Ahhhh, 2015! Tempos mais simples. Nem o mais pessimista dos oráculos seria capaz de adivinhar por quais becos enveredaríamos nos anos seguintes. 2015 foi o ano em que a banda natalense Talude lançou Sorry the Trouble, um debut de longas faixas e sonoridades um tanto suspensas. Junto às letras, em sua maioria em inglês ou ausentes, e a produção um tanto atmosférica, a audição do disco dava a impressão de pairar um tanto distante dos ouvidos — como se Sorry the Trouble fosse um soco que erra seu rosto por alguns milímetros. Num bom sentido
2016, como para o resto do mundo, foi um ano de grandes mudanças para a Talude: em turnê com o Sorry the Trouble pelo país, a banda teve oportunidade de assistir outros grandes shows, conhecer muitas pessoas e trabalhar em algumas faixas de outras maneiras, incorporando samples e sintetizadores nas apresentações ao vivo do disco. De volta pra casa, a atividade de compôr tomou novos contornos para o grupo.
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“2016 e 2017 estão sendo anos muito intensos e carregados de certa forma, tanto num contexto geral da sociedade como individualmente”, conta Victor Romero (guitarra e vocais). O resultado dessa intensidade já se mostrou em “Ruptura”, single lançado pelo grupo no final do ano passado, e dá as caras completamente no EP Fragmento.
Com cinco “breves” faixas (a mais longa com quase oito minutos), Fragmento é um trabalho muito mais conciso e, principalmente, direto que seu antecessor. Sem deixar o post-rock que os inspirou inicialmente de lado, o grupo investe em riffs mais pesados e emprestados de um rock mais sujo. “Rolou tanto por causa das nossas influências como também pelo que sentimos quando criamos as músicas”, diz Victor, que explica que o processo de composição da Talude se dá todo em conjunto. “Isso acaba repercutindo nas letras também, que agora passam a expressar essa tensão de maneira incisiva.”
Agora cantadas inteiramente em português, as letras do grupo são escritas em pequenas e expressivas frases, mas, segundo Victor, não trazem nenhuma unidade entre si. “O fio condutor é mais o que a gente sentia individual ou coletivamente naquele momento”, diz. “Nunca escrevemos letras com uma intenção específica de início, é sempre algo que vem depois.”
O guitarrista comenta que planos de um segundo disco já rodeiam o Talude, mas, por enquanto, Fragmento preenche a necessidade que o grupo sentiu de fazer um lançamento em 2017. “Estas cinco músicas são bem diferentes do Sorry the Trouble e de outros lançamentos nossos, é o Fragmento disso tudo que sentimos e vivemos”, como consta no Bandcamp da banda.
Ouça Fragmento, que sai pelo selo natalense Sopro Movimento: