoxville, Tennessee, alguns dias depois do tiroteio em Charleston, surgiu logo a suspeita de que o incêndio estaria ligado ao clima racial tenso dos EUA. Mas as autoridades tentaram acalmar esses temores dizendo que não havia evidência de crime de ódio.

Está cada vez mais difícil acreditar que não há um elemento racial em jogo, dado os incêndios similares em outras igrejas. Dois dias depois do incêndio em Knoxville, outro similar aconteceu em Macon, Georgia. Novamente, o FBI disse que só porque estava investigando, não queria dizer que havia evidências de crime de ódio – pelo menos não ainda.

Um dia depois, mais dois incêndios foram registrados na Carolina do Norte e Tennessee, apesar de o último ter acontecido numa igreja predominantemente branca e provavelmente ter começado com um raio. Na sexta-feira passada, a Igreja Batista Glover Grove queimou na Carolina do Sul, e outra igreja pegou fogo em Tallahassee, Flórida. No sábado, uma igreja pegou fogo em Elyria, Ohio, mas informações iniciais das autoridades sugerem que o incêndio não foi intencional.

Finalmente, na noite de terça-feira, a mesma igreja de Greenville, Carolina do Sul, incendiada pela Ku Klux Klan 20 anos atrás pegou fogo. A igreja pertencia à mesma denominação – Metodista Episcopal Africana (MEA) – da igreja atacada por Dylann Roof em Charleston. Mas até agora, os federais não acharam indicação de que o incêndio na MEA Mount Zion foi criminoso, segundo a Associated Press.

Por que as autoridades parecem estar evitando a todo custo chamar esses incêndios que o FBI está investigando de crimes de ódio? Para o olho destreinado, pode parecer que há algum tipo de conspiração – ou ignorância proposital – mas especialistas em violência racial não têm tanta certeza.

“As coisas que [os investigadores] esperam encontrar são slogans ou palavrões – talvez símbolos – e aparentemente não encontraram nada do tipo”, disse Mark Potok, associado sênior do Southern Poverty Law Center. “Não é como se eles estivessem ignorando provas.”

Ele explicou que incêndios em igrejas são muito comuns, citando um relatório da Associação Nacional de Proteção Contra Incêndios que diz que 1.780 igrejas queimaram em média por ano entre 2007 e 2011. Uma força-tarefa do Departamento de Justiça federal descobriu que entre janeiro de 1995 e setembro de 1998, cerca de 670 igrejas pegaram fogo nos EUA – e apenas 24 casos tinham relação com crime de ódio.

Mas e o resto? Mau tempo pode explicar alguns casos, e enquanto os federais continuam a procurar por sinais de terrorismo racial, não podemos descarta o bom e velho mau comportamento adolescente.

“Casas de culto tendem a ficar em áreas rurais e lugares remotos”, disse Potok, se referindo ao grande volume de incêndios. “Adolescentes enchem a cara e começam o fogo. Esse tipo de coisa.”

“É muito improvável que isso seja uma conspiração”, ele acrescentou. “Há muito barulho nas redes sociais sobre isso, mas redes sociais não são uma investigação oficial.”

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Tradução: Marina Schnoor