Esta matéria foi originalmente publicada no Tonic.
Bob Marley sabia do que estava falando com aquela coisa de “quando [a música] toca, você não sente dor”. O cérebro parece processar a música do mesmo jeito que processa narcóticos analgésicos, segundo uma nova pesquisa da McGill University em Montreal, no Canadá.
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O estudo, publicado no jornal Scientific Reports, examinou o prazer dos participantes no experimento com sua música favorita, uma vez depois de tomarem o bloqueador de opioides naltrexona e uma vez depois de tomar um placebo. Os pesquisadores usaram medição de movimentos musculares e autorrelatórios para verificar o deleite dos pacientes com a música. Por margens estatísticas significativas, os participantes sentiam menos prazer com a música tomando a naltrexona, uma droga que fecha os receptores de opioides do cérebro e é prescrita para viciados em drogas.
“O sistema opioide é um grande ponto de interrogação”, disse Daniel Levitin, um dos autores do estudo e escritor do livro This Is Your Brain on Music. “Sabíamos por estudos com animais que algumas áreas do cérebro afetadas por opioides também eram afetadas por comida e sexo… Não sabíamos muito sobre música porque animais não apreciam música.”
Levitin disse que a inspiração para o estudo veio de uma conversa com Paul Simon. (Sim, ele disse que “conversa regularmente” com o Paul Simon.) Pesquisas anteriores sobre cérebro e música mediam a reação dos pacientes em relação às músicas escolhidas pelos pesquisadores. Mas o que constitui música prazerosa é altamente subjetivo (o que todo mundo que já viajou de carro com o tio fã de flauta peruana sabe bem). Simon sugeriu ver como uma pessoa reagia à sua música favorita. Levitin viu isso como um jeito de ganhar o “controle emocional” fazendo os participantes reagirem a músicas escolhidas pelos pesquisadores, que podem não causar reação nenhuma dependendo da pessoa.
Os 17 participantes, como descrito no estudo, “trouxeram ao laboratório duas gravações musicais que provocavam sensações intensas neles, incluindo, mas não apenas, a sensação de arrepio”. As seleções incluíam “Lonely Boy” do Black Keys, “Primavera” do Santana, “Creep” do Radiohead, “Turn Me On” do David Guetta com participação de Nicki Minaj, “Comfortably Numb” do Pink Floyd e As Bodas de Fígaro de Mozart.
Levitin não ficou surpreso que algumas escolhas fossem deprês. “Muita gente sente prazer com músicas tristes”, ele disse. “Quando ouvimos uma música triste, o cérebro libera o neuroquímico prolactina, o mesmo conforto químico que uma mãe libera quando está ninando o filho. Encontramos isso na mãe e na criança [durante a amamentação]. Quando você se sente triste, esse químico é liberado para te mostrar que não estamos sozinhos.”
Os pacientes receberam fones e os pesquisadores mediram seus movimentos involuntários. Os participantes também controlavam uma escala deslisável onde marcavam quanto se sentiam envolvidos com a música de um momento para o outro. A escala ia de 0 a 100 – 0 provavelmente representando o que uma pessoa sente ouvindo soft jazz numa churrascaria, e 100 algo como colocar uma fita cassete do Queen no rádio do Garthmóvel.
Mesmo não sabendo quando tinham realmente tomado a naltrexona, os participantes curtiam muito menos a música quando estavam sob efeito da droga. O estudo concluiu que “a música usa os mesmos caminhos de recompensa que comida, drogas e prazer sexual” – o que pode explicar cientificamente por que sexo, drogas e rock ‘n’ roll é uma combinação tão massa.
Tradução: Marina Schnoor