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Sem grana para transporte, funcionários da Amazon acampam ao lado do trabalho

Na Escócia, operários da Amazon tem dormido em barracas próximas aos maiores depósitos da empresa por não terem dinheiro para bancar o transporte até o trabalho, de acordo com informações do jornal escocês The Courier .

A companhia mantém um de seus gigantescos depósitos próximo da cidade escocesa de Dunfermline. De acordo com o The Courier, pelo menos três barracas foram avistadas na área arborizada próxima ao local. A equipe do jornal conversou com um dos trabalhadores no local, que quis permanecer anônimo. O operário comentou que não tem como pagar o transporte de Perth, onde mora, até o trabalho – uma viagem de ida e volta que esbarra na casa dos 100 quilômetros e que pode demorar 30 minutos de carro ou uma hora de trem.

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Por mais que a Amazon pague aos seus funcionários escoceses um salário acima do mínimo britânico, seus turnos podem chegar a 60 horas semanais. A empresa também oferece transporte para os funcionários ao custo de até 10 libras diárias, valor que supera o pagamento inicial destes trabalhadores, de 7,35 libras por hora.

O depósito, um de outros 12 no Reino Unido, tem 1.500 funcionários fixos, mas um aumento na demanda na época do Natal e Ano Novo leva à adição de até 3.000 temporários. O incidente nos dá algumas informações sobre a cadeia de suprimentos e mão-de-obra oculta envolvida na indústria das compras online, especialmente em épocas de maior atividade.

“A intensidade do trabalho significa que as pessoas estão apenas trabalhando, comendo e dormindo.”

O líder liberal-democrata escocês Willie Rennie, que já criticou as operações da Amazon na Escócia anteriormente, disse ao Motherboard via e-mail que, por mais que o The Courier só tenha conseguido identificar um funcionário da Amazon em uma das barracas, a questão se relaciona a um problema maior dentro da empresa.

“Os salários são muito baixos, o que significa que as pessoas são levadas a viverem dessa forma para que o trabalho compense. A intensidade do trabalho significa que as pessoas estão apenas trabalhando, comendo e dormindo”, disse.

Perguntamos a Rennie se os trabalhadores optarem por dormirem em barracas era questão de baixos salários ou horas excessivas de trabalho, e ele respondeu “É um pouco de ambos. São turnos longos, salários baixos e trabalho intenso. Espera-se que eles caminhem meia maratona diária. Essa gente trabalha até cair.”

Não é a primeira vez que a Amazon se queima por causa de suas práticas empregatícias. Em 2015, um famoso artigo do New York Times caiu matando em cima da política de escritório da empresa e, neste último final de semana, uma investigação do jornal britânico The Times mostrou como os funcionários dos armazéns da empresa são ameaçados com demissões caso faltem um dia de trabalho por doença, mesmo com atestado médico.

A investigação trouxe à tona o caso de um funcionário de Dunfermline que passou três dias no hospital com uma infecção renal e, mesmo com atestado, foi penalizado. “A jornalista disfarçada recebeu 7,35 libras por hora por meio de uma agência que terceirizava funcionários para a Amazon, mas no final recebia abaixo do salário-mínimo por causa das 10 libras diárias gastas com transporte no ônibus da empresa, que a levava até o depósito, a mais de 100 quilômetros de sua casa em Glasgow”, consta no texto do The Times. “Espera-se que os trabalhadores andem mais de 16 quilômetros por dia no depósito coletando itens, mas os bebedouros do local que deveriam garantir sua hidratação estavam vazios na maior parte do tempo”.

Os sindicalistas da GMB também criticaram a Amazon, argumentando que seus funcionários são forçados a “agirem como robôs da Amazon pouco acima da média”.

Em declaração enviada por e-mail, a Amazon UK disse ao Motherboard que “fornece um local de trabalho positivo e seguro. A segurança e o bem-estar de nossos funcionários permanentes e temporários é nossa prioridade”.

A empresa disse ainda se orgulhar da criação de milhares de empregos permanentes em depósito espalhados pelo Reino Unido nos últimos cinco anos. “Oferecemos salários competitivos – todos nossos funcionários, fixos e temporários, começam recebendo 7,35 libras por hora independente de sua idade e 11 libras por hora ou mais por horas-extras”. O salário-mínimo na Inglaterra é de 7,20 libras por hora para pessoas acima de 25 anos.

Tradução: Thiago “Índio” Silva