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Porque é que temos (mesmo) de perpetuar Abril. Todos os dias

marcha 25 de abril

“Viva Salazar”. “‘Contra o fascismo’ ahahahahahahaha”. Ontem, 25 de Abril, 43 anos depois da Revolução que acabou com a ditadura de 41 anos em Portugal, foram estes alguns dos comentários com que “jovens” portugueses nos brindaram na caixa de comentários de um Facebook Live que fizemos a partir do Rossio, em Lisboa. “Trolls da Internet, não liguem”, dirão vocês. Pois, trolls da Internet, seguramente. Mas não ligar, não pode ser opção. Não podemos querer que seja opção.

É certo e sabido que, a cada 25 de Abril, há quem por aí saia à rua de gravata preta. Saudosistas de um tempo em que eram cúmplices de um Estado dito Novo, que capitalizava na miséria, na censura e na opressão. Que esses existam e o possam fazer, é sinal que o Portugal de Abril ganhou e está vivo. Que gente que nasceu em plena Democracia, com todas as suas falhas, lacunas e caminhos a percorrer, o faça 43 anos depois, é apenas assustador.

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É por isso que, descer a Avenida da Liberdade todos os anos (ou todas as avenidas da liberdade por esse país fora, que Portugal não é só Lisboa), continua a ser vital. Trollar na Internet é uma coisa, defender valores fascistas é outra completamente diferente. Não pode ser confundida. Não pode ser tomada de ânimo leve, nem desculpada com a ligeireza das redes sociais.

Numa altura em que por todo o Mundo, os tentáculos dos abusos ditatoriais (da direita, mas também da esquerda, não nos equivoquemos) ganham força para repetirem a pior História que a humanidade tem para recordar, olharmos para esta gente como simples idiotas da Internet, é darmos-lhes lenha para continuarem a alimentar a fogueira em que cozinham o seu ódio.

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Um dia antes, publicámos uma galeria de fotos dos festejos dos apoiantes de Marine Le Pen na noite das eleições em França. Intitulámo-lo “Fotos deprimentes da festa de Marine Le Pen no Norte de França”. É um ensaio fotográfico, parte de um projecto que pretende retratar as cidades francesas em que o apoio à frente Nacional é mais forte. O texto que o acompanha é assinado pelo fotógrafo e autor do projecto e explica o seu ponto de vista e as suas intenções. Na caixa de comentários do Facebook, recebemos comentários de um absurdo atroz. Comentários, mais uma vez, de jovens portugueses (também podem ser veteranos fascistas a passarem-se por jovens conservadores, sabe-se lá), que não podemos querer ignorar. “Porque é que sempre que se ouve falar em extrema-direita, há uma associação à perda de free speech e outras liberdades? o que é que a marine le pen disse exatamente para fazerem essa analogia?”. FODA-SE. A SÉRIO?

Temos de ignorar isto. Podemos ignorar isto? Temos de continuar a fazer Abril. Todos os dias e não naquela perspectiva do Natal. Todos os dias mesmo. Eles podem andar aí, mas nós também andamos, temos memória, mesmo que seja a memória dos nossos pais, dos nossos avós, dos nossos tios e temos de acreditar que somos mais, mais fortes e menos ignorantes. 25 DE ABRIL SEMPRE. Não nos envergonhemos de o dizer, alto, em CAPS, nas caixas de comentário desta vida. Pelo passado, mas principalmente pelo presente e pelo futuro das muitas dimensões de luta que Abril hoje incorpora.

Abaixo podes ver mais fotos da Marcha na Avenida da Liberdade, em Lisboa.


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