Este artigo foi originalmente publicado no JORNAL DE LEIRIA e a sua partilha resulta de uma parceria com a VICE Portugal.
O fenómeno deu a volta ao Mundo. Em todo o lado, os telejornais abriram com a vaga gigantesca que Hugo Vau surfou na quarta-feira, 17 de Janeiro, na Praia do Norte. Falou-se que a “Big Mama”, como ficou conhecida a onda, chegou aos 35 metros. Se se confirmar, o recorde do Guinness de McNamara será arrasado. O feito será memorável, mas há uma terra no mapa onde muitos locais não estão a achar grande piada ao que se está a passar. É precisamente na Nazaré, a vila onde tudo aconteceu, que há muitas pessoas insatisfeitas com o que se tem dito e principalmente escrito. Dizem, até, que se trata de “uma vergonha para a vila”.
Videos by VICE
E porquê? Porque não acreditam em D. Sebastião. O dia 17 de Janeiro foi de intenso nevoeiro e nas filmagens disponibilizadas só se constata o surfista no início da onda, ainda ela “não tinha mais do que 10 metros”. Depois, vê-se uma enorme massa de água, passível de bater o recorde de Garrett McNamara, o problema é que “Hugo Vau não se vê”. A própria página oficial da Praia do Norte no Facebook, dinamizada pela empresa municipal Nazaré Qualifica, mete alguma água na fervura. “Devido às condições climatéricas não é clara a posição do surfista na fotografia e ainda não existem medições oficiais da onda. O eventual recorde terá de ser homologado pela World Surf League e, posteriormente, pelo Guinness World Records.
Vê: “Surfar às cegas: um treinador muito especial“
”Nos últimos dias, as redes sociais foram invadidas com partilhas do vídeo e as mensagens de congratulação dedicadas ao surfista português têm sido mais do que muitas. “Orgulhoso de ti, Vau”, escreveu Jorge Leal, o autor das imagens e o spotter que indicou que aquela onda era imperdível.
“Vi, provavelmente, a maior onda surfada na Nazaré por Hugo Vau”, realçou. E acrescentou: “Condições difíceis, mas a perseverança desta equipa portuguesa incrível foi sem palavras. Ficámos, sentámo-nos e a ‘Big Mama’ chegou”. Também Garrett McNamara, o autor do actual recorde de 23,77 metros, deixou nas redes sociais palavras de apreço para o seu “irmão de outra mãe”. “É incrível que tenha montado este monstro. Se alguém merece esta bomba é o Hugo”, salientou.
O lobby está, pois, montado, só que para Hugo conseguir validar o recorde mundial terá de conseguir mais e melhores registos do evento, porque o que se vê nos existentes prova muito pouco. Assim sendo, já circula nas redes sociais um pedido para que fotógrafos que tenham imortalizado o momento disponibilizem as imagens captadas. Sem elas, dificilmente a World Surf League e o Guinness World of Records irão poder validar aquela onda como a maior de sempre.
Em declarações à SIC, Hugo Vau disse ser esta uma “história de persistência” e de “trabalho de equipa” em português, com Alex Botelho, Marcelo Luna e Jorge Leal. “Estivemos sozinhos cerca de três horas na praia do Norte devido às condições adversas”, mas que acabaram por proporcionar “a mítica ‘Big Mama’”, onda por que esperavam há cerca de sete anos. “São precisas condições muito específicas de maré, de tamanho de ondulação, para que a onda rebente naquele local”, explicou o português.”Fiquei com a noção do tamanho, pelo sítio onde rebentou e porque, na curva que fiz, fiquei de frente para ela. Depois, fui a direito, em vez de curvar e foi uma descida interminável…vim sempre a descer, até ao fim, completamente tapado pelo spray da rebentação e ainda levei com um bocado de espuma”, descreveu.
O tamanho, esse, é difícil de calcular, admitiu. “Infelizmente, ainda não há um método científico”, pelo que a medição é feita com base no tamanho do surfista relativamente à onda. “É muito grande e muitos surfistas que têm muitos anos de Praia do Norte já me disseram que foi a maior onda que alguma vez viram surfar” naquele local, contou. O surfista considera, contudo, que o tamanho pouco conta. “O que interessa é que a pessoa vá para a água, se divirta e saia de lá vivo”.
A semana passada teve, de resto, os dias com o melhor swell dos últimos anos na Praia do Norte. E se na quarta-feira, 17, Hugo Vau viu o seu brilho ser ofuscado pelo nevoeiro, na quinta-feira, 18, com milhares de curiosos pendurados por todo o promontório, Benjamin Sanchis, Sebastian Steudner e Ross Clarke-Jones surfaram ondas de respeito. “A sério, a quantidade de dinheiro que gastei com todos os voos valeu mais do que a pena por aquelas ondas”, disse este último, um australiano de 51 anos.
No domingo seguinte, 21, também a brasileira Maya Gabeira, quatro anos após ter sofrido naquela mesma Praia do Norte o acidente que lhe podia ter levado a vida, completou uma onda de esquerda estimada em cerca de 24 metros, pouco acima dos 23,77 estipulados como o recorde de McNamara. E já sonha com os prémios XXL. “Porque não medir e registar um recorde mundial de maior onda surfada por uma mulher, como têm os homens”, questionou, no Facebook.
Mas há mais quem acredite que tem direito a um passaporte para o livro de todos os mais loucos recordes. A maior onda, a maior onda surfada por uma mulher e agora a onda mais longa. O brasileiro Marcelo Luna garantiu ter estado em cima da “mais extensa onda” que já cavalgou: “Nem sei o tamanho, mas nunca fiquei tanto tempo surfando uma onda”. Segundo as primeiras estimativas, aguentou-se durante 38,2 segundos. A documentação está a ser submetida ao Guinness Book of Records para reclamar o recorde na categoria de onda surfada mais extensa.
Os candidatos ao reconhecimento não param de surgir e mais poderão aparecer enquanto for tempo de mais e mais ondas gigantes. E para quem irá o prémio? As apostas estão abertas.
Miguel Sampaio é jornalista do JORNAL DE LEIRIA.
Segue a VICE Portugal no Facebook, no Twitter e no Instagram.
Vê mais vídeos, documentários e reportagens em VICE VÍDEO.