Música

O Retorno dos Pioneiros Fora de Série do Noise-Rap, Dälek: “Bateu Saudade do Ruído”


Foto por Corey Williams

Antes de Def Jux, antes de Death Grips, antes de Yeezus, houve o Dälek. O MC/produtor Dälek (Will Brooks), o coprodutor Oktopus (Alap Momin) e seus colaboradores embeberam o hip-hop no ruído e na distorção em seu EP de estreia Negro, Nekro, Nekros, e o soltaram na cena DIY da Nova Jersey do fim dos anos 90. Dali, eles se conectaram à Ipecac Recordings, de Mike Patton, para lançar quatro LPs; confundiram ou converteram legiões de nerds barbados ao abrirem shows para o The Melvins e para o Tool; colaboraram com os pioneiros do krautrock do Faust; e inspiraram mil escritores de segunda categoria a classificá-los como o filhote musical nascido do casamento entre Public Enemy e My Bloody Valentine (cacete, mil e um, na verdade).

Para uma banda tão mergulhada no ruído e na linguagem bombástica, o Dälek terminou de forma discreta, sem nem mesmo uma declaração oficial. Brooks enfatiza que não houve nenhuma briga entre ele e Momin – tratava-se apenas de um projeto que havia chegado ao seu fim natural. Momin se mudou para Berlim e se dedicou a projetos eletrônicos, ao passo que Brooks fazia um rap um pouco mais tradicional, como iconAclass. Mas tocar ao vivo faixas clássicas do Dälek fez Brooks sentir o impulso de trazer o grupo de volta, e com a aprovação de Okto, ele reuniu uma nova formação, com o coprodutor Mikey Manteca (Destructo Swarmbots) e com o DJ rEk.

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O novo Dälek está fazendo a estreia do clipe da sombria nova faixa, “Masked Laughter (Nothing’s Left)”, bem aqui:

A gente colou no Brooks enquanto ele se preparava para uma turnê europeia (com um show no Brooklyn marcado antes disso, no Over the Eight, dia 11 de abril) para conversar sobre o fim e o ressurgimento do Dälek.

Noisey: Não lembro de haver um anúncio de que o Dälek estava acabando ou entrando em hiato. O que causou o fim da banda? Na época, você achava que ainda faria música como Dälek algum dia?
Will Brooks:
Nunca houve um anúncio oficial. Acho que, depois de 15 anos, a gente precisava dar um tempo, precisava se dedicar a outras coisas. Eu e Oktopus estávamos sempre viajando juntos, e essa coisa de fazer turnês extensas cobra o seu preço. Joshua Booth, que estava sempre conosco no estúdio e saiu em turnê conosco por um tempinho, já havia se retirado, para terminar o PhD dele. Nesse ponto, éramos só eu e o Okto, e acho que estávamos exaustos.

O último show “oficial” foi um show que voamos para fazer em Genebra, Suíça, em agosto de 2010. Depois da passagem de som, eu e Oktopus ficamos de bobeira do lado de fora da boate, falando merda e pondo os assuntos em dia, quando começamos a conversar sobre o futuro. Tínhamos acabado de fazer uma turnê abrindo pro Tool no Canadá e nos EUA, na costa oeste. Eu tinha voltado para Jersey e começado a trabalhar na produção do que se tornaria o disco Deadverse Massive TakeOver. Okto havia mergulhado na cena bass de Berlim. Dava pra sentir que a gente estava adentrando por caminhos diferentes, e que era tempo de fazer outra coisa. Lembro dele dizer algo do tipo: “acho que esse show talvez seja o último pra mim”, e eu respondi algo do tipo: “sim, tô sacando, irmão”. Parar nos pareceu a coisa certa – respirar um pouco, e experimentar outras coisas. Mas o show daquela noite foi incrível.

Não fiquei pensando sobre se faria ou não mais músicas como Dälek, era só a hora certa de entrar em “hiato permanente”… embora tenha acabado não sendo tão permanente assim.

No que você trabalhou enquanto o Dälek esteve inativo?
Depois de passar aquele tempo todo na estrada, curti muito ficar no meu estúdio. Estava empolgado de trabalhar num material novo, em novos projetos. Okto e eu chegamos a fazer juntos a trilha sonora de um filme, Lilith, para o nosso irmão, o diretor Sridhar Reddy. Eu produzi e lancei o disco Deadverse Massive TakeOver junto com os MCs Gym Brown, Skalla, Dev-One, MoRikan, DLEMMA e Oddateee. Isso meio que deu origem a uma vontade de fazer alguma coisa mais nua, mais um boom-bap, o que levou ao projeto iconAclass. Acabei de finalizar um novo disco do iconAclass, Changing Culture With Revolvers.

Fiz vocais para o DeepStar & AKG no disco deles Universal Language, e para o grupo italiano Aucan. Remixes para muitas cabeças… Black Heart Procession, Palms, Zombi, e tem mais umas novas para ficar de olho esse ano também. Também comecei uma dupla de minimal noise/eletrônica/instrumental com o Mikey Manteca, chamada Fill Jackson Heights. Acho que me mantive ocupado.

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Por que você decidiu reviver o Dälek em 2015?
A resposta curta? Bateu saudade do ruído.

Comecei a tocar algumas músicas do Dälek na turnê europeia do iconAclass em 2013, e isso reacendeu o amor por aquele ruído, aquela música pesada. Tive uma boa conversa com o Oktopus sobre isso tudo em meados de 2014, e embora ele não estivesse com vontade de dar continuidade às coisas, ficou de boa com o fato de que eu queria pegar a estrada novamente como Dälek. A coisa meio que decolou a partir dali. Perguntei ao rEk se ele estaria interessado em reingressar como DJ. rEk foi o DJ original do Dälek; era ele lá labutando junto comigo, quando a gente dormia no chão da casa dos amigos, fazia shows em porões pra poder pagar a gasolina. Ele saiu na nossa primeira turnê europeia, abrindo para o The Lapse, em 1999. Nunca pôde vivenciar os “bons tempos” com o Dälek, quando passamos a ter luxos, como nossas próprias camas para dormir!

Com o DJ assegurado, contei ao ex-membro Mikey Manteca, com o qual eu havia começado o Fill Jackson Heights, os meus planos, e que havia pensado em chamar ele para voltar. Achei que ele não teria interesse, porque havia recentemente aberto uma cervejaria chamada Secret Engine. Eu estava errado, ainda bem. Agora, poucos meses depois, finalizamos algumas paradas novas e temos uma turnê de um mês pela União Europeia à nossa frente.

Vocês têm algumas músicas novas, mas podemos partir do pressuposto de que vão tocar músicas dos discos mais antigos na próxima turnê? Você tem alguma nova perspectiva sobre essas músicas mais antigas, tendo passado algum tempo longe delas?
Sim, a gente estreou uma parada nova bem ali em cima, “Masked Laughter (Nothing’s Left)”, que resume o lugar em que me encontro agora, e a direção que as novas músicas estão tomando. Estamos reaprendendo as músicas antigas, e tenho que dizer que estou pilhado. A dualidade de olhar para o passado e ao mesmo tempo seguir adiante é uma sensação muito louca. As músicas antigas compõem um período de 15 anos da minha vida. Amo aquelas músicas, as memórias ligadas à criação delas, o tempo passado na estrada tocando essas músicas. Poder tocá-las mais uma vez é uma sensação maravilhosa.

Você pode dizer alguma coisa sobre no que está trabalhando em conjunto com a trupe francesa vanguardista do metal Blut Aus Nord?
A gente está marcado para se encontrar num show do Dälek na França, então tudo está ainda nos estágios preliminares. Estou ansioso para ver o que podemos fazer juntos. Tipo, nem faço ideia do que você está falando!


Foto cortesia do Dälek

Anthony Bartkewicz está no Twitter – @BRTKWCZ

Tradução: Marcio Stockler