Por que playlist de transa é uma merda

Espero que você nunca tenha passado por essa situação: você tá se pegando com a pessoa e, logo depois de colocar a mão no botão da calça dela, ela te afasta e fala um “peraí”. Você fica lá, sem blusa na cama, enquanto ela cata o celular e coloca um Kings of Leon pra tocar. Você tenta disfarçar o desconforto enquanto ela volta até você e cada música vai tornando a situação mais esquisita: pode ser que toque um Radiohead, ou um Queens of the Stone Age, ou até um Swans, se seu objeto de afeto for um chato-mór.

Na sua cabeça, fica aquele borrão: será que eu deveria acompanhar o ritmo da música? Será que a próxima música vai deixar tudo ainda mais constrangedor do que essa? Enquanto vocês dois se movimentam do jeito mais esquisito possível, fica aquela trilha sonora de fundo, colocando pressão pra coisa ser muito mais sexy, uma cena de filme, enquanto tudo o que você queria era só ter uma transinha normal. Fora que, se você conhece a música, fica um pouquinho mais difícil ignorar ela tocando e manter a concentração naquilo que você deveria estar fazendo.

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O lance é que, por mais que tenhamos criado toda uma cultura em volta da playlist de sexo, transar com trilha sonora é, na verdade, uma merda. Beleza, às vezes rola uma trilha sonora acidental, o som da TV ligada, seus roomates conversando no cômodo ao lado, a música tocando na sala da festa. Mas a meticulosamente preparada e curada playlist de sexo, na grande maioria das vezes, não faz diferença alguma ou só deixa tudo meio estranho e causa um desconforto imensurável para as duas (ou mais, vai saber) partes envolvidas.

Posso falar por mim mesma, que já passei por pelo menos algumas situações esquisitas por conta da famosa playlist. Uma foi culpa minha, que tinha colocado minha própria playlist pra tocar e perdi eu mesma a concentração no ato quando começou a tocar Death Grips (é, eu sei). Só pude soltar o sorriso constrangido e levantar pra pular a música. As outras vezes foram dois caras cujas trilhas de transa me deixaram absurdada: um cuja playlist contava com várias do Tame Impala e outro que gostava de dar uns pegas ao som de “I’m A Slave 4 U”, da Britney Spears. É sério.

O que nos leva a outro ponto negativo da playlist de sexo, que é artistas que fazem músicas especificamente para que elas sejam colocadas em playlists de sexo. Essa trilogia de singles do Baco Exu do Blues é meio isso: aquele som de sample suave, a batida lentinha, os vocais bem melódicos e a letra que é “buceta isso, língua aquilo, tapa na bunda”, sei lá mais o quê. O The Weeknd também é culpado disso, e umas bandinhas tipo The xx e Cigarettes After Sex (até o nome, meu deus) entram nessa onda também.

Convenhamos que a playlist de transa tem muito mais serventia quando você tá sozinho, triste e com tesão, do que transando de fato. Pra hora que você, voltando do trampo, senta no banco mais fundo do ônibus e fica pensando na paquera; pra quando você chega em casa do rolê bêbado e arrependido por não ter dado uma ideia no objeto de seu afeto (o momento ideal pra mandar “Teu Popô”, do Hodari, inclusive).

Sempre me lembro do vídeo acima, em que o Thom Yorke, durante uma entrevista, conta que achou o maior absurdo do mundo quando ouviu de uma mina que ela curtia transar ouvindo Radiohead (eu também acho, diga-se de passagem). Porque a playlist de transa, na real, é muito pessoal. Não dá pra ter certeza que a sua paquera vai pirar em transar ouvindo um Led Zeppelin com você, ou que ela vai querer dar uns beijos ao som de Rihanna. Até encontrar a sua total e absoluta alma gêmea no aspecto musical, no aspecto sexual e nos dois juntos, melhor deixar a playlist de lado.

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