​A polícia interditou o metrô Faria Lima para evitar que manifestantes interditassem o metrô Faria Lima

O quinto grande ato organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento da tarifa do transporte coletivo aconteceu ontem (27), no Largo da Batata, região oeste da cidade de São Paulo. O protesto conseguiu chegar até o fim de maneira pacífica, sem depredações, sem repressões, do jeito que o Passe Livre curte. Mas, na hora de ir embora, deu merda na estação Faria Lima do Metrô quando manifestantes tentaram bloquear as catracas sentando no chão.

Abaixo, você lê entrevistas com a rapaziada do ato e nosso relato sobre o trajeto e o final, onde vivemos uma experiência claustrofóbica e apavorante dentro da estação, com a polícia encurralando manifestantes e passageiros e jogando bombas de gás lacrimogêneo para todos os lados. Dessa vez, não foi só a molecada que passou mal. Policiais, funcionários do metrô, passageiros, repórteres, fotógrafos. Todo mundo respirou muito gás. Inclusive, uma moça que estava grávida teve que ser levada para o hospital.

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Mais um dia de protesto e lá estava a multidão – pronta para caminhar horas a fio cantando, bradando palavras de ordem e lutando contra o aumento da tarifa. No Largo da Batata, o clima era de tranquilidade quando a assembleia definiu o trajeto do dia: começar caminhando pela Avenida Faria Lima até chegar na Marginal Pinheiros e concluir o ato no Terminal Pinheiros de ônibus.

A PM falou em mil manifestantes presentes, enquanto o MPL estimou 10 mil pessoas.

VICE: Por que você tem vindo nos últimos atos do MPL?
Danilo Mandioca: Faço parte da Casa Mafalda, um espaço autônomo na cidade. Diferente de 2013, os atos desse ano têm como foco espalhar uma forma de organização horizontal, que todo mundo pode participar. Para além de derrubar o aumento, acho que está em vista derrubar a tarifa, mesmo que não seja para agora, esse ano, mas que a gente derrube a tarifa em 2016, 2017…

Se não barrar o aumento agora, o que deve ser feito?
O importante é que a luta está crescendo. Não está crescendo nos atos do centro, mas pela cidade, de várias formas diferentes, e cada um está tentando se organizar. Acho isso muito importante, talvez mais do que derrubar o preço do aumento.

Ainda na concentração, a Major Dulcinéia Lopes, responsável pelo efetivo da Polícia Militar, afirmou que caso o MPL avançasse pela Avenida Paulista ou pela Marginal, a polícia seria obrigada a intervir. No fim, rolou um acordo e um trecho da Marginal foi liberado.

VICE: Você é do coletivo Juntos. Por que que o Juntos continua na luta com o MPL, assim como em 2013?
Camila Souza: O aumento é abusivo, é um absurdo. As manifestações apontam a saída para diversas outras lutas. Nós queremos que a luta contra o aumento sirva de exemplo para a luta da água.

Muita gente fala que esse ano vai ser difícil barrar o aumento e que o MPL perdeu um pouco a força. O que você acha disso?
Não acho que o MPL perdeu a força, muito pelo contrário. O primeiro ato, no dia 9 de janeiro, aconteceu em pleno período de férias escolares e férias coletivas de vários trabalhadores. De lá pra cá, o volume das pessoas se manteve entre 10 mil, 5 mil pessoas. Sem contar também que há um bloqueio forte da mídia. Além disso, existe a confusão que o Haddad criou em relação à implementação do passe livre ou não no imaginário social. É uma confusão grande sobre o que significa esse passe livre, que na verdade é muito limitado em relação à necessidade do todo.

E a marcha foi bonita e pacífica. Sem tretas, sem pessoas sendo presas, sem animosidade entre anarcos e policiais. Tudo joia.

VICE: Por que você veio na manifestação hoje?
Gilson Fernandes: Trabalho na região. Saí do trabalho e resolvi participar. Vim porque acho que é um ato que vale, né? O governo explora muito o povo, acho que todo mundo tem que participar.

Você tem medo de vir para o ato?
Não tem que ter medo. Temos que superar e lutar por uma coisa melhor para os nossos filhos. Tô vendo a juventude aí e resolvi participar porque é algo bom pro povo, né? Pras próximas gerações que vem.

Por volta das 20h30, quando a manifestação chegou no Terminal Pinheiros e percebeu que a polícia escoltava o lugar, um novo destino foi estabelecido: o Largo da Batata, de novo.

E ali o ato acabou. Com a Fanfarra do M.A.L. fazendo seus sons malucos e a rapaziada do MPL dançando até o chão, curtindo, se abraçando, celebrando.

A VICE, obviamente, correu para o metrô Faria Lima, a estação mais próxima na região. Ali, uma molecada tirava onda, falava em pular a catraca pra ir embora, cantava, ria. De repente, todos sentaram suas bundas no chão e foi nesse momento que as coisas começaram a ficar tensas. A polícia foi entrando no metrô e se posicionando.

Uma voz falava ao microfone: “Por favor, desobstruam a passagem do metrô”. O pessoal dava risada e continuava sentado ali, próximo às catracas. Meio resistência, meio molecagem.

Os seguranças do metrô foram ficando putos. E a polícia também.

De repente, XABLAU.

Era cassetete, escudo, empurra-empurra.

Era bomba de gás lacrimogêneo.

Era passageiro do metrô indo ou voltando pro trampo apavorado com aquela situação.

Gente nova, gente de idade, cadeirante, manifestante, policial, repórter, fotógrafo. Mesmo quem estava com óculos de proteção e máscara antigás acabou passando mal. Bombas de gás lacrimogêneo explodindo dentro de uma estação de metrô, onde o fluxo de pessoas é contínuo, é uma péssima ideia.

No final do tumulto, ao lado de fora do metrô, a indignação dos passageiros se sobrepôs à ira de quem estava no protesto dentro da estação. Senhoras indignadas apontavam o dedo na cara de policiais, reclamando da truculência e do uso de armamento não-letal em quem nada tinha a ver com a situação.

Uma moça que disse estar grávida passou muito mal e foi socorrida pelo pessoal do GAPP (Grupo de Apoio ao Protesto Popular). Depois, os Bombeiros tiveram que encaminhá-la para o hospital. Segundo a equipe de socorro autônoma, quatro ou cinco pessoas ficaram feridas e mais de 20 pessoas tiveram seus olhos lavados para amenizar o incômodo do gás lacrimogêneo.

Até o fechamento dessa reportagem, a assessoria de imprensa da Polícia Militar não havia respondido o e-mail da VICE sobre números de pessoas detidas e depredações. No Twitter oficial, a polícia explica que “a PM empregou os meios necessários para restabelecer a ordem no interior da Estação Faria Lima”.

Tá pouco? Quinta-feira, dia 29, tem mais. O sexto grande ato do Passe Livre acontece no Vão do Masp, o espaço mais disputado da cidade – e que a polícia não costuma perdoar.

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