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Se não salvarmos os pandas, não salvaremos mais nada

Bill McShea caiu na gargalhada quando repeti a pergunta que tenho feito há meses para biólogos, preservadores e funcionários de zoológicos:

“E o urso panda?”

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“Veja isso”, ele me respondeu enquanto apontava para fotos na parede de seu escritório no Instituto Smithsonian de Biologia e Conservação (sigla em inglês SCBI), em Front Royal, Virginia, nos Estados Unidos. “É fofo pra caralho”, falou, em direção a um retrato em que abraçava os ursos. “Você vê e pensa até se é real ou não. Será que existe uma coisinha assim de verdade?”

McShea, um biólogo pesquisador de bochechas rosadas e óculos, dedicou as duas últimas décadas ao estudo dos pandas. Além das leituras, fez peregrinações anuais à China a fim de estudar o habitat da espécie e, na medida do possível, colaborar com preservadores locais. Se pressionado, ele admite a fascinação profunda por criaturas pouco conhecidas que compartilham o ambiente com o panda – o urso negro asiático, o takin, o Elapholus cephalophus. McShea, porém, não hesita em identificar os motivos que transformam o panda num bicho atraente para todos. Basta, diz, olhar para uma foto, vídeo ou GIF com o a espécie para resolver o mistério.

Com suas orelhas redondinhas, seu pelo fofinho, seu corpo rechonchudo, sua barriga gordinha e seus olhos negros e inconfundíveis, não é difícil entender por que as pessoas ao redor do planeta ficam apaixonadas por pandas. Entretanto, há um grupo crescente de vozes divergentes que os odeiam e de forma bem ativa.

Bill McShea na SCBI em Front Royal, Virgínia. Crédito: Derek Mead/Motherboard.

A justificativa tem a ver com privilégio. Os opositores não aceitam muito bem que as características de uma criatura adorável tenham recebido tanta atenção e consciência de preservação e que tenham recebido tantos fundos e ofuscado o drama de outras espécies em perigo de extinção. O esforço para salvar pandas gigantes da extinção, reforçam, é caro, difícil e consome muito tempo. Do tipo que pessoas entendidas dizem ser impossível de conseguir. “Eles são vegetarianos!”, “Eles fodem mal!”, “Eles só têm um filhote por ano!” O panda é um “beco sem saída evolutivo”, argumentam. É uma espécie que deve ser deixada para trás enquanto concentramos nossos esforços em candidatos mais prováveis para a preservação.

Em seu âmago, o debate levanta várias questões para a teoria da preservação. Nunca conseguiremos preservar todas as espécies do colapso, então temos que decidir no que dedicar nosso tempo, atenção e dinheiro? Quais espécies se qualificam e quais devem deixadas para desaparecer na história?

É claro que, se seguirmos adiante com esse raciocínio prático, uma espécie que luta para procriar e definha no ambiente selvagem parece um candidato improvável para se preservar. Ainda mais se sua única qualificação é ser uma gracinha.

Entretanto, quando se parte para o estudo da realidade ecológica, os argumentos para não despender esforços na conservação de pandas não se sustentam. As vantagens de salvar uma espécie com a qual as pessoas se importam são muitas, incluindo as espécies que funcionam como um guarda-chuva para espécies menos dinâmicas e igualmente ameaçadas, como os takins – uma criatura amável e peluda, parecida com um boi, listada como vulnerável – que compartilham o espaço com os pandas.

Independentemente de amá-los ou odiá-los, quando você analisa o problema, uma coisa fica clara: se não salvarmos os pandas, não conseguiremos salvar mais nada.

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Antes de os humanos aparecerem, os pandas estavam bem de boa. Embora a espécie tenha sido sempre esquiva, o habitat pré-histórico do panda era vasto. Fósseis de pandas foram descobertos ao longo do sudeste da Ásia: na China, é claro, mas também no Mianmar, Vietnã, Laos e Tailândia. Mesmo enquanto a China se desenvolvia e sua população crescia, o habitat do panda gigante permaneceu abundante no século XIX, ocupando uma vasta faixa que cobria seis províncias. Porém, na década de 1950, o habitat e o número de pandas diminuíram significativamente por causa do crescimento populacional e aumento da exploração de madeira e da agricultura.

Crédito: Smithsonian Institution.

No início dos anos 1960, a China começou a prestar atenção à conservação dos pandas. O governo estabeleceu suas primeiras reservas para pandas, criminalizou a caça ao animal e criou seu primeiro filhote em cativeiro. Ao mesmo tempo, a China reacendeu a prática de presentear exemplares raros a outros países como sinal de diplomacia. O país começou a abraçar o animal de vez como símbolo nacional e priorizar sua preservação.

“O panda gigante só existe na China”, McShea me contou. “Os chineses não são muito diferentes de tantas outras culturas que valorizam aquilo que é unicamente seu. E os pandas gigantes são deles. É um grande símbolo nacional.”

Infelizmente, o habitat do panda de florestas de bambus frescas e montanhosas diminuiu muito – em 50% de 1973 a 1984 – por causa de desmatamento continuado e cultivo ao longo das duas décadas seguintes, ainda que o governo chinês tenha aberto mais reservas. Em 1984, a prática de presentear os pandas foi substituída pelo empréstimo de ursos a outros países para exibição em zoológicos por, no máximo, dez anos e com um custo anual bastante grande. Naquele mesmo ano, a União Internacional para Preservação da Natureza colocou o panda no Anexo I da lista, proibindo a circulação internacional de espécies por motivos comerciais. Em 2003, havia somente 1.596 pandas em ambiente selvagem, mas os esforços começaram a surtir efeito.

Desde os anos 1980, o governo chinês aumentou os esforços e investiu na conservação dos pandas. A grande maioria de pandas cativos ainda vive na China – somente 50 vivem fora do país – e agora cerca de 65% do habitat selvagem dos pandas é protegido pelo governo chinês (embora seja somente um pedaço do território que as espécies já ocuparam). Ano passado, aprendemos que a população selvagem cresceu 17% na última década. Há debates sobre a melhor forma de estimar as populações dos pandas, bem como medir amostras de fezes ou rastrear o DNA, mas os cientistas concordam que não importa que instrumentos são utilizados nos registros, a população selvagem parece estar crescendo.

Ainda assim, nem todos se impressionam pelo sucesso no esforço global de preservação dos pandas. Um motivo: embora o governo chinês tenha investido significativamente na causa, ela também se beneficiou grandemente dela.

Os pandas são um grande negócio na China, a proprietária de todos do mundo. Os zoológicos fora do país podem somente emprestar pandas e isso não sai nada barato. Cada zoológico negocia seus próprios contratos. As taxas variam. O Zoológico de Edimburgo paga cerca de 850.000 dólares ao ano para o governo chinês em troca do seu casal de pandas, enquanto o Museu Nacional em Washington, DC, nos Estados Unidos, desembolsa cerca de 500.000 dólares ao ano por seus quatro ursos, de acordo com um porta-voz. Em todos os lugares, casais da pandas podem custar até 200.000 dólares ao ano por cada filhote que nascer. Ah, e esses filhotes devem ser devolvidos para a China assim que completarem quatro anos.

Bao Bao, nascido em cativeiro no Zoológico Nacional, ganhou um “bolo” de frutas e gelo para celebrar seu aniversário de dois anos. Ela será enviada à China para procriar. Crédito: Jim e Pam Jenkins/Museu Nacional Smithsonian.

“Agora a China tem um serviço de empréstimo bastante rentável para os pandas ao redor do mundo”, afirmou Ernest Small, um pesquisador junto ao governo canadense que já publicou sobre a priorização da preservação. “Eles estão explorando esse sistema ao máximo e devemos admirá-los por isso, mas não é tão realista pensar em preservá-los no ambiente selvagem fora de reservas menores.”

As taxas pagas pelos zoológicos estrangeiros servem para apoiar a continuidade dos esforços de preservação dos pandas, mas isso nem sempre foi monitorado. Em 1998, uma ação judicial contra o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos em razão da criação de pandas em idade de procriação levou ao desenvolvimento de uma política federal que ditou políticas estritas para os zoológicos que desejam abrigar pandas. O zoológico deve provar que uma porção significativa das taxas pagas à China irão beneficiar a preservação dos pandas, bem como mostrar participação ativa na pesquisa para o avanço da procriação em cativeiro, preservação do habitat e reintrodução no ambiente selvagem.

Mas, mesmo com as políticas rígidas destinadas aos pandas, nem todo dinheiro proveniente dos zoológicos para o empréstimo de pandas é destinado à preservação. Muitos fundos levantados para os pandas também são consumidos pelos custos de manter os pandas nos zoológicos, o que pode somar mais de um milhão de dólares ao ano – o Zoológico Nacional gasta 3,6 milhões anualmente em seu programa de pandas. Esses dólares, e mesmo o dinheiro investido na conservação, argumentam alguns, poderia ser usado em melhor proveito.

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Desde que fomos surpreendidos por Mei-Mei e Mei-Ian, o primeiro casal de pandas criados nos EUA, nos anos 1940, nós nos impressionamos com a aparente inaptidão do panda gigante na cama. Ficamos impressionados com a janela reprodutiva limitada da panda fêmea – elas conseguem conceber somente uma vez ao ano, por um período de 30 a 48 horas. Aprendemos que as pandas fêmeas podem ter gravidez falsa. Assistimos a vários casais de pandas não conseguirem nada e brigarem em vez de copular. Muita criação em cativeiro é feita por meio de inseminação artificial e, desde então, vimos muitas mortes de filhotes recém-nascidos.

Os filhotes recém-nascidos são muito frágeis, como este filhote, de uma dupla nascida ano passado no zoológico nacional. Um deles morreu com uma semana, mas o outro sobreviveu. Crédito: Pamela Baker-Masson/Museu Nacional Smithsonian.

Nesse contexto, parece que os pandas são reprodutores horríveis. É por isso que muitos dissidentes argumentam que sequer deveríamos nos aborrecer tentando preservá-los.

“Seus hábitos reprodutivos não sugerem uma espécie cheia de vitalidade”, escreveu o jornalista Timothy Lavin em uma coluna na Bloomberg intitulada “Por que odeio os pandas, e você também deveria”. “As fêmeas ovulam somente durante alguns dias por ano e, se uma mãe consegue ter mais de um filhote, ela abandona a criaturinha. Tudo bem; a natureza é bruta. Mas nós não lamentamos quando uma espécie com esse tipo de hábito entra em declínio.”

O problema desse argumento é que ele está baseado em uma compreensão equivocada, de acordo com David Wildt, diretor do Centro para Sobrevivência das Espécies do SCBI. Se os pandas são reprodutores tão ruins assim, seria improvável que a espécie sobrevivesse até o tempo em que os humanos começaram a destruir seu habitat. No ambiente selvagem, os pandas não lutam para se reproduzir.

A dificuldade com a reprodução natural em cativeiro é que estamos limitados a somente dois animais e não é assim que a natureza funciona. No ambiente selvagem, uma panda fêmea vai atrair muitos machos, que lutarão por uma chance de acasalar com ela. Além disso, ela pode acasalar com vários parceiros em um período de ovulação, explicou Wildt.

“Esse conceito de que eles são becos sem saída evolutivos é uma falácia”, falou. “Eles sobrevivem mesmo sendo receptivos sexualmente por 72 horas ao ano. Sou um biólogo reprodutor. Faço isso desde 1972. Desconheço outro animal que se reproduza dessa forma. Então acho que eles são perfeitamente bem-sucedidos porque devotam pouca energia ao sexo, mas quando procriam, eles não só têm um filhote, como muitas vezes têm gêmeos.”

Sua libido desinteressante não é a única crítica direcionada aos pandas. Muitos preservadores questionam se todo esse empenho acaba sendo em vão quando consideramos o quanto do habitat do panda diminuiu. Mesmo com a dedicação da China em preservar as áreas, o habitat da espécie é somente uma sombra daquilo que já foi um dia. Hoje os pandas selvagens estão limitados a 20 porções de floresta de bambu espalhadas por seis montanhas nas províncias chinesas de Sichuan, Shaanxi e Gansu. Esses pequenos grupos de pandas são compostos por cerca de 50 ursos, extremamente vulneráveis aos estressores ambientais como o desaparecimento de bambus que ocorre periodicamente. E como os habitats não estão conectados, essas populações não conseguem se misturar.

Mesmo se o panda tivesse um habitat restaurado muito maior, parte do objetivo da reprodução em cativeiro é reintroduzi-lo ao ambiente selvagem, um esforço que tem sido mais ou menos bem-sucedido até então. Em 2006, a China soltou um panda gigante nascido em cativeiro de volta à natureza e o viu morrer um ano mais tarde depois de ter caído de uma árvore na primeira tentativa de reintroduzir um panda do cativeiro. Tentativas futuras precisarão acontecer em áreas que não sejam território dos ursos selvagens. Para que isso aconteça, mais habitats precisam ser criados, e essas ilhas de florestas de bambus precisam estar conectadas. É o que eles estão tentando fazer. Os preservadores estão pesquisando possíveis corredores que possam ser protegidos para unir as reservas de pandas espalhadas, expandindo as áreas e fornecendo mais opções para soltar os ursos criados em cativeiro.

Ainda assim, todas as perspectivas otimistas do mundo não são suficientes para que alguns céticos questionem se as décadas de pesquisa e centenas de milhares de dólares valem a pena para salvar uma espécie cuja população permanece em menos de 2.000. Isso levanta a pergunta: será que as últimas quatro décadas e pilhas de dinheiro valeram a pena por causa de alguns milhares de ursos?

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“Talvez se pegássemos todo o dinheiro gasto com os pandas e simplesmente comprássemos florestas tropicais, estivéssemos fazendo um trabalho melhor”, escreveu o jornalista Chris Peckham em uma coluna do The Guardian. “Não estou querendo brincar de ser Deus; estou fazendo o papel do contador de Deus. Estou dizendo que não seremos capazes de salvar todos, então vamos fazer o melhor que pudermos.”

Em seu argumento, Peckham está fugindo do cerne da questão. Apesar de toda a ladainha sobre os hábitos de reprodução e tentativas de reintrodução falhas, o debate verdadeiro orbita em torno de uma questão de estratégia de preservação. Em um cenário ideal, podemos proteger todas as espécies em perigo de extinção. Em um cenário um pouquinho menos ideal, poderíamos abordar o problema de forma econômica: com o que teremos o melhor custo-benefício?

“Trata-se do benefício dividido pelo custo, que é o que fazemos quando compramos arroz”, afirmou Hugh Possingham, professor de matemática e ecologista da Universidade de Queensland, na Austrália. “É tão profundo quanto a matemática da terceira série.”

Possingham ajudou a criar uma abordagem matemática para a distribuição de fundos de preservação que calcula os benefícios, os custos e a probabilidade de sucesso na preservação de espécies diferentes ao mesmo tempo que permite à calculadora pesar os benefícios. Uma espécie pode ser considerada benéfica porque se trata de um elemento importante no ecossistema local ou porque é um polinizador em troca de alimento ou ainda porque é a última de seu gênero.

Essa abordagem foi adotada pelo departamento de preservação da Nova Zelândia para cuidar de sua lista de 700 espécies em risco e se mostrou extremamente eficaz. A Nova Zelândia estima que é possível proteger 2,5 vezes mais espécies de uma vez do que antigamente, Possingham afirmou. Essa estratégia lógica ainda não é utilizada em larga escala, mas está ganhando cada vez mais atenção, especialmente dos políticos que buscam equilibrar orçamentos. O Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos iniciou recentemente uma investigação sobre a ideia.

Há poucas evidências de que essas espécies receberão qualquer tipo de atenção se o panda for extinto.

Mas não importa o quão racional seja a abordagem. Quando se trata de doação dinheiro para esforços de preservação, os humanos são conhecidamente irracionais.

“Quando pensamos no panda, ele é tão absolutamente representativo, tem todas as características que as pessoas mais gostam assim que os veem”, firmou Small. “Todas as organizações e os preservadores entendem que, na análise final, devemos ter apoio público para angariar fundos dos políticos. No mundo prático, não vejo outra maneira mais eficaz para ganhar a simpatia do público do que a imagem do panda e todos os outros animais icônicos. Eles são absolutamente essenciais.”

Mesmo o esforço de preservação da Nova Zelândia devastou 11 espécies icônicas como a ave quivi. Ainda que se pratique a a prudência, é necessária uma abertura para que os animais capturem nossos corações.

As pessoas amam os pandas, e elas estão dispostas a pagar por isso. É difícil avaliar, mas o panda, sem sombra de dúvidas, atrai mais diretamente os dólares de preservação do que qualquer outra espécie em perigo de extinção. No Zoológico Nacional, ao menos 80% de todos os visitantes vão à exibição do panda, um porta-voz me contou. Um único doador deu 4,5 milhões de dólares no ano passado aos pandas. O WWF, que usa o panda quase exclusivamente em seu marketing, atraiu mais de 98 milhões de dólares em doações individuais no ano passado. E aqueles que não têm dinheiro sobrando, bem, eles doam seu tempo.

“Nós fazemos estudos básicos de comportamento e nossos voluntários registram dados por meio do monitoramento das webcams”, afirmou Laurie Thompson, bióloga de pandas do Zoológico Nacional. “As pessoas amam os pandas, então não é difícil encontrar aqueles que se dispõem a sentar e assisti-los por horas só para vê-los se mexer.”

A realidade um tanto triste é que as pessoas não estão tão dispostas a gastar seu dinheiro e tempo com espécies como o takin. Ele também vive no habitat do panda. Na verdade, o habitat de proteção do panda se sobrepõe a dezenas de outras espécies que também necessitam de proteção, de acordo com um estudo publicado na Conservation Biology no ano passado.

Os autores descobriram que 96% das reservas dos pandas se sobrepõem a áreas de preservação importantes para outras espécies endêmicas – 70% dos mamíferos habitantes das florestas, 70% dos pássaros e 31% dos anfíbios vivem na mesma área dos pandas. Proteger os ursos ajuda a proteger a todos e há poucas evidências de que essas espécies receberão qualquer tipo de atenção se o panda for extinto.

Um takin, uma das espécies que vivem parcialmente no habitat protegido dos pandas. Crédito: Lucy Takakura/Flickr.

“Não há nada a se perder ao se concentrar nos pandas”, McShea me contou. “Então, sim, todos são obcecados com pandas gigantes, mas olhe para todas as outras coisas que vêm junto com eles. Você instala uma reserva para pandas gigantes e há outras 10 espécies grandes vivendo na mesma reserva que agora recebe a proteção que deveriam ter recebido mesmo sem o panda gigante. Vejo o panda gigante como o primeiro passo no desenvolvimento de uma ética de preservação e um sentido de biodiversidade e de preservação da natureza.”

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Em dezembro do ano passado, um filhote de panda de cinco meses chamado de Bei Bei fez sua estreia na mídia. Os repórteres se aglomeraram ao redor dele, tiraram fotos e trocaram filmes enquanto um cuidador ninou a bola de pelos nos braços e o colocou em cima de uma mesa. O bichinho imediatamente pegou no sono.

É claro que não importa. Um bebê panda dormindo é tão fofo quanto um panda brincando de rolar ou comendo. A estreia – que consistiu em um período curto de perguntas e respostas com Thompson, a pesagem do bicho e a soneca – foi coberta por diversos veículos midiáticos.

É compreensível por que os preservadores ficam frustrados com a nossa obsessão pelos pandas. Há muitas espécies sendo negligenciadas e desaparecendo debaixo de nosso nariz. A natureza é brutal e as espécies aparecem e desaparecem por meio da história do planeta sem que a culpa seja dos humanos. Entretanto, muitos pesquisadores acreditam que estamos no meio de um evento de extinção em massa no qual vemos as espécies sumir 50 vezes mais rápido do que a taxa de extinção normal. Por que estamos perdendo tanto tempo com um urso gordinho?

Mas aí, quando você olha para os desafios da conservação, o sucesso do programa dos pandas e a devoção total dedicada a esses animais, fica cada vez mais difícil argumentar contra. Se há qualquer espécie neste planeta que devemos ser capazes de salvar, esse animal é o panda. Se não conseguimos restabelecer uma espécie amada em todo o planeta, então não há muita esperança para os takins da Terra.

Tradução: Amanda Guizzo Zampieri