Foto: Marina Gianetto/Divulgação
“Que porra é essa, Sant? É a minha vida e um beat em cima”. Um dos primeiros versos do EP O Que Separa os Homens dos Meninos resume bem o trabalho que o MC Sant colocou recentemente nas ruas. São cinco confissões rimadas, pegada autobiografia ao máximo, que colocam o nome desse carioca da Zona Norte em destaque entre a geração mais recente do rap feito no Brasil. É rap ladrão de brisa, daquele tipo que você não vai querer ouvir quando estiver só afim de ir numa balada chapar e não pensar em mais nada. Música de mensagem, como a rapa da #VVAR (selo responsável pelo lançamento) costuma dizer, feita com muito cuidado e talento rueiro.
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OQSHM ainda conta com arte cabulosa assinada por Marcio Bunys e participações dos conterrâneos Coé e Marechal – que chega pesado com uma rima que nos deixa ainda mais ansiosos por seu lendário disco, além de assinar a maioria dos instrumentais. O show de lançamento do EP rola nesta terça (28), na Batalha do Conhecimento (Rio de Janeiro), e já rendeu um minidoc e o clipe da faixa-título. No melhor estilo direto e reto, assim como faz ao microfone, Sant trocou uma ideia com o Noisey.
Noisey: Horta vertical, veganismo, espiritualidade… são temas inusitados que são encontrados em suas rimas, assim como questões sociais e muita autobiografia, que fazem parte do universo do rap desde sempre. Seria essa uma forma de alcançar uma evolução na mensagem sem perder a essência da parada?
Sant: Não que seja uma forma de alcance, mas acredito na busca. É a minha forma, com certeza. Não sei se é a melhor forma pra tu. A música me mostrou caminhos, coisa que pouca gente aqui no bairro conseguiu encontrar. Eu obtive novas perspectivas e isso refletiu no meu rap, automaticamente. O intuito sempre será o mesmo: cantar que não estamos sozinhos.
O rap cresceu muito e isso é positivo. Mas é inegável os efeitos colaterais disso como um certo esvaziamento nas mensagens passadas por alguns MCs e fatos como rappers abraçando campanha política reaça. Estar na contramão disso é algo intencional?
Isso é algo natural. Meu discernimento não depende nem influencia no de outrem, irmão, o problema é essencial. O rap ter “crescido” não foi a causa, a humanidade segue burra faz tempo.
Você mostra ter uma relação forte com sua área. O que o fato de crescer na Zona Norte do Rio de Janeiro influiu na sua vida?
Toda conjuntura. Já deu um rolé aqui? O minidoc retrata legal isso. É onde a mágica acontece. Falo de comunidade, muito mais perto de sentimento do que de geografia.
“Meta é ganhar o oceano e não se apaixonar em anzol”. Quais são os anzóis que você enxerga que estão prendendo os irmãos hoje?
Ideias. Dos outros, principalmente.
A grande maioria dos fãs de rap brasileiro espera há muitos anos pelo disco do Marechal. Você que está mais próximo, também tem essa ansiedade por esse trabalho? Será que esse disco sai mesmo?
Minha ansiedade é a mesma que a dele. Quando esse disco sai, não sei, mas sei que fica.
Com 20 anos de idade, como é lidar com a responsa de trabalhar com nomes como Carlos Dafé, Luiz Café e o próprio Marechal? O que você acha que faz esses caras depositarem essa confiança em você?
Busco ser digno dessa reciprocidade de energia a cada novo Sol. Se não for por isso, acho que ganhei no carisma mesmo! Eu só enxergo isso como oportunidade. Lembro da primeira vez que entrei no estúdio com o Luiz Café e Marechal na sala, ali ou você arrega ou arregaça. Entendi que nosso aprendizado é mútuo, que fui abençoado porque fui merecedor e vice-versa. Sei que posso confiar cegamente minha música a esses caras, eles são os mais apaixonados e doentes por isso que conheço. Nunca me senti menor ao lado deles, muito pelo contrário, até, eles só me fizeram crescer. Política, social, cultural e, por último (por incrível que pareça! Haha), musicalmente.
Porradão de Dois, Porradão de Cinco… e agora, qual a próxima porrada que está nos planos?
Tem muita coisa pra fazer. Meu plano é fazer o que amo sempre e eu amo as coisas que precisam ser feitas. Não quero me perder, então vou me ater no hoje. Porradão de Cinco O que Separa os Homens os Meninos (volume I) foi lançado e esta semana as cópias físicas estarão à venda no show de lançamento na Batalha do Conhecimento. As músicas desse disco serão trabalhadas durante o tempo necessário para conversarem com o máximo de iguais. Tem videoclipe, tem mais música, tem mais projeto, mas o agora é o que nós temos de mais importante.
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