Disse o poeta que quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um sujeito genial. Para o time de jornalistas, fotógrafos e colaboradores da VICE, a fatia chamada 2015 foi frenética. Andamos quilômetros para acompanhar as diversas manifestações que rolaram, pegamos muita chuva, corremos de bombas de gás lacrimogêneo, enfrentamos sol, calor, colamos com índios da Amazônia, vimos de perto a tragédia em Mariana, curtimos um carnaval insano, acompanhamos as escolas sendo ocupadas em São Paulo (SP), passamos dias na Favela da Maré (RJ), cobrimos enterros de jovens mortos por policiais, trouxemos relatos incríveis de Cuba, enfim. É muita coisa pra resumir no que o jornalismo chama de “lide”. Por isso, armamos um compilado com as coisas mais loucas e intensas que fizemos em termos de fotografia durante 2015. Saca só:
“Casamento e Chuva no 7º Ato do MPL em SP“
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Começamos o ano pegando muita chuva e correndo de muitas bombas de gás lacrimogêneo na cobertura dos protestos do MPL (Movimento Passe Livre) – cujo intuito era barrar o aumento das tarifas de ônibus, trens e metrôs em SP. O que, por fim, acabou não acontecendo. Diferente do que vimos em 2013 durante as Jornadas de Junho.
Na sequência, o R.U.A Foto Coletivo curtiu o carnaval em São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Flagramos muita gente chapada, se pegando, trampando – e vários bumbuns de fora. Dizem por aí que o melhor do Brasil é o brasileiro.
Em abril, iniciamos a série “Maré Vermelha”, que mostrou a transição do Exército Brasileiro, abrindo espaço para a chegada da Polícia Militar na Favela da Maré, no Rio de Janeiro. Vimos de perto não só a convivência das crianças com homens fortemente armados à luz do dia como também a guerra pelo controle da comunidade. Nosso fotojornalista Felipe Larozza passou uma semana por ali para trazer relatos e histórias.
“O Enterro dos Dois Jovens do Morro do Dendê“
Falando em guerra, 2015 não foi nada suave. Maurício Fidalgo nos deu um relato pessoal sobre o horror de cobrir seu primeiro enterro, quando dois jovens foram mortos por um policial civil durante uma operação no Morro do Dendê, zona norte do Rio. “Ao chegar ao cemitério, entro com calma e todo o respeito – nunca se sabe qual a reação dos fotografados num momento tão delicado e íntimo”, escreveu.
Aluno problemático durante a adolescência, o também fotojornalista Drago (e seu inseparável chapéu) foi perfilado pela VICE, com direito a rolezinho na madrugada, cerveja e porção de amendoim. Terror dos professores no passado, ele abocanhou um Prêmio Esso com uma das fotos mais comentadas da Jornadas de Junho e, depois, conseguiu a disputada bolsa do Joop Swart Master Class, curso internacional de fotografia que todo ano reúne na Europa os 12 melhores jovens fotógrafos do mundo.
E foi o coletivo SelvaSP, do qual Drago também faz parte, que publicou na VICE um ensaio precioso para a série “É um Paraíso“, na qual mostramos o pior (ou melhor) lado de diversas cidades pelo mundo. Cachorros trepando, gente enfiando fogos de artifício no cu, drogas, peitinhos e outras loucuras podem ser vistos nas imagens que mostram uma terra da garoa muito doida.
Italiano, o fotógrafo Antonello Veneri rodou por todos os cantos de Salvador (Bahia) para encontrar pessoas e clicá-las como se fossem orixás.
“Quem Tem Medo dos Índios Ka’apor?“
Nossa equipe de São Paulo se locomoveu até a Amazônia para conhecer os índios Ka’apor e sacar como eles têm se organizado belicamente para combater os madeireiros que invadem suas terras. Dormimos, comemos e tomamos banho com os índios. Acompanhamos também a instalação de câmeras com infravermelho dentro da floresta para detectar a presença de intrusos. Foi louco.
Foto: Gabriel Uchida
O brasileiro Gabriel Uchida assinou a série “Até Cubanos”, uma das coisas mais legais que publicamos em 2015. Numa viagem para Cuba, ele clicou as oferendas do país, a comida de rua, conversou com gays anarquistas, se enfiou nas tabacarias clandestinas e trocou ideia com os grafiteiros de lá.
Entre barbas, beijos calorosos, glitter, peitos e Barbies, o jovem fotógrafo Matheus Sandes exibiu as belezas da cidade de Maceió (Alagoas) para a coluna “Ser Gay é Lindo”.
“Grávidas, Mães e Menores Infratoras“
Em São Paulo, adentramos uma unidade de menores infratoras que estavam grávidas ou eram mães recentes. Crimes, namorados, sonhos e fraldas viraram assunto entre as meninas e a repórter Débora Lopes. As imagens, que não podiam revelar o rosto das garotas nem dos bebês, foram feitas com câmeras analógicas.
“O Terceiro Ato ‘Fora Dilma’ em São Paulo“
As manifestações pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff tomaram o país. Obviamente, não pudemos deixar de retratar as famosas selfies com a Polícia Militar.
“O que as Crianças da Ditadura Acham dos Pedidos de Intervenção Militar“
Já o grupo de entusiastas a favor da volta dos militares nos inspirou a produzir uma outra pauta: entrevistar as crianças – hoje, adultos – que sofreram com a ditadura. O resultado são depoimentos assombrosos de tortura e traumas carregados pela vida.
Também nos dedicamos à cobertura do que recentemente chocou o país e acabou virando uma série de reportagens da VICE: o desastre em Mariana. Acompanhamos como o rompimento da barragem da Samarco destruiu a vida dos moradores de Bento Rodrigues e também do Rio Doce.
Desde as primeiras ocupações das escolas estaduais no Estado de São Paulo, nosso time de fotojornalistas ficou o tempo todo na cola da meninada para acompanhar não só as unidades ocupadas como também as manifestações de rua, que foram fortemente repreendidas pela PM. Nós também fizemos um documentário sobre o tema.
Veja um pouco mais do que falamos acima e outras fotos que publicamos na VICE em 2015.