Saúde

No interior da “Cidade das Moscas” em Madagáscar

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

A maioria das cidades e vilas de Madagáscar conseguiu conter o surto de peste pneumónica (uma das três formas conhecidas de peste negra) que ameaçou espalhar-se naquele país africano em 2015. No entanto, as cerca de três mil pessoas que vivem numa lixeira nos arredores da capital, Antananarivo, estão ainda em contacto directo com a doença. 

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Os habitantes de “Ralalitra” (a “Cidade das Moscas”) passam os dias a vasculhar entre montes de detritos, ratos e até cadáveres. A empresa privada contratada pelo governo para gerir o complexo, a SAMVA, nega a existência destes “moradores” e ameaça regularmente os fotógrafos e jornalistas que tentam documentar a vida em “Ralalitra”.

Alguns moradores da lixeira tiveram a sorte de conseguirem trabalho na mina de pórfiro ali próxima. Trabalham agora 10 horas por dia e ganham menos que aquilo que conseguiam a vasculhar no lixo. No entanto, dizem, a dignidade tem o seu preço. Dali conseguem ainda ver o fumo da lixeira (na ponta do arco-íris). Um lembrete constante de outra vida e que os inspira a trabalharem ainda com mais afinco e sem se queixarem.

Um homem protege-se do fumo, sentando no muro de um cemitério em Akamasoa, um bairro fundado por pessoas que costumavam trabalhar na lixeira. Um médico que faz trabalho voluntário no local reportou vários casos de peste pneumónica, devido ao nevoeiro tóxico.

O fogo arde sem parar por entre as colinas de lixo, que podem ultrapassar os 15 metros de altura. A paisagem artificial está constantemente submersa numa névoa tóxica. As crianças que por aqui andam não podem permanecer muito tempo, já que com o calor o calçado pode derreter.

No coração da lixeira podem ver-se muitas pequenas lápides que assinalam os locais onde foram enterrados fetos e bebés não desejados. Os que conseguem sobreviver, acabam por viver permanentemente na lixeira, numa comunidade de crianças orfãs. Os mais velhos tomam conta dos mais novos e das crianças recém-abandonadas..

Actualmente o local é habitado por cerca de três mil pessoas que se dedicam à recolha de plástico e metais (vendidos por cerca de 0,45€/Kg). Muitos chegaram a Antananarivo na esperança de encontrarem melhores condições de vida e fazerem fortuna, mas agora vivem no sítio do Planeta onde há mais casos não oficiais de peste pneumónica, o tipo mais infeccioso da chamada peste negra.