Em um dia ordinário de março, a fotógrafa Isabella Lanave tomou café da manhã tendo seu nome citado na revista TIME. Um texto especial para o mês da mulher apresentava 34 fotógrafas promissoras de diversas nacionalidades. As poucas e fortes palavras ali escritas a colocavam diante dos olhos do mundo. “O artigo falava para as pessoas me seguirem e eu pensando: ‘caramba, o que eu tenho para mostrar? Por que eu?’”, conta Isabella.
O destaque dado pela publicação deu ainda mais força às fotografias da jovem curitibana, que foram parar na edição anual de fotografia da VICE. Na revista, as fotos da Isa surgem ao lado das da fotógrafa da MAGNUM Alessandra Sanguinetti. A insegurança inicial logo se tornou felicidade e motivação. E as imagens que compõem o ensaio Fátima, no qual Isa fotografa sua mãe bipolar, nos levam numa imersão para dentro do universo mais íntimo da fotógrafa.
Videos by VICE
Fatima descobriu um transtorno bipolar depois do nascimento do seu segundo filho, e a imprevisível relação entre mãe e filha criou uma esporádica inversão de papéis. “Tudo isso começou com um impulso de tentar entender minha mãe. Um dia ela chora, no outro ela quer se matar, no outro tá tudo bem e no outro dia ela quer viajar. A fotografia me aproximou da minha mãe e da doença dela”, conta Isabella.
A arte da fotografia de Isabella — e sua beleza — parece atrelada à ideia de vencer o tempo, e eternizar uma fração de segundos. O tempo só é inimigo de quem fotografa, a captura do perfeito milésimo de segundo envolve anos de dedicação a um tema.
Ao perceber isso, Isabella passou a repensar seus métodos de trabalho, já que suas histórias estavam sendo documentadas na velocidade característica dos millennials. “No começo, eu ia para qualquer lugar que me chamavam, não rolava uma pesquisa prévia e se rolava era muito pouco, mas eu sempre tive a preocupação de trazer histórias pensadas, nem que sejam cinco fotos daquele mesmo tema”
Nascida em Curitiba, Isabella se mudou para Itajaí (SC) aos 13 anos, onde foi fotógrafa pela primeira vez. “Até o ensino médio, tinha total certeza de que estudaria Direito”, rememora.
Uma amiga que também morava no balneário comprou uma câmera profissional, uma D90 da Nikon. As descobertas e experimentações com a imagem duraram dois anos, período em que a diversão era fotografar as amigas nos lindos cenários da cidade e carregar a pesada câmera pra cima e pra baixo. De volta à capital para estudar, Isabella passou a morar com a avó. E nesse acaso começou a descoberta das fotografias de sua família.
Em Curitiba teve início também o contato com os mais diversos movimentos culturais e a escolha pelo curso de Jornalismo: “escolhi o Jornalismo na metade do cursinho, eu sempre tirava 10 nas redações do colégio e sentia que o Direito já não tinha mais nada haver comigo.”
Já na faculdade, a primeira aula de fotojornalismo virou o leme do barco mais uma vez. “O professor perguntou quem tinha interesse em fotografia, nessa época eu só tinha uma Sony digital, mas mesmo assim eu disse que adorava e que conhecia”, lembra ela. “Quando ele começou a falar e a mostrar imagens eu vi que não conhecia nada daquilo e que a fotografia é um mundo gigante.”
Isabella Lanave faz parte do YVY, mulheres da imagem, do R.U.A Foto Coletivo, do Flanares e colabora com a VICE Brasil.