Drogas

Fumar erva foi a única coisa que tornou 2016 suportável

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

O ano de 2016 foi assombrado pela morte – de lendas da música, atletas, actores, actrizes e astronautas, mas também de qualquer decência que os sistemas políticos ainda poderiam ter. Qualquer que seja o caminho que o mundo está a seguir, parece que não é o mais correcto. À medida que o tempo prossegue a sua marcha imparável, os trabalhadores fabris vão ser substituídos por robots e, eventualmente, também os condutores dos carros que eles constroem.

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As máquinas vão, cada vez mais, matar por nós e os algoritmos das redes sociais vão continuar a separar-nos e a colocar-nos em compartimentos ideológicos, de forma a que continuemos a crescer afastados dos outros seres humanos. Por todo o Mundo, a resposta à trituradora a que chamamos progresso tem sido, cada vez mais, abraçarmos a doutrina de políticos  que apregoam o racismo puro e duro. E o nível dos oceanos continua a subir. 

Portanto, isto pode parecer incrivelmente insignificante no esquema geral das coisas, mas, depois de ter voltado a fumar marijuana há cerca de dois meses, descobri que a tecnologia da erva tornou-se muito, muito, boa. 2016 foi um ano terrível para tudo, excepto para a canábis. Esta é, absolutamente, a melhor altura de sempre para fumar ou consumir erva.

Quando fumei pela primeira vez, no ensino secundário, foi através de um cachimbo improvisado numa lata de alumínio e nem sequer bateu. Por qualquer razão obscura que a memória se encarregou de enterrar, insisti até que alguma coisa acabou por acontecer e me fui transformando numa caricatura embaraçosa de uma estudante suburbana do secundário, que ostensivamente ouvia em repeat a sua cópia de Legend, de Bob Marley, comprada na Target. No entanto, durante muito tempo, fumar erva não foi para mim uma experiência assim tão fascinante. 

Agora, as coisas são diferentes. Fumar marijuana na idade adulta e com rendimentos fixos, é tão espectacular que até estou um bocado chateada que ninguém me tenha dito antes. Bem sei que não é novidade para ninguém – só o facto de estar a escrever isto faz-me sentir muito, muito velha e desligada do Mundo, como uma mãe que acaba de entrar na cena da Guerra dos Tronos – mas, num ano, que foi tão terrível, monstruosamente merdoso até, não é aceitável que celebremos as coisas mais pequeninas? Especialmente quando essas coisas mais pequeninas, nos podem ajudar a esquecer as terríveis coisas maiores?

“Os métodos para fumar são agora, para meu deleite, absolutamente fantásticos”.

Seria negligente da minha parte não assumir o facto de que, muitos dos avanços no consumo de erva, contribuem para o enriquecimento dos empresários brancos que gerem os negócios e servem, principalmente, clientes (brancos) de classe alta. Em 2015, o número de detenções na minha cidade de Nova Iorque relacionadas com posse de pequenas quantidades de marijuana baixou drasticamente, embora a tendência não se tenha aplicado às minorias, que continuam a ser presas por questões relacionadas com drogas em números vergonhosamente desproporcionais.  

No entanto, pondo tudo isto de lado por uns instantes, é impossível não vermos que estamos a viver uma época dourada para a canábis. A erva está a ser legalizada em cada vez mais sítios. Em Denver até se pode fumar em bares. Na verdade, é tão fácil comprar marijuana tão incrivelmente boa, que algumas pessoas por vezes até preferem alguma de menor qualidade. Até os serviços de entrega proliferaram

Os métodos para fumar são agora, para meu deleite, absolutamente fantásticos. Apaixonei-me por um vaporizador portátil chamado Summit, da Vapium. Enviaram-me um em Setembro, sem que o tivesse pedido, presumivelmente na esperança de que escrevesse sobre o produto e, cá estou eu, a escrever sobre ele agora, porque, efectivamente, gostei muito. É óptimo para pessoas que gostam de andar por aí a apanhar mocas em público, sem os constrangimentos de ficar tudo a olhar para elas. Em poucas semanas, passei de fumar às escondidas em becos escuros, a fumar com confiança enquanto caminho rua abaixo, ou até mesmo a carregar a bateria do vaporizador em restaurantes, ou a utilizá-lo dentro de um Starbucks.

Infelizmente, receber um vaporizador é como receber uma Xbox, ou um cachorrinho: sentes a necessidade de usar o teu novo brinquedo e, com isso gastar dinheiro, tal como farias em comida gourmet para o teu cão, ou em compras mensais para a tua consola. No meu caso, larguei cerca de mil dólares em erva antes de me esquecer do meu Summit num restaurante de tacos, cujo co-proprietário é nem mais nem menos que o Michael Cera. :(

O bom disto tudo é que durante a maior parte da época eleitoral andei um bocado nas nuvens e isso não tem preço. Os últimos meses deste ano de lixo foram, claramente, os piores imagináveis, mas para mim, pessoalmente, foram os melhores, porque tudo começou a fazer mais sentido. Feliz 2017 para todos.

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